Imagem: Pavilhão da Rússia - créditos: AFP
“Connecting Minds, Creating the Future” é o mote desta edição, que procura promover a criatividade, inovação e colaboração entre nações, culturas e instituições.
Esta é uma das expos mais concorridas de sempre, com a participação de 192 países. É também a primeira a ter lugar na região do Médio Oriente. De acordo com a organização, em meados de dezembro, já tinham recebido 6.3 milhões de visitantes.
Por onde começar?
É irreal pensar que se consegue ver a Expo 2020 num só dia. Mas com um bom planeamento e escolha acertada de dia com menor afluência (evitar as sextas e sábados, que são os dias mais concorridos) é possível ficar com uma boa ideia do recinto. Apesar de ter muitos espaços com sombra, a visita torna-se mais confortável a partir do meio da tarde, quando as temperaturas não são tão elevadas. À noite a Expo torna-se mais vibrante com as luzes e projeções, sendo esta a melhor altura para percorrer as largas avenidas.
Umas das melhores formas de evitar as longas filas que se formam nos pavilhões mais populares é recorrer à “Smart Queue”. Trata-se de um acesso rápido aos espaços, que se faz mediante agendamento. Para tal, terá de instalar a app oficial da Expo 2020 no telemóvel, registar o número do seu bilhete de entrada e agendar a hora a que quer visitar determinado pavilhão. Depois é só chegar à hora marcada e procurar a referida entrada. É possível agendar até 10 pavilhões por bilhete.
Os pavilhões temáticos
Há três temas chave da Expo 2020, que acabam também por definir o espaço. Cada um destes temas tem um pavilhão próprio, e respetiva zona no recinto.
MOBILIDADE – Este espaço procura demonstrar de que forma a mobilidade tem sido um dos principais pilares para o desenvolvimento da humanidade ao longo dos anos e vai aos antigos exploradores marítimos buscar exemplos. Promove a discussão de fronteiras entre o mundo físico e digital. Destaca a necessidade de troca de novas ideias para encontrar soluções pioneiras para o transporte mais eficiente de pessoas e mercadorias.
SUSTENTABILIDADE – Também conhecido como Terra, o pavilhão da Sustentabilidade trabalha o conceito de se poder alcançar o progresso e a prosperidade em harmonia com nosso meio ambiente e as necessidades das gerações futuras.
OPORTUNIDADES – Este pavilhão define as oportunidades como motor de progresso. Explora a possibilidade de promover o diálogo entre as pessoas e comunidades, de forma a incentivar o seu potencial. Destaca o facto de que cada um de nós tem um papel a desempenhar na criação de mudanças positivas.
Pavilhões nacionais
Sem nenhuma ordem em especial, destacamos alguns dos espaços que, vale a pena espreitar:
Emirados Árabes Unidos (EAU)
O pavilhão do anfitrião da Expo 2020 destaca-se não só pela sua originalidade arquitetónica – foi desenhado por Santiago Calatrava e representa um falcão, símbolo da nação – como pela dinâmica interior, assente em ambientes imersivos e multimédia. É a maior representação nacional na Expo, com uma área total de 161.000 metros quadrados.
As principais práticas de sustentabilidade ambiental foram incorporadas neste projeto. A estrutura integra painéis fotovoltaicos que podem abrir ou fechar. Além de serem esteticamente atraentes, as asas, quando abertas, também servem como proteção contra chuva e tempestades de areia e quando fechadas absorvem a luz solar. Traduzem a graciosidade do movimento das asas em voo, mas também a força do falcão. Por dentro, faz lembrar a tenda tradicional dos beduínos. Ao centro, há um auditório circular e no topo, uma grande claraboia por onde entra a luz natural.
Entra-se pela base, numa área que explora a água, princípio da vida e reinterpreta os antigos sistemas de rega. No interior, caminha-se por um deserto e descobre-se o país através das projeções de vídeo nas dunas, de areia real. Há experiências interativas, onde nos explicam a importância da União dos Emirados e através de um chão interativo caminhamos em direção ao futuro. Apresentam-nos de seguida, a diversidade e o mundo de oportunidades disponível nos EAU. A não perder, é o vídeo de animação “Dreaming together”, uma adaptação do que haviam levado à Expo Milão, em 2015. Trata-se de um registo carregado de emoção.
