No primeiro dia o meu impacto com silêncio e confinamento não foram fáceis, mas eram necessários para eu ter saído do Oriente para o Ocidente… outra mulher. É que Nusa Penida foi o último destino oriental em que estive de entre as minhas recentes oito viagens.

No segundo dia, em tempo recorde consegui visitar os principais pontos que deve conhecer na terra musa do Oriente sendo a mais emblemática: Kelingking beach. Se pesquisar no instagram encontrará milhões de fotografias desta praia na perspetiva vista de cima. Todos querem conhecer esta praia que tem uma paisagem apaixonante, mas é perigosa quanto ao caminho e à fúria do mar. Além do desejo de perigo que o pequeno areal e grande mar nos provocam, o que se destaca é o formato do rochedo. Quando o vi e sempre que o revejo nas minhas fotografias, parece que desenharam ali uma enorme baleia a repousar só esperando, um dia, mergulhar de novo. Foi a minha perceção quando cheguei lá e fiquei a mirar, estonteada pela humidade do clima, Kelingking beach.

Além dos rochedos desenhados, tem caminhos fantásticos entre eles e pode percorrê-los até ao fundo. Mas com máxima cautela. São muito bonitos, dão ansiedade para fotografar, mas podem ser muito perigosos. Não fui isso que me parou a vontade, aliás aumentou. O verde que consegue perceber claramente nas imagens é outra das caraterísticas que embeleza este conjunto de rochedos, ao mesmo tempo que os tornam escorregadios. Deitei-me na beira do precipício, antes de iniciar a descida, e deixei que o meu corpo se entregasse àquela paisagem. Eram 7h da manhã e nada me interrompia a vigília naquele momento. Pouco depois os turistas começaram a chegar em catadupa. Lembremo-nos só uma hora antes tinham iniciado as atividades normais, como o caso de se voltar a conectar a eletricidade. Conectar é, aqui, o termo adequado. Pois, ali eu estive desconectada num dia e imediatamente ligada no seguinte. É uma transformação espiritual pela qual sou muito grata, embora na altura não a tivesse digerido de forma tão imediata.

Durante o dia de ‘conexão’ retomada, as tours não se ficaram pela praia lendária, sendo que fomos a sítios como a praia de Billabong e Broken Beach. Pare aqui também um bom tempo (evite entre as 11h e as 12h pois o turismo está a aumentar aqui) para desfrutar e entre quase mar adentro. Vai ter de entrar na piscina natural de uma água indescritível que se enamora e segue rumo com a água profunda do mar. Visto de cima, perceberá que é um círculo lindíssimo azul, resultante de um ‘acidente’ das rochas que ao quebrarem… deixaram este desenho.

Aliás toda a ilha é um desenho místico. Também muitas fotografias povoam o instagram sobre a Broken Beach precisamente por causa desta forma dos rochedos e da piscina natural. Para seguir, caminhando, até ao mar, não descure as dicas do guia pois ele sabe o que deve pisar na piscina e evitando entrar no mar. O nosso guia era extremamente prestável desde as informações até à segurança ininterrupta que tinha connosco. Focando agora a lente nele: era muito descontraído e pontual, empenhado em contar as histórias dos locais, mas de forma diferenciada dos outros guias de Bali. Ele ia contando as curiosidades, mas também querendo saber do Ocidente. Tinha um cariz menos oriental no semblante e nas pulseiras que usava. Reparei, atenta. Se não houvesse ali relógios, a ilha funcionaria igualmente bem. Ele só teve de olhar para o relógio pois foi naquele dia que deixei a Ásia pela última vez antes de novas viagens para o Ocidente e Médio Oriente.

Mas, antes, ainda parei duas vezes para beber coca-cola com um ‘taste’ asiático e tomar um pequeno-almoço. Aliás dois. Nusa Penida despertou-me muito os sentidos, até o paladar. Mas naquela ilha, mais do que noutras que conheço da Indonésia, as pessoas abrem as cafetarias e as lojas paulatinamente e, lá está, sem olharem para o relógio. O sol guia-os plenamente. Tive de esperar que os balineses recuperassem do sono da autorreflexão do dia anterior para poder comer algo entre as tours. Mas nem a fome, calor ou humidade me trava o sabor de viajar e de percorrer caminhos e mares. Depois de tudo, voltei ao pier para depois percorrer novos portos e aeroportos até aterrar em Lisboa. Perdi um casaco, perdi medos, ganhei tanto. Depois de dois dias quase em viagem, quando cá cheguei, o frio era intenso e chorei imenso quando me recordei do silêncio e das praias ‘nervosas’ de Nusa Penida. Quis voltar para lá e nunca mais voltar. Esta ilha tem de estar no seu top 2021!