O pinheiro com bolas douradas e a figura do Pai Natal decoram o grande átrio de mármore, mas a recepção do estabelecimento está deserta.

Aqui, como em outros hotéis de Belém - cidade palestiniana da Cisjordânia -, os responsáveis nem se dão ao trabalho de abrir as portas. As decorações servem apenas para animar os poucos funcionários que não foram demitidos.

Os habitantes de Belém pensavam que haviam virado a página sombria do coronavírus depois de um Natal desconsolador no ano passado, o primeiro da era COVID-19.

Desde o início de novembro, turistas e peregrinos estavam autorizados a regressar a Belém depois que Israel, cujo exército ocupa a Cisjordânia desde 1967 e controla todas as entradas deste território palestiniano, abriu as portas para os visitantes vacinados.

No entanto, menos de um mês depois, quando os comércios já haviam feito os pedidos para repor os stocks e os hotéis estavam mais uma vez prontos, o país voltou a encerrar as fronteiras após a confirmação de um caso de omicron.

Desde então, Agustín Shomali, diretor do hotel Ararat, verifica "todos os dias as informações sobre o aeroporto de Telavive", esperando a reabertura aos turistas, a única salvação possível para o estabelecimento situado a poucos minutos da Basílica da Natividade, local onde Jesus nasceu, segundo a tradição cristã.

Aprender a viver com o coronavírus

"A taxa de ocupação do hotel deveria ser de 70% para o Natal, mas todas as reservas do exterior foram canceladas", explica Shomali. Terá que se contentar com o turismo local, mas este "não supera os 5%", afirma.

Este ano, assim como no anterior, a Missa do Galo será reservada a um círculo restrito de convidados da Igreja e que terão de utilizar máscara.

Antes da pandemia de coronavírus, mais de três milhões de pessoas visitavam Belém ao longo do ano, em média.

Esta cidade, onde o índice de desemprego passou de 23% para 35% em dois anos, foi afetada pela crise sanitária como nenhuma outra na Cisjordânia, já que depende exclusivamente do turismo, afirma Carmen Ghattas, diretora de relações públicas da câmara.

No seu escritório na Praça de Manjedoura, onde foi colocado um presépio de tamanho real ao pé de um gigantesco pinheiro, Ghattas lamenta não ter nenhum controlo sobre a entrada dos turistas na sua cidade, onde a maioria dos habitantes está vacinada.

Em outros lugares do mundo, os pontos turísticos estão abertos aos visitantes vacinados, se respeitarem as normas sanitárias, diz Ghattas. "Aqui, os turistas estão simplesmente proibidos de entrar e isso está a afetar a nossa economia. É necessário que abram (o aeroporto) porque o coronavírus não vai desaparecer, temos que aprender a viver com o mesmo", considera.

Ciente das dificuldades e em forma de compensação, o governo palestiniano doou 700 shekels (menos de 200 euros) aos comerciantes que apresentaram uma solicitação. "Uma gota d'água", segundo Ghattas.