Sete anos após a histórica descoberta do navio afundado ao longo da costa de Cartagena, as autoridades começarão a recuperar as peças debaixo d'água, disse o ministro da Cultura, Juan David Correa, à AFP.
O tesouro está lá desde junho de 1708, quando o navio à vela foi emboscado e afundado por um esquadrão inglês. O seu valor é estimado em cerca de 20 mil milhões de dólares.
Entre abril e maio, será realizada uma "exploração de alguns materiais que estão superficialmente no leito" do galeão para ver como reagem ao serem retirados da água e preparar a recuperação do restante dos bens, explicou Correa.
Os trabalhos custarão mais de 4,5 milhões de dólares e serão realizados com um robô que desce até 600 metros de profundidade, onde está o navio. Assim, "são extraídas sem modificar e sem agredir o pecúlio, algumas coisas que estão lá", como cerâmicas, conchas e pedaços de madeira, acrescentou o ministro numa entrevista à AFP a bordo do navio ARC Caribe.
Os especialistas trabalharão a partir desse enorme navio da Marinha num ponto no mar ainda secreto, para não alertar caçadores de tesouros e piratas sobre a localização da descoberta arqueológica, considerada uma das maiores da história colombiana.
O San José naufragou nas águas próximas a esta cidade caribenha turística e ponto chave do comércio entre a América e a Espanha durante a época da colonização, após partir de Portobelo, no Panamá, repleto de vasos, joias, pedras preciosas, ouro, prata e canhões.
Correa não especificou se os metais mais valiosos do tesouro, de "valor incalculável" e que "excede qualquer preço monetário", serão extraídos na primeira fase.
"Novo paradigma"
Desde que foi localizado em 2015 por investigadores e membros da força naval colombiana, o galeão tem sido objeto de disputas devido ao alto valor de sua carga de centenas de toneladas.
A Espanha reivindicava o carregamento com base numa convenção da UNESCO da qual a Colômbia não faz parte. Também indígenas bolivianos do povo Qhara Qhara afirmavam que as riquezas foram retiradas de sua terra.
Desde quinta-feira, o embaixador espanhol em Bogotá, Joaquín de Arístegui, e representantes dos aborígenes da Bolívia fazem parte de um simpósio com especialistas para discutir a melhor maneira de acessar o tesouro.
O governo do esquerdista Gustavo Petro, no poder desde 2022, busca retirar o pecúlio do oceano com recursos próprios para contribuir com a ciência e a cultura, à margem de controvérsias relacionadas à distribuição da riqueza.
De Arístegui afirmou que tem instruções para oferecer à Colômbia um "acordo bilateral" que leve a um "novo paradigma" entre os dois países em prol da "proteção" do galeão.
Segundo o ministro Correa, os indígenas bolivianos manifestaram estar "dispostos a colaborar" com as intenções de Petro.
A ideia é "deixar de considerar que estamos diante de um tesouro que temos que lutar como se estivéssemos na época colonial, dos piratas que disputavam esses territórios", acrescentou.
Litígio
Embora ainda não esteja definido, o governo colombiano projeta que o San José seja acessível ao público por meio de uma exposição virtual com inteligência artificial e que o local onde afundou se torne um destino para pesquisas científicas.
A maior aproximação da aparência do galeão foi uma série de vídeos revelados oficialmente em meados de 2022, filmados por um veículo teleguiado e equipamentos de gravação de alta tecnologia que permitiram ver na escuridão do fundo do mar.
O anúncio do governo sobre o início da extração coincide com uma nova controvérsia, um litígio entre o Estado colombiano e a empresa americana Sea Search Armada perante o Tribunal Permanente de Arbitragem.
A empresa alega ter encontrado o galeão antes, portanto, reivindica direitos sobre 50% do tesouro, cujo valor é estimado em até 20 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros), segundo a reclamação.
Paula Robledo, diretora da Agência Jurídica do Estado colombiano, classificou essa reivindicação de "grotesca" e "frívola", e anunciou ações de defesa legal.
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