O shofar, um objeto litúrgico cujo som é um chamado à misericórdia, foi entregue a Chaskel Tydor, um prisioneiro em Auschwitz, por outro preso durante uma "marcha da morte". Durante estas marchas, os nazis obrigavam os prisioneiros a caminhar a pé, em pleno inverno, para outros campos para fugir das tropas soviéticas que avançavam.

Depois da guerra, Chaskel Tydor mudou-se para Israel e finalmente emigrou para os Estados Unidos. Conservou até a morte, em 1993, o shofar, que permaneceu na família até sua apresentação nesta segunda-feira pela filha, Judith Tydor Baumel-Schwartz.

Qualquer prática relacionada à religião judaica era proibida nos campos de concentração e extermínio nazis sob o risco de pena de morte.

Mas isto não impediu que os presos usassem, segundo vários testemunhos, o shofar, que emite um som poderoso similar ao do antigo corno de névoa ou do olifante (instrumento medieval de vento), no recinto de Auschwitz sob o risco de perderem suas vidas.

Shofar
Shofar é um instrumento utilizado na religião judaica. Este, da imagem, foi tocado em Tel Aviv. créditos: AFP

"Inclusive para aqueles que não eram crentes, foi um ato de puro desafio", disse Michael Berenbaum, um dos curadores da mostra 'Auschwitz, Not Long Ago. Not Far Away' (Auschwitz, não faz muito tempo, nem é tão distante), da qual o shofar faz parte. Para ele, o instrumento foi tocado em Auschwitz "precisamente porque era proibido".

Auschwitz, Not Long Ago. Not Far Away
Auschwitz, Not Long Ago. Not Far Away Museum of Jewish Heritage

Além de exibido na exposição sobre Auschwitz, que já teve quase 100.000 visitantes no Museu da Herança Judaica (após ter sido inicialmente apresentado em Madrid), o shofar será usado em duas sinagogas de Manhattan para o Rosh Hashana (ano novo judaico) e o Yom Kipur (dia do perdão).

A mostra ficará em cartaz em Nova Iorque até 3 de janeiro de 2020.