Japão
Com a próxima Expo Mundial a ter lugar em Osaka, em 2025, não é de estranhar um investimento extra na representação do país neste evento. Além de toda a tecnologia envolvida, e originalidade das apresentações, a experiência no pavilhão do Japão torna-se mais interessante por ser personalizada.
A visita ao pavilhão tem a duração de cerca de uma hora e é feita em grupo. Por essa razão, este é um dos espaços em que o tempo de espera se revela mais demorado. A fachada é inspirada na arte de Origami, e revela-se um excelente cenário de fundo para tirar umas quantas fotografias.
A todos os convidados é atribuído um dispositivo, que acompanha a visita. É-nos atribuída uma flor, de cortesia. Começamos com um contacto com a cultura e história do Japão. Seguimos para uma área dominada por elementos da natureza, com projeções em telas transparentes. A sala seguinte é um boom de criatividade, que nos desafia a perceção. A realidade é-nos apresentada de uma forma muito original, construída com materiais que usamos todos os dias. Neste momento, a experiência que temos tido no pavilhão já conta para a forma como somos encaminhados para entradas diferentes. Perante os desafios, somos levados a não olhar só para o futuro e a ter em conta quem somos e o nosso passado.
Todo o grupo volta a ser reunido no mesmo espaço, em que são identificadas as características pessoais num avatar. A ideia será juntar todas as ideias, num espaço final, e apresentá-las para a Expo Osaka. Os visitantes vão ter a possibilidade de dizer os temas que querem ver tratados em 2025.
Alemanha
Na continuidade do trabalho apresentado na Expo Milão a Alemanha apresenta-se como um Campus. Estamos aqui para aprender, desafiar o conhecimento e há mil e um dispositivos para o fazermos. Somos identificados, à passagem de muitos, tornando esta experiência mais pessoal. Atravessam-se tópicos como a Energia, as Cidades do Futuro e a Biodiversidade, numa experiência que se aproxima do percurso de um estudante. É o espaço que permite também a todos, “brincar”, seja na piscina gigante de bolas, ou nos baloiços, por onde passamos no final.
Arábia Saudita
Muitos são os países que optam por apresentar as suas opções turísticas e é difícil não ficar maravilhado com as apresentações que encontramos na Arábia Saudita. É o segundo maior pavilhão da Expo em área e retrata o povo, a sua beleza natural, o passado, o presente e o futuro.
Entramos sob um teto inclinado, espelhado, e à porta, uma fonte de água intermitente faz as maravilhas de muitos. Lá dentro, somos levados, de escada rolante, pelo património do país. Chegamos a um espaço coberto de enormes telas de LED (do chão ao teto e uma mesa de redonda) onde descobrimos o litoral, os desertos, as montanhas e biodiversidade do país. Os destinos turísticos, a produção de rosas, a peregrinação a Meca (Hajj) chegam-nos em imagens de grande qualidade.
Singapura
Sem nunca nos esquecermos de que a Expo e o próprio Dubai se encontram em terrenos conquistados ao deserto, mergulhamos na frescura da floresta do pavilhão de Singapura. Entre pontes suspensas, charcos e grande abundância de verde, apreciamos a improvável, mas estreita ligação entre a natureza e a arquitetura.
Coreia
Na vanguarda da inovação tecnológica, sem esquecer as tradições ancestrais, o pavilhão da Coreia abriga-se numa bancada de estádio de cubos coloridos (luminosos, à noite). Imita a multidão vibrante de um estádio de futebol, ou um concerto de música rock. O espaço trabalha também a ideia de mobilidade e de relação entre as pessoas no futuro. Ao longo do percurso, ao atravessar as suas pontes pedonais, com um dispositivo que nos entregam à chegada, somos convidados a ver, através de Realidade Aumentada, outras existências. Antes de sair tivemos ainda oportunidade de assistir a uma representação de dança e acrobacias.
Países Baixos
Apresenta uma original solução de agricultura vertical, no meio da estrutura, em forma de cone, que abriga mais de 3000 plantas. Com recurso a uma solução inovadora, juntam no mesmo espaço água, energia e alimentos e numa original apresentação, fazem a ligação entre os três setores.
