A viagem não foi inteiramente pacífica. A certa altura, lá fora a noite já escura, o autocarro vai-se abaixo a meio de uma subida por uma estrada escura, estreita e cheia de curvas apertadas. As luzes apagam-se, o ar condicionado deixa de funcionar e não se vê praticamente nada para fora. Isto dura cerca de uma hora. Passam por nós outros autocarros de passageiros, camiões… E eu sempre na expectativa de nos pedirem para sair do autocarro e entrar noutro que nos levaria ao nosso destino. O que não acontece. Passado mais algum tempo, o autocarro começa a descair para susto de todos os passageiros (ou meu vá, pronto. Já vos disse que a estrada era escura e apertada, certo?) e o motorista tenta ligá-lo. Após algumas tentativas frustradas, lá arranca e seguimos viagem novamente.

O autocarro chega ao destino por volta das cinco da manhã e somos acordados por uma gravação de um cântico de um monge birmanês que serve de alarme para anunciar a chegada a Bagan.  No céu já se vêem as primeiras linhas de luz a quererem aparecer. Lá fora, na estação, dezenas de taxistas amontoam-se junto aos autocarros nocturnos que chegam, na expectativa de conseguirem o primeiro cliente do dia. Após alguma negociação (sempre a negociação…), arrancamos para a zona de Nyaung U, onde ficava o hotel escolhido para esta estadia. Mas antes de chegarmos ainda houve espaço para mais uma paragem, desta vez para adquirir o bilhete de cinco dias que daria acesso à zona histórica, por 25.000 kyats (cerca de €20). Sem este bilhete não há estrangeiro que entre no perímetro de Bagan.

Os dois primeiros dias foram passados a percorrer os templos da zona de Old Bagan de bicicleta eléctrica. Houve muito que pedalar, já que são milhares de templos espalhados por uma zona extensa. E o que encontrei não desiludiu nem um bocadinho. Encontrei um ambiente místico com uma certa dose de romantismo. Os vários templos - uns maiores outros menores, desgastados pelos milhares de anos de erosão natural - têm uma aura de misticismo e aventura à sua volta. À excepção de alguns templos de maior dimensão, com uma maior afluência de turistas, foi possível visitar vários templos sem praticamente ninguém à volta.

Algo a não perder numa visita a Bagan é o espectáculo natural diário do sol a nascer por trás dos templos, acompanhado pelos vários balões de ar quente que os sobrevoam diariamente. O primeiro passo: saber qual o melhor local para assistir em primeira fila ao espectáculo. A poucos metros do hotel encontrava-se uma das agências de compra de passeios de balão de ar quente. Um passeio no balão estava fora de questão (cerca de $300 por pessoa!!) pelo que só me restava participar como espectadora. De uma extrema simpatia, a senhora que me atendeu deu-me informações sobre o melhor local para assistir à partida dos balões e disse-me a que horas se iniciavam os passeios. Ok, plano delineado. No dia seguinte levantei-me às 5h da manhã, peguei na minha máquina fotográfica, numa mota eléctrica alugada por $8 na noite anterior na loja mesmo em frente ao hotel e segui rumo em direcção ao local recomendado. Ao chegar vejo que no topo do templo (que é preciso subir por umas escadas íngremes) já estavam alguns espectadores, mas ainda há espaço para mim. Sento-me ao lado de um grupo de japoneses. A máquina da japonesa ao meu lado não pára. Provavelmente com receio de perder um segundo que seja do sol a nascer, a japonesa dispara constantemente, quebrando o silêncio de quem, para além de tirar fotografias, também quer registar o momento em silêncio apenas na sua memória. O sol nasceu, mas balões nem vê-los… Parece que terei de regressar um dia para assistir ao espectáculo completo.

No mesmo dia visito um mosteiro e as suas grutas usadas para meditação pelos monges, assisto aos seus rituais e sigo até ao rio onde descanso por alguns minutos sentada nas escadas que dão acesso aos barcos que transportam passageiros para a outra margem. Uma espectadora das rotinas do dia-a-dia de quem tem Bagan como seu lar e Myanmar como seu país.

Os dias passam e chega a hora de partir para o próximo destino: Mandalay. Apanho uma espécie de mini-van que no espaço de 5 horas me leva ao meu destino. O ar condicionado é fraco, as costas colam-se ao assento, mas sobrevivo. O resto fica para a próxima crónica.

Até já!