
O novo museu resulta do sonho de um homem: Armando Martins. Com fundos totalmente privados, está instalado no antigo Palacete da Ribeira Grande (também conhecido como Palácio dos Condes da Ribeira Grande), que começou por ser uma casa senhorial e terminou a sua vida como estabelecimento de ensino público – quem não se recorda do antigo Liceu Rainha Dona Amélia?
O edifício barroco encontrava-se em avançado estado de degradação, depois de ter sido deixado pelo Liceu em 2002, quando foi adquirido pelo empresário Armando Martins. Dono de uma coleção de arte impressionante, composta por cerca de 600 obras, construída ao longo de 50 anos, o colecionador pretendia mostrá-la e partilhá-la, e foi com esse intuito que adquiriu o edifício e idealizou um projeto para dar vida ao seu sonho, da autoria do estúdio de arquitetura português MetroUrbe. Neste momento é possível ver um terço do acervo, entre galerias, quartos e espaços públicos. As restantes peças encontram-se nas reservas.
Ao edifício original, agora recuperado e devolvido à sua glória e imponência inicial, foram acrescentados dois novos módulos de estilo contemporâneo, construídos no lugar onde antes existiam os pavilhões pré-fabricados do liceu na parte de trás. No meio, um amplo jardim permite apreciar o complexo, um espelho de água e algumas obras de arte aqui instaladas.
No total o complexo ocupa 13.000 metros quadrados acima do solo, sendo 2.000 metros quadrados deles de espaço expositivo. É no corpo principal, que estão instaladas no piso térreo, as duas galerias principais do museu; as receções do museu e do hotel; e nos pisos superiores, uma parte dos quartos do hotel de 5 estrelas.
O museu
Na Galeria 1 é possível visitar uma parte da coleção permanente, batizada de "Uma Coleção a Dois Tempos", com curadoria de Adelaide Ginga (a diretora do Museu), e que reúne peças do século XIX a 1980, de artistas portugueses. Já a Galeria 2, conta com curadoria de Carolina Quintela, e apresenta obras contemporâneas das várias áreas, desde fotografias, esculturas, vídeos, pinturas e instalações, de artistas nacionais e estrangeiros.
Neste piso podemos ver e apreciar obras de artistas como Alfredo Keil, Ângelo de Sousa, Amadeo de Sousa Cardozo, António Dacosta, Carlos Botelho, Cruzeiro Seixas, Eduardo Nery, Eduardo Viana, Fernanda Fragateiro, João Vaz, Almada Negreiros, José Malhoa, José de Guimarães, Julião Sarmento, Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro, Marcelino Vespeira, Maria Helena Vieira da Silva, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Paula Rego, Pedro Cabrita Reis, Pedro Reyes, Querubim Lapa, Rui Chafes, Helena Almeida, Ernesto Neto, Marina Abramovi?, Olafur Eliasson, Elmgreen & Dragset, Isa Genzken, Liam Gillick, Dan Graham, Thomas Struth, entre muitos outros.
Já na ala nova, com uma fachada revestida por uma série de azulejos tridimensionais, da autoria da artista e ceramista portuguesa Maria Ana Vasco Costa, inspirada na tradição portuguesa de fabrico de azulejos, encontramos as Galerias 3 e 4, dedicadas a exposições temporárias (está previsto cada mostra ficar aqui apenas 6 meses).
A Galeria 3 apresenta a mostra "O Antropoceno: em Busca de um Novo Humano?", com curadoria de Adelaide Ginga, “explora o profundo impacto da atividade humana no planeta, incitando a repensar a nossa relação com a natureza. A exposição reflete sobre a atual crise climática, as responsabilidades éticas e a necessidade de justiça ambiental". Já a Galeria 4, no piso superior, tem como título "Guerra: Realidade, Mito e Ficção", e tem curadoria de Adelaide Ginga e Carolina Quintela. A mostra “explora a fragilidade da vida e as complexidades do nosso mundo nesta fase de tensão e instabilidade, em que assistimos à perpetuação de conflitos ativos e disputas geopolíticas à escala global".
O MACAM dispõe ainda de um auditório, com capacidade para cerca de 50 pessoas; uma área de reservas (dividida em 3 zonas); e de uma loja com edições exclusivas de marcas portuguesas e outras especialmente selecionadas.
O hotel
O MACAM Hotel é uma unidade de 5 estrelas, foi criado para manter a sustentabilidade do projeto (manutenção do museu e aquisição de novas peças), segundo explicou o seu proprietário, aquando a apresentação à imprensa, e convida a uma experiência imersiva, de dormir e “viver” num museu. Aqui, todos “somos guardiões das obras de arte”.
Com direção de Vera Cordeiro, o hotel dispõe de 64 quartos, com características distintas (existem 22 tipologias), como 6 estúdios, suites, e 14 quartos duplos na ala nova. Cada quarto é diferente, decorado com obras de arte da coleção do seu proprietário. Uma noite aqui pode rondar os 300/400 euros (valor base), a abertura está prevista para a Páscoa.
Também as áreas comuns, corredores, salas e terraços incluem obras de arte pertencentes à coleção, de que se destacam uma intervenção de José Pedro Croft: uma intervenção escultórica de grande dimensão composta por três elementos ovais em aço e vidro colorido, localizada no terraço nascente da fachada do palácio. E ainda uma escultura em mármore para a fonte do jardim do antigo palácio, da autoria de Cristina Ataíde.
Complementam a oferta hoteleira um café e um restaurante de “autor”. O Restaurante Contemporâneo, cuja cozinha é dirigida pelo Chefe Tiago Valente, que preparou um menu com base na gastronomia portuguesa, mas reinterpretada e inspirada em algumas das obras em exposição.
Conclui a oferta um bar muito especial, o àCapela – Live Arts Bar, instalado na capela dessacralizada do século XVIII dedicada a Nossa Senhora do Carmo, totalmente restaurada e onde se encontra um bar de artes performativas, que promete realizar vários eventos culturais, como concertos, sessões de poesia e de literatura.
É neste espaço que se encontra uma das obras mais impressionantes de todo o museu, o tríptico da autoria do artista espanhol Carlos Aires, criado especialmente para aqui, e onde o painel central é a peça central.
O MACAM abre portas ao público no dia 22 de março, coincidindo com o aniversário de Armando Martins (e da data aquisição da sua primeira obra de arte original, a 22 de março de 1974), com três dias de festa e entrada gratuita, entre as 10h00 e as 19h00.
O programa da inauguração inclui eventos musicais, de poesia, DJ sets, obras de arte comentadas e atividades para crianças entre outras.
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