“É para conhecer outras pessoas, outras formas de viver, outras culturas”, começou por explicar à agência Lusa Rute Gonçalves, ex-gestora de marca da Galp, empresa onde trabalhou mais de 20 anos até que decidiu cumprir um sonho antigo, incutido pelo marido.
Pediu uma licença sem vencimento para navegar em família à volta do mundo, incluindo paragens que chegam a algumas semanas em vários países. Além de navegar, tornou-se também a professora dos três filhos que o casal leva a bordo do "Domum" e que, dentro do possível, compartilham as tarefas.
Marta, a mais velha, tem 14 anos e Afonso tem 08. Estão inscritos no ensino doméstico português há mais de um ano, como forma de preparação antes de terem iniciado a viagem, e Rute tornou-se tutora, a professora dos filhos.
“Durante três anos serei eu a professora do Afonso, apesar de ele reclamar um bocadinho”, brinca a mãe.
A mais nova, Carmen, com apenas 05 anos, dá os primeiros passos na matemática com a ajuda da mãe, enquanto cruza os sete mares.
“Isto abre-nos horizontes, ganhamos outras capacidades”, diz.
Tudo começou, recorda Rute, há mais de 20 anos, com um “sonho antigo” do marido, sempre ligado ao mar e que já tinha em Cascais uma empresa de turismo náutico.
Antes da aventura começar, confessa que pouco sabia de vela, competência que pertencia ao marido, João Monarca, um “apaixonado pela vela e pelos barcos”.
“Ele sempre teve este sonho de dar a volta ao mundo, de atravessar os oceanos, de conhecer outras pessoas. Quando nos conhecemos e começámos a namorar, há vinte e tal anos, pensávamos fazer isso quando nos reformássemos”, recordou.
Contudo, depois do nascimento de Marta, as perspetivas mudaram: “Fazer uma coisa destas na reforma era longe demais e fazer isto em família tinha mais significado”.
Gastaram 60.000 euros na compra do "Domum", um barco à vela em aço, com 30 anos, e outro tanto na sua preparação para a grande viagem de mais de dois anos.
“Fizemos poupanças durante dez anos”, explica.
Em Portugal deixaram a casa arrendada, o que ajuda a pagar as contas da viagem, e a Galp, empresa para onde Rute espera voltar no fim da aventura, também ajudou: “São o nosso fornecedor de energia. Deram-nos a vela grande, que é fundamental, vamos com o vento, deram-nos um valor para o combustível e ofereceram-nos os painéis solares que estamos agora mesmo a montar”.
Saíram de Cascais em 06 de julho, depois de ali viverem quatro meses, já no barco, para se ambientarem e o testarem “como casa” para mais de dois anos.
Navegaram à vela até ao Algarve, seguindo depois para Gibraltar e costa espanhola, com várias paragens para conhecerem “as pessoas e a realidade” de cada terra.
Nas ilhas Baleares estiveram um mês e meio e uma avaria no gerador do barco obrigou a família a uma paragem para reparação num estaleiro em Valência. Seguiram depois viagem para as ilhas Canárias, onde estiveram 10 dias atracados, antes de sete dias a rumarem para sul até chegarem, no domingo, à marina do Mindelo, ilha cabo-verdiana de São Vicente.
“É bom voltarmos a falar português, os miúdos já começavam a falar espanhol”, conta Rute, explicando que a passagem pelo Mindelo – para participarem no Cabo Verde Ocean Week, dedicado aos assuntos do mar - deverá prolongar-se por mais uns dias, antes de a família voltar ao mar, agora em direção às Caraíbas.
“Martinica, Santa Lúcia, tem muito a ver para aonde o vento nos levar. Somos um barco à vela, não temos um sítio certo”, relata, enquanto explica que a viagem ainda tem dois anos pela frente.
“Não é uma ambição, se conseguirmos dar a volta ao mundo, daremos”, afirma.
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