Portugal
Não podíamos deixar de recomendar a visita ao Pavilhão de Portugal. Na semana em que o visitámos, a filigrana de Gondomar esteve em destaque, com artesãos a trabalhar, no piso térreo, para grande deleite dos visitantes. Um vestido em filigrana assinado pela estilista Micaela Oliveira, em colaboração com o designer e ourives Arlindo Moura pode também ser admirado.
Os visitantes são convidados a subir ao primeiro andar e assistir a uma apresentação imersiva, que os leva a conhecer um pouco do país, através das suas paisagens, ofertas turísticas e culturais, mas também de oportunidades de empreendedorismo. Em todo o espaço não faltam elementos tipicamente portugueses, como a cortiça, a calçada portuguesa ou os azulejos.
Recomendamos uma visita ao restaurante Al Lusitano (reportagem em breve). Se a temperatura o permitir, é possível usufruir do amplo terraço, com vista privilegiada para o maior palco da Expo 2020, o Jubilee. Se a visita tiver de ser mais rápida, pode matar saudades do país com um pastel de nata ou uma bola de berlim, na cafetaria.
Em meados de dezembro, a equipa do Pavilhão de Portugal celebrava a entrada do 200.000 visitante.
Outros pavilhões que vale a pena ver: Espanha, Rússia, Austrália, Nova Zelândia, Filipinas, Paquistão, Oman, Turquemenistão e Cazaquistão.
Outros espaços a não perder
Praça Al Wasl
É a praça central da Expo 2020, o seu coração e a ligação mais próxima entre todas as zonas. É uma cúpula, com um entrelaçado árabe, com 130 metros de largura e 67,5 metros de altura que, à noite, funciona como ecrã de projeção (o maior do mundo). As projeções podem ser vistas tanto do interior como da parte do fora da Al Wasl. Há espetáculos e eventos a ter lugar nesta praça, que recentemente recebeu a cantora Alicia Keys para a apresentação do seu mais recente trabalho.
Cascata Surreal
O fascínio por água, luzes e música tem o seu espaço próprio na Expo 2020, com a instalação Surreal. Trata-se de uma praça, no Jubilee Park, onde com grande regularidade, ao longo de todo o dia, há momentos de queda de água, sincronizados com música. Excelente oportunidade para refrescar das elevadas temperaturas ou simplesmente relaxar a ouvir o barulho da água a cair nas pedras. A música foi composta especialmente para esta atração por Ramin Djawadi, o compositor responsável pelas bandas sonoras êxitos como Game of Thrones ou Westworld.
É um espaço de grande animação, em que os visitantes usufruem de um elemento natural, a água, que chega de forma “surreal” através da obra construída pelo homem.
Seguindo um dos principais temas da Expo 2020, a sustentabilidade, a organização esclarece que a instalação foi projetada para ser ecologicamente correta. Não desperdiça água, a não ser a que se evapora durante o espetáculo. Deixem-se engolir por esta cascata!
Garden in the Sky
A possibilidade de ver a toda a Expo, de cima, é viável no Garden in the Sky. Trata-se de um jardim panorâmico, rotativo, que sobe a 55 metros de altura. O acesso requer compra de bilhete, que pode ser feita no local. Por 30 AED (cerca de 7,5 euros), de forma muito fluida a plataforma circular leva os visitantes ao céu, oferecendo uma perspetiva única do recinto. O jardim acolhe dez exemplares de árvores (Peltophorum inerme), típicas das paisagens ao ar livre dos Emirados Árabes Unidos. A atração foi concebida pelo arquiteto britânico Asif Khan, o mesmo que assinou os portões de entrada na Expo.
Espaços para as crianças
Além de experiência inesquecível, para toda a família, a Expo dispõe de espaços especialmente pensados para os mais pequenos, como o parque infantil inspirado em Marte. Há amplas zonas verdes e parques, com espaço para correr e brincar ou fazer um picnic.
Há ainda as mascotes Rashid e Latifa (crianças de 8 e 9 anos), Alif (guardião do pavilhão da mobilidade), os robots Opti (guardião do pavilhão da Oportunidade), com que nos cruzamos nas ruas e que pedem atenção e a Terra (guardião do pavilhão da Sustentabilidade).
