O comboio, com o seu ritmo plácido e previsível, permite apreciar a paisagem como nenhum outro meio de transporte. Para além disso, nada bate o imaginário do comboio que combina a fúria da Revolução Industrial, com o luxo, o requinte, a aventura e mistério. Mas, na verdade, o comboio nasceu com propósitos puramente práticos e económicos. A invenção da locomotiva, normalmente creditada a George Stephenson (1829), surgiu da necessidade de, nas minas, transportar mais eficientemente entulhos e riquezas do subsolo. Tentativas anteriores revelavam também necessidades práticas, tais como os aparelhos de Joseph Cugnot, Trevithick, ou Blenkinsop. Com efeito, o comboio teve um papel decisivo na história da humanidade, conseguindo aproximar pessoas e produtos como até então não se tinha visto. Mas, de facto, o lugar especial (e, de certa maneira, charmoso) que o comboio ocupa no imaginário do turista, deve-se apenas à forma como se conseguiu adaptar aos desejos do público. Por isso, hoje, alguns percursos são importantes atrações turísticas.
1 | Transiberiano
Sem dúvida, a maior viagem de comboio que alguém pode fazer. Ela é a mais comprida, a mais mítica de todas. Na sua maior extensão liga Moscovo a Vladivostoque (mais de 9 000 km). Sem sair do assento, qualquer um pode atravessar um terço do globo! Mas há outra opção: em Irkutsk podemos apanhar um comboio que atravessa a Mongólia e vai ter a Pequim.
2 | Canadá, de costa a costa
A viagem entre Vancouver e Halifax é outra aventura continental, agora pela América do Norte. Uma vasta panóplia de paisagens inigualáveis está à nossa disposição: as montanhas rochosas, os grandes lagos e, finalmente, a linha costeira da Nova Escócia.
3 | Linha férrea de Flam
É uma viagem curta, com apenas cerca de 20 km entre Myrdal, até aos fiordes de Flam, na Noruega, mas as vistas sobre o maior fiorde do mundo, Sognefjord, compensam. O caminho de ferro é um grande feito de engenharia, uma das vias mais íngremes do mundo, percorrendo picos e depressões rochosas com corpos de água. Por isso, há quem considere este percurso de comboio o mais bonito em todo o mundo.
4 | O Explorador Andino
As paisagens naturais da América do Sul merecem, como poucas, ser visitadas e fazê-lo de comboio deve seriamente ser considerado. A linha dos Andes Cusco – Puno – Cusco é uma ótima forma de conseguir uma conexão com essa natureza opulenta que exala misticismo: a partir da janela do comboio é possível ver planícies, picos andinos, o mundo perdido do império inca, e claro, o lago Titicaca.
5 | O Expresso do Deserto
Talvez a forma mais segura de atravessar um deserto seja... de comboio. Na Namíbia, África, o Expresso do Deserto assume-se como uma oportunidade única para, de um golpe só, atravessarmos paisagens de savana e deserto, num pano de fundo vasto e luminoso. Com efeito, a viagem começa em Windhoek, nas terras altas do centro da Namíbia, e termina em Swakopmund na costa Atlântica, depois de percorrer cerca de 350 km.
6 | O Expresso do Oriente
Este comboio é o paradigma do luxo sobre carris desde a sua inauguração em 1883. No seu ápice, ligava Paris a Constantinopla (hoje Istambul). Nos seus vagões tiveram lugar muitas histórias reais e ficcionadas, algumas adaptadas ao cinema, sendo a mais famosa, provavelmente, Um crime no Expresso do Oriente, de Agatha Christie. O atual Expresso do Oriente pode ter perdido muito de seu legado como comboio de luxo, mas continua a ser uma das viagens incontornáveis para qualquer aficionado.
7 | O Expresso Glaciar
O Expresso Glaciar liga St. Moritz a Zermatt nos Alpes suiços. O percurso oferece algumas das melhores paisagens da Europa com montanhas cobertas de neve, prados alpinos e riachos. A viagem dura cerca de oito horas, num ritmo lento pelas curvas e contracurvas que serpenteiam as montanhas, passando por inúmeras pontes e túneis.
As viagens longas de comboio tendem a ser experiências transformadoras. Por isso, acabamos este texto com palavras do escritor Erich Maria Remarque: “Os nomes das estações começam a ganhar significado e o meu coração treme (…) Esses nomes marcam os limites da minha juventude.”, em A Oeste Nada de Novo.
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