Os tours saem invariavelmente da Wadi Rum Village, onde deixamos o carro. Às costas, uma mochila com os essenciais, que para uma noite no deserto se traduzem sobretudo por uma muda de roupa bem quente e confortável.

Geologicamente a maior parte do cenário foi construido pela natureza há cerca de 500 milhões de anos, numa altura em que a Jordânia tal como a conhecemos hoje ainda pertencia a África, não existindo o Rift que se aprecia hoje desde Aqaba e que separa este país de Israel e do Egipto. Os penhascos são, por isso, antiquíssimos, encontrando-se em alguns deles inscrições e petroglifos com cerca de 12 mil anos de existência — imagens estas que, ainda hoje em dia, permitem identificar facilmente animais e figuras humanas.

A areia de cor vermelha vai-se entranhando nos sapatos à medida que subo a duna com uma prancha, e solta-se com cada passo dado em direção às rochas que são possíveis de subir. Lá de cima, a vista é ainda mais fabulosa, e percebe-se facilmente o motivo pelo qual tantos filmes foram aqui rodados direção direção — falamos do mais recente êxito Dune (2021), mas também Alladin (2019), Star Wars (2019 e 2016), Prometheus (2012) e Lawrence da Arábia (1962), entre vários outros filmes “passados” em Marte (Red Planet, Mission to Mars, The Martian...).

São horas de almoço quando o jipe encosta sobre um rochedo, garantindo uma área entre o sol escaldante e o abrigo da sombra. O guia prepara um refogado de tomate, cebola, atum e feijão, que deixa a ferver enquanto estende sobre um manto os tradicionais hummus, mouttabal e pão. Ahmed é um jovem de 23 anos inteligente, ambicioso e com uma intensa curiosidade pelo mundo. Proveniente de uma família de 15 irmãos, estudava Gestão até a pandemia lhe ter interrompido o percurso. Depois de ano e meio de fecho devido à pandemia, a Jordânia recomeçou em agosto a receber turistas e, aos poucos, Ahmed gere a empresa de tours que tem passado de geração em geração. Diz, contente, que todas as tribos do deserto pertencem à sua família direta, mas também que, na aldeia, 99,99% da população vive do turismo. Não foram tempos fáceis mas que não lhe apagam o brilho no olhar, tal como testemunhado ao longo dos dois dias que fiquei no deserto pelas conversas tidas sobre a vida e a morte, a ciência, o espaço, a política e a religião.

O passeio pelas areias do deserto segue tarde dentro em direção ao pôr-do-sol, não sem antes fazermos uma breve paragem junto de alguns pontos mais turísticos, mas também de Omar e das suas cabrinhas. Sob a tenda de pele de ovelha, impermeável, o jovem de 15 anos oferece chá enquanto toca um instrumento musical de cordas feito também com pele, paus e crina de cavalo. É difícil imaginar o que é esta vida, tão diferente daquela que conhecemos...

Já é de noite quando chegamos ao acampamento de inspiração beduína, formado por várias tendas alinhadas. Apesar de não faltar oferta na zona (contam-se cerca de 50 alojamentos nesta zona do deserto), aqui prima a simplicidade. Não há luxos, embora electricidade, água e até internet não falhem. As tendas são simples, forradas com padrões típicos e abrigam apenas uma cama e vários cobertores, mais que suficiente para quem quer apenas pernoitar. O jantar está praticamente pronto, enquanto Ahmed ajuda um colega a erguer de um buraco na areia uma estrutura metálica onde até minutos antes tinham estado várias peças de galinha, batatas e legumes a cozer ao vapor. Acompanhada de chá de menta ou de cardamomo, contam-se histórias até o corpo pedir descanso.

Ahmed deixa-nos de volta à aldeia na manhã seguinte, não sem antes se despedir de forma amistosa. Foi uma tour “com amigos” e não “com turistas”, tal como faz questão de frisar. A minha viagem termina aqui, mas se quiserem encontrar uma experiência genuína e o Ahmed na vossa próxima viagem à Jordânia, podem contactá-lo directamente através do instagram @wadirumzaintours ou do site  (e mandar cumprimentos meus pelo caminho!)

- Se queres acompanhar esta e outras viagens, encontra-me no Instagram em @andreia.castro.dr ou no Facebook em Me across the World