A torre foi concebida como um testemunho da resiliência de Nova Iorque, uma visão para o futuro apesar da tragédia, explica Kenneth Lewis, um dos arquitetos do estúdio SOM, que constrói arranha-céus em todo o mundo.
Embora as imagens das Torres Gémeas em chamas tenham sido trágicas, ninguém questionou a ideia de erguer outro arranha-céu no lugar. Para os arquitetos foi a oportunidade de concretizar conceitos com que sonhavam há anos.
"Era o começo do milénio, era preciso encarnar uma nova geração de edifícios, tanto em termos de segurança quanto de impacto para o meio ambiente", diz Lewis.
"Blindar o coração"
As imagens de pessoas a saltar no vazio para escapar do fogo estão entre as mais terríveis do 11/09.
Após os atentados, houve muitas discussões sobre como retirar as pessoas além das escadas. Discutiu-se sobre uma espécie de cabo ao qual as pessoas se prenderiam antes de saltar ou uma espécie de canal gigante pelo qual as pessoas poderiam deslizar, lembra o arquiteto.
Um paraquedista fez uma demonstração do cabo. "Realmente dava medo. Era inimaginável que alguém com algum sobrepeso ou um pouco receoso saltasse pela janela", diz.
Por fim, a única solução foi "blindar o coração do edifício com cimento reforçado e fazê-lo suficientemente amplo para que as pessoas possam sair por ali".
Muitas novas normas de segurança estrearam no "One WTC" e depois tornaram-se padrão. Por exemplo, a ampliação das caixas das escadas para permitir uma evacuação rápida desta torre de 94 andares ou a instalação de um sinal luminoso no chão como o dos aviões.
Também foram instaladas câmaras e ferramentas de comunicação resistentes ao fogo em cada andar para permitir aos socorristas acompanhar a situação a todo momento.
O objetivo final, segundo Lewis, é "evacuar todo o edifício em no máximo uma hora".
Os bombeiros foram convidados às reuniões de trabalho. "Tinham sofrido um trauma tão grande que deviam fazer parte da solução", diz Lewis.
Foram eles, sobretudo, os que exigiram um sistema de resgate capaz de mitigar uma falha nos geradores, como ocorreu a 11 de setembro de 2001, a fim de manter a eletricidade pelo maior tempo possível para evacuar o prédio.
Um incêndio não era a única inquietação. No outono de 2001 houve várias cartas anónimas com antraz enviadas a alguns meios de comunicação e cinco mortes vinculadas a este veneno mortal.
"Começamos a pensar num sistema de filtros e na qualidade do ar, não só em caso de incêndio, mas também em ataques deste tipo", conta.
"Era preciso identificar todas as ameaças com as quais um edifício deve trabalhar" sem transformá-lo "numa fortaleza à qual ninguém quer vir trabalhar".
"Bem-estar"
Quase 20 anos depois, devido à pandemia do coronavírus e à extensão do trabalho remoto, o One WTC e a maioria dos famosos arranha-céus de Manhattan permaneceram vazios durante meses.
"Pensávamos que as pessoas voltariam aos escritórios muito mais rápido", admite Lewis. "Rapidamente verificamos a filtragem do ar, a sua circulação (...) A maioria dos prédios recentes têm filtros muito eficazes, com partículas que também atuam no vírus".
Embora as torres de escritórios ainda não tenham voltado a suas taxas de ocupação anteriores à pandemia, ninguém põe em dúvida a vigência dos arranha-céus em Nova Iorque.
Uma torre com 600 apartamentos está em construção no Brooklyn e seria em 2022 o primeiro "super-arranha-céu" fora de Manhattan. Cerca de vinte projetos similares estão em gestação em Nova Iorque
À prioridade ambiental, já muito presente, somou-se a de bem-estar, diz Lewis.
"Estamos em 2021, falamos de saúde, de criar espaços externos onde as pessoas possam trabalhar, de terraços como locais de trabalho, de reunião... Estamos realmente em uma interseção de caminhos".
Enquanto isso, o One WTC conquistou um lugar entre as icónicas imagens de Nova Iorque.
Se o Memorial para as Vítimas do 11/9 simboliza "o vazio" provocado pelos atentados, segundo Lewis, a torre "representa o (lado) positivo", "um lugar de inovação e reflexão, portador de conceitos modernos de segurança".
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