No sábado de manhã estávamos de partida para Udawalawe. Esperava-nos uma viagem de algumas horas em que a meio teríamos de trocar para outro autocarro. O primeiro que apanhámos ia cheio, não havia sítio para sentar. Cerca de 30 minutos da viagem ainda foi feita de pé. Fui junto à porta de trás do autocarro, que ia aberta por causa do calor e para deixar entrar mais facilmente os passageiros. Nunca me agarrei com tanta força aos suportes de um autocarro. Cada vez que olhava lá para fora só via uma ravina enorme e a estrada cheia de curvas. É verdade que o condutor se controlou um pouco e abrandou a velocidade aqui, mas mesmo assim não consegui deixar de me agarrar como se a minha vida dependesse disso (pensando bem, se calhar dependia mesmo).

Ao fim de 30 minutos alguns passageiros começam a sair e apareceram os primeiros a lugares vagos. O assistente do condutor dá-me indicação para que me sente. Não sabia bem como, já que o lugar livre estava ao pé da janela e para chegar lá teria de passar por cima de outros 2 passageiros num espaço muito apertado. Eu bem que dizia que não conseguia passar mas o tipo insistia comigo para eu me sentar e os passageiros afastavam um bocadinho as pernitas para o lado (como se isso ajudasse alguma coisa). Lá avancei. Uma perna no meio deles, um roçar de rabo na cara do outro, e lá me sentei no meu lugar. Pronto. Afinal não foi assim tão complicado.

Passada 1 hora o autocarro chegava finalmente a Thanamalvila onde teríamos de sair para seguir para a última parte da viagem. Enquanto nos tira as malas da bagageira, o tipo do autocarro aconselha-nos a apanhar um tuk tuk. Diz que é mais rápido do que o autocarro. Supostamente o tuk tuk levaria apenas 45 min, enquanto que o autocarro normalmente vinha cheio e demorava umas 2 horas a chegar ao destino. Depois remata com um “tenho um amigo com um tuk tuk, são só 1500 rupias”. Pois, estamos a ver. Obrigada mas vamos de autocarro mesmo.

15 minutos depois, sem saber bem onde era a estação, vemos o autocarro com destino a Colombo a passar. Corremos para apanhá-lo e lá conseguimos seguir então em direcção à Udawalawe. Na verdade o autocarro vinha quase vazio, demorou apenas 30 minutos a chegar e em vez de 1500 rupias, custou-nos 65.

No caminho ainda iniciei uma conversa (ou tentativa de) com o rapaz cingalês que ia ao meu lado. Ele perguntava-me, num inglês muito arranhado, se eu ia ver os elefantes. “Sim, sim, vou”, dizia eu, “e leopardos existem aqui?”. Ele abanava a cabeça com um ar muito confuso com cara de quem não estava a perceber nada. Eu voltava a repetir, desta vez com sotaque diferente “Léopard! Há léopards aqui?”. Em troca recebi o mesmo olhar confuso. Ainda tentei um “big cats!”. Aí ele desistiu, e decidiu olhar pela janela. Pronto, ok, tentámos pelo menos.

Udawalawe é uma cidadezinha pequena, concentrada essencialmente à volta de uma estrada principal. Somos deixados nessa estrada e daí partimos em busca da nossa guesthouse, de gps na mão. Após uma caminhada de quase 2 kms lá encontrámos o Silent Bungalow, no meio de uma vegetação densa. Rapidamente descobri que fazia jus ao nome. Os únicos barulhos que se ouviam eram os dos inúmeros tipos de pássaros que ali habitavam, do galo que por ali andava e de todos os outros tipos de vida animal que ali existem.

Udawalawe
Udawalawe Udawalawe créditos: Joland

Conseguimos marcar o Safari no Parque Natural directamente na guesthouse. Eles têm os seus próprios Jeeps. No dia seguinte, às 06h da manha estaríamos de partida para o parque num Jeep dividido com mais 2 hóspedes.

Mas ainda conseguimos aproveitar esse dia. À tarde fomos até ao Elephant Transit Center. Este centro acolhe actualmente cerca de 50 elefantes bebés órfãos e toma conta deles até aos seus 5 anos, altura em que terão idade suficiente para serem totalmente libertados no Parque. São alimentados 3 vezes por dia com leite pelos tratadores, no resto do dia andam em liberdade num espaço na selva junto ao centro. Os visitantes podem observar o momento da alimentação à distância, num espaço próprio. Não há qualquer contacto com os animais. E isto agradou-me muito. É uma forma de termos contacto com eles de maneira responsável.

Elefantes bebés
Elefantes bebés Elefantes bebés créditos: Joland

A experiência no Parque no dia seguinte foi única. Elefantes, crocodilos, iguanas, chacais, veados, pavões, inúmeros tipos de aves, búfalos, mangustos… Dizem que o Parque Natural de Yala tem uma maior variedade de espécies animais, mas aqui no Udawalawe, tendo em conta que a área é mais pequena, existe uma maior probabilidade de os podermos avistar. Saí de lá de “barriga” cheia. Cada vez que via um animal do Jeep ficava tão entusiasmada como uma criança de 10 anos. Que experiência fantástica.

Após 4 horas regressávamos à guesthouse de onde sairíamos pouco depois do pequeno almoço rumo à estrada principal para apanharmos mais um autocarro para o próximo destino: Mirissa, na costa sul do Sri Lanka.

Não é de Mirissa que vos escrevo agora mas sim da praia de Kabalana enquanto esperamos por umas noodles de galinha, numa esplanada directamente sobre a praia. A vida podia ser sempre assim. Não me importava mesmo nada.

Até já!