Gastronomia
A Expo 2020 convida também a uma viagem gastronómica pelo mundo. É possível degustar as mais sofisticadas propostas culinárias elaboradas por chefes com estrelas Michelin, mas também fazer refeições descontraídas e acessíveis, nas diferentes representações nacionais. São duzentas as opções disponíveis, de fine dining a snacks, bebidas ou fast food, para todos os gostos e disponibilidades. Há muitos restaurantes nos últimos pisos dos edifícios e são especialmente requisitados à noite.
O Al Lusitano, no pavilhão de Portugal, é uma das propostas que lhe deixamos. Com uma carta elaborada pelo chefe Chakal, apresenta uma variedade grande de pratos de cozinha portuguesa. Confort food que tem feito sucesso e, por essa razão, já se torna difícil encontrar uma lista de melhores restaurantes da Expo 2020 que não mencione o Al Lusitano. Estamos a preparar a reportagem que lhe dará conta de todos os detalhes.
Mobilidade
Atendendo à vasta área que cobre a Expo, o que fazer quando as pernas já não querem colaborar? Há diversas opções de mobilidade, como o aluguer de buggies (carrinhos de golf), bicicletas e outros veículos elétricos (táxis). No comboio Expo Explorer poderá ainda fazer uma visita a todo o recinto.
Horários
A Expo abre portas, diariamente, as 9h00 e as visitas aos pavilhões decorrem entre as 10h00 e as 22h00. Depois disso é possível assistir a espetáculos ou jantar nos restaurantes até às 00h00, de sábado a quarta-feira ou 02h00 às quintas e sextas feiras.
Segurança
O uso de máscara é obrigatório em todo o recinto. Os visitantes tem de apresentar um certificado de vacinação válido à entrada, ou teste de COVID negativo.
Como chegar
A organização recomenda o uso de transportes públicos. O metro é gratuito para os visitantes da Expo 2020. Há também um serviço próprio e gratuito de autocarros para a exposição: Expo Rider.
De carro, também é fácil de chegar. Há três grandes parques, de acesso aos três portões de acesso: Oportunidade, Mobilidade e Sustentabilidade. Os espaços estão bem identificados e há autocarros regulares (também sem custos) para levar os visitantes desde o parque até às entradas (e regresso). Garantem que quem estaciona o carro não terá de andar mais de 600 metros a pé para entrar na Expo.
Há ainda disponível um serviço de Valet Parking.
Bilhetes
Há vários tipos de bilhetes de acesso à Expo. O passe de 6 meses custa 495 AED (cerca de 120 euros) e permite entradas ilimitadas na Expo. O passe Multy-day custa 195 AED (cerca de 47 euros) e permite entradas ilimitadas durante 30 dias consecutivos. O bilhete diário custa 95 AED (cerca de 23 euros).
Dubai
Para quem vem de Portugal, é natural que queria conhecer um pouco mais do território além da Expo. Na zona mais moderna, recomendamos a visita ao Burj Khalifa e para um contacto com algo mais genuíno, a visita aos souks e mercados do Dubai. Encontram-se divididos pelas mais variadas temáticas, sendo os mais populares o do ouro (com as mais extravagantes peças), o das especiarias (das ervas medicinais às gastronómicas); o dos perfumes (onde pode combinar essências com óleos e encontrar a fragância mais adequada ao gosto); o dos têxteis (com tempo, porque não mandar fazer um traje à medida?). Por 1 AED (cerca de 0,25 euros) não deixe de atravessar o rio Creek a bordo dos barcos tradicionais. Uma experiência genuína, num barco de madeira (abra) que permite admirar a vista do novo e antigo Dubai e a paisagem de edifícios, torres e minaretes.
Com um tempo extra, vale a pena ponderar a viagem de cerca de uma hora a Abu Dhabi, o Emirado vizinho. Recomendamos a visita ao Louvre Abu Dhabi, para uma interessante viagem de confronto da arte ocidental com a do médio Oriente (reportagem em breve), e a visita à Grande Mesquita Sheikh Zayed, uma belíssima obra da arquitetura islâmica.
Para programas familiares em que toda a família quer diversão, indicamos o Ferrari World Abu Dhabi, que combina propostas de adrenalina a sério (tem a mais rápida montanha russa do mundo) mas também atrações indicadas para os mais novos como pistas de carros, carroceis, escorregas e zonas de escalada family friendly e com o selo do “cavalinho empinado”.
Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva
Artigo originalmente publicado no site Canela & Hortelã
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