Confesso que não ia à espera de muito quando cheguei a Cracóvia, na Polónia, mas fiquei encantada com o que encontrei. Verdade seja dita, é fácil para mim ver coisas positivas em qualquer lugar, mas Cracóvia foi paixão à primeira, segunda e terceira vista.
Dei um passeio pelo Castelo de Wawel, caminhei ao longo do rio Wisla, visitei belas igrejas e as impressionantes e elaboradas minas de sal de Wieliczka (que merecem um artigo à parte), e apreciei o movimento do centro histórico com os seus pintores e artistas de rua e suas carruagens puxadas por cavalos. Por fim, provei deliciosos petiscos nos restaurantes locais. E fiquei apaixonada de vez!
De repente, este destino que não me dizia nada à partida, era o meu novo destino favorito.
Até me emocionei ao ouvir o hino polaco a ser tocado de cima da torre da Basílica de Santa Maria. Uma velha tradição que acontece quatro vezes por dia. O interessante é que o hino pára abruptamente porque, segundo conta a lenda, durante uma invasão mongol da cidade, um velho vigia viu os inimigos a chegar e começou a tocar a melodia na sua trombeta. Isso advertiu o povo que conseguiu fechar os portões da cidade a tempo de a salvar. Infelizmente, porém, uma flecha inimiga perfurou a garganta do velho, matando-o instantaneamente. É em sua honra que a melodia é interrompida sempre naquele preciso momento. Quando termina de tocar, o trompetista acena à multidão reunida cá em abaixo e toda a gente bate palmas e acena de volta. É divertido de ver.
A antiga capital da Polónia, é conhecida pela sua beleza, monumentos históricos e papel na vida do falecido Papa João Paulo II, mas também, tristemente, por ter uma história dolorosa e sombria.
Podemos dizer que esta cidade, assim como o resto da Polónia, atravessou o inferno e voltou. Sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, ao comunismo da antiga União Soviética e às dificuldades económicas. As cicatrizes de todos estes traumas ainda são visíveis em algumas partes da cidade.
No Bairro Judeu, por exemplo, que durante a II Guerra Mundial funcionou como gueto, encontramos um museu e memorial retratando a tortura horrível que os judeus polacos suportaram. Eles foram aprisionados, mantidos à fome, escravizados e assassinados pelos nazis.
A Praça das Cadeiras Vazias é um memorial dedicado àqueles que morreram a tentar ajudar o povo judeu.
E é impossível falar sobre a história negra de Cracóvia sem mencionar o holocausto e os campos de concentração de Auschwitz-Birkeneau que ficam nos arredores da cidade.
Apesar das lembranças trágicas, que nunca podem nem devem ser esquecidas, achei que Cracóvia tem um ambiente especial. É linda de manhã, quando uma ligeira neblina cobre os seus edifícios, assim como é linda à tarde, quando o sol brilha e os cafés e esplanadas estão cheios, ou à noite, quando as luzes da cidade acendem-se e aromas deliciosos escapam dos restaurantes que ficam à volta da praça central da velha cidade.
Depois, temos coisas únicas como os Bar Mleczny (Bares de Leite). Estes estabelecimentos, herança do passado comunista da Polónia, são restaurantes baratos, estilo snack-bar, mas a comida é boa e caseira. A maioria dos pratos são vegetarianos e muitos têm ingredientes lácteos (daí o seu nome).
Os cafés são outra maravilha. O meu favorito foi o Café Botanica (na Rua Bracka), onde provei uma chávena de chocolate quente com um “cheirinho” de vodka de cereja.
Se visitarem esta cidade não deixem de experimentar uma Zapiekanka, também conhecida como uma sanduíche aberta. Pode ser comprada a vendedores de rua que nos deixam escolher os ingredientes que queremos.
Destaco duas últimas coisas: o Museu dedicado a Oscar Schindler (se já leram o livro ou já viram o filme, sabem a importância que este homem teve na salvação de centenas de judeus) e o MOCAK - O Museu de Arte Contemporânea.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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