Com alguns dos bairros mais densos em habitantes do planeta, já houve vezes que os 7,3 milhões de residentes de Hong Kong tiveram que esperar anos por um lugar onde pudessem guardar as cinzas dos falecidos.
O columbário Shan Sum abriu no mês passado e pretende oferecer até 23 mil nichos para urnas funerárias, numa campanha do governo lançada há uma década para atrair empresas privadas para o setor.
A política implementada pelo governo começou a dar frutos depois que, em meados da década de 2010, o envelhecimento da população da cidade fez com que as taxas de mortalidade superassem a capacidade do setor funerário público.
Brilhante e moderno, o edifício é obra do arquiteto alemão Ulrich Kirchhoff, de 52 anos, que tentou misturar elementos da natureza num espaço muito denso para criar "uma sensação de povoado", disse à AFP.
"É um edifício de habitação para os mortos (...) Dá a sensação de um bairro muito unido", explicou.
Kirchhoff foi inspirado nos cemitérios tradicionais chineses, geralmente levantados nas encostas das montanhas. O novo columbário de Hong Kong recupera essas linhas ondulantes, a vegetação e as texturas de rocha esculpida.
As cinzas são guardadas em compartimentos decorados, com o mais pequeno a medir 26 por 34 centímetros, alinhados nas paredes de salas refrigeradas com ar-condicionado.
"Como mantemos a qualidade de vida e a dignidade das pessoas nesta alta densidade?", questionou.
Sem espaço para enterros
Assim como os apartamentos em Hong Kong, as unidades funerárias não são baratas para alugar, fora do alcance financeiro da maioria da população.
Um plano básico para duas pessoas no Shan Sum é vendido por cerca de 52.963 euros. O pacote mais caro, para uma família inteira, custa quase três milhões de euros.
Atualmente, a renda familiar média em Hong Kong é de aproximadamente 3.500 euros por mês, segundo dados do governo.
Locais como Shan Sum foram criados como uma resposta à escassez de urnas funerárias em Hong Kong, há uma década.
Naquela época, as urnas eram armazenadas por anos nas prateleiras das empresas funerárias à espera de espaços vagos - ou repousavam em columbários não licenciados em templos ou edifícios industriais convertidos.
O historiador Chau Chi-fung, que escreveu um livro sobre práticas funerárias na cidade, diz que esta crise se formou durante a administração colonial britânica, que terminou em 1997.
"As leis da época eram rígidas sobre como tratar os cadáveres, mas uma vez que se transformaram em cinzas, o governo não tinha uma política abrangente para isso", disse o especialista à AFP.
A população de etnia chinesa em Hong Kong historicamente preferia os enterros, mas a cremação foi popularizada pelo governo na década de 1960. Esta mudança aconteceu também em centros urbanos densos por toda a Ásia.
Atualmente, 95% dos mortos em Hong Kong são cremados, algo que Chi-fung atribui à mudança dos costumes sociais.
Embora o governo preveja um aumento anual de 14% nas mortes até 2031, garante que a cidade está preparada para enfrentar este índice, com 25% dos 425 mil espaços públicos vagos e novos espaços públicos e privados em construção.
"A situação melhorou em relação a alguns anos atrás (...) O problema diminuiu, mas não foi resolvido" alerta o historiador.
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