Se muitas vezes nos desiludimos com o que idealizamos pelas imagens postais, a paisagem de inúmeras casinhas brancas e azuis penduradas nas rochas escarpadas, num contraste perfeito entre a sua candura, o azul brilhante do céu e cristalino do mar, e o tom negro da rocha vulcânica que o meu olhar captava, aqui era definitivamente autêntica. Em tempos distantes, uma erupção vulcânica deu àquele arquipélago a forma que ainda hoje conserva, sendo o resto caldeira, ao que agora as águas descansam onde antes havia terra. Santorini é, assim, o centro mais ativo no arco vulcânico a sul do mar Egeu, embora o que permaneça, até hoje, seja sobretudo uma caldeira cheia de água. Uma ilha viva que nos desperta para a urgência de desfrutar do presente e do prazer, assim como para a finitude da vertigem e do fogo.
Já com os pés em terra, arrancamos no nosso carro de aluguer até à capital de Fira, localizada no topo de um penhasco à beira da cratera. Caminhamos pelas vielas estreitas, pitorescas e floridas, desfrutando das magníficas vistas da caldeira. Há um trilho entre Fira e Oia, em que muitos trekkers começam na Catedral Metropolitana Ortodoxa, no centro de Fira, e seguem o seu caminho em direção a norte. Ainda são uns quilómetros de caminhada até Oia, e com o Viajante X de pendura e o calor a apertar, optamos apenas por ir até às aldeias de Firostefani e Imerovigli, o ponto mais alto da caldeira. As vistas das falésias, do mar, das aldeias e da paisagem vão mudando, além de que é comum avistar burros, igrejas de cúpula azul e vinhedos distantes. Num instante as horas se sumiram, ou não parássemos a cada dois metros completamente absortos pelos panoramas.
Ainda descemos até ao pequeno Porto Antigo ou Fira Skala, que embora tarefa fácil, tal já não se pode dizer da subida, com o peso extra do Viajante X. Muitos recorrem a um teleférico, ou a simpáticos burrinhos ornamentados com sinos que por lá estão… Uma prática turística que em muito nos perturba, ou não se tratassem de praticamente seiscentos degraus que serpenteiam a encosta. Ainda que as mulas e burros façam parte da tradição, é importante repensar a carga e esforço a que se sujeitam esses pobres animais, e saber sobretudo reinventar os costumes. Ao que li já existem campanhas no sentido de aumentar a consciencialização sobre esta situação.
Recuperadas energias, seguimos de carro para o vilarejo mais encantador da ilha, Oia. Aqui a paleta de cores do pôr do sol junto com o murmúrio do oceano, arrebata-nos o coração, quase sincronizando o seu bater com o do vulcão das profundezas. Bastaram poucos minutos de caminhada em Oia para ficarmos assoberbados quer pela arquitetura, quer pela majestosidade da paisagem natural, com os múltiplos mirantes sobre os vertiginosos penedos e vistas sobre o oceano. Vagarosamente percorremos cada canto, ou não quiséssemos absorver toda a beleza circundante, além de uma breve exploração do comércio local, com paragem obrigatória na afamada livraria Atlantis Books.
Logo abaixo de Oia existe um pequeno porto de onde saem barcos para passeios, sendo grande o fluxo de turistas e de embarcações sofisticadas. O acesso faz-se através de uma íngreme escadaria. Já lá em baixo encontramos a Baía de Amoudi, uma pequena vila de pescadores entre falésias ocre, que promete ser um dos melhores lugares para nadar e mergulhar em Santorini, assim como degustar um peixe fresco num restaurante ou taberna grega.
Aqui definitivamente tudo parece obra dos deuses, motivo pelo qual não me atrevo sequer a duvidar da versão mitológica de que esta vibrante ilha terá nascido do pedaço de terra, oferta de Tritão, que outrora o argonauta Eufemo terá decidido atirar ao mar… Porém, há estudiosos que arriscam algo maior, como a possibilidade desta ilha encerrar um dos maiores mistérios da humanidade, a verdadeira localização da cidade perdida de Atlântida. Mas quanto a isso, apelo à devida moderação, ou não fossemos gente dos Açores.
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