O muro, que exigiu 915 contentores e que custou cerca de 90 milhões de dólares, foi erguido na Floresta Nacional de Coronado, no sudoeste dos Estados Unidos, lar de espécies ameaçadas de extinção, como leopardos e onças-pintadas.

O governador republicano do Arizona, Doug Ducey, que ordenou a construção do muro que atravessa o vale ao longo de 6,4 quilómetros, teve de chegar a um acordo com o governo federal, que o havia intimidado a removê-lo, por ser construído em terras da União.

Ducey, que deixa o cargo no dia 02 de janeiro, argumentou que a obra era necessária para controlar a chegada de imigrantes através desta planície de arbustos baixos e cactos, emoldurada ao norte pelas Montanhas Huachuca.

Sob pressão legal, o governador chegou a um acordo judicial com o governo federal na quarta-feira (21). A decisão concede prazo até ao dia 4 de janeiro para que sejam retirados os contentores, “para não causar danos às terras e recursos do Sistema Florestal Nacional”.

 Muro construído com contentores e que divide vale na fronteira EUA-México vai ser destuído
créditos: AFP or licensors

"Biodiversidade fora de série"

O muro também foi alvo de dois processos do Centro para a Diversidade Biológica, uma organização ambientalista que atua na região há três décadas.

“A biodiversidade desta região é fora de série”, diz Russ McSpadden, membro da organização, à AFP.

Antes do muro de Ducey, a fronteira EUA-México era demarcada neste vale de imponentes encostas por cercas de arame presas por cruzes de madeira, uma barreira física com menos de dois metros de altura que poderia passar despercebida a uma certa distância.

Agora, duas filas de contentores bloqueiam os cursos d'água e arruínam a paisagem de tirar o fôlego. A única migração que consegue interromper, afirmam os ambientalistas, é a dos animais, que precisam circular para sobreviver.

"Coloco câmaras para monitorizar a vida selvagem nesta área. Detectei uma onça-pintada e trabalhei com um grupo que detectou leopardos aqui. Mas nunca registei a passagem de migrantes em nenhuma das câmaras remotas", relata Russ McSpadden, que trabalha lá há uma década.

O Arizona partilha uma fronteira de 595 quilómetros com o México, a qual inclui áreas de preservação ambiental, parques nacionais, zonas militares e reservas indígenas. A maior parte desta linha fronteiriça não tinha uma barreira física de grandes dimensões até a chegada do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, em 2017.