Os artesãos lutam pela preservação daquela peça feita em pura lã, de forma artesanal e ecológica.
Fundaram a associação O Genuíno Cobertor de Papa e têm desbravado caminho para não deixar extinguir este produto endógeno feito exclusivamente em Maçainhas.
“É um produto humilde e simples, como os pastores e as gentes que sempre o produziram”, descreveu Maria do Céu Reis, que assume a presidência da associação.
A artesã sublinhou que “o cobertor de papa é único a nível mundial. É um produto artesanal, sempre foi”.
A lã churra das ovelhas é fiada e tecida num tear de forma manual. A peça vai ao pisão para lavar e depois à máquina de cardar para puxar o pelo. O cobertor é seco ao sol.
Mas assegurar a sua continuidade não está a ser fácil.
A artesã apontou que “falta tudo”. Falta mão-de-obra e falta a certificação para garantir a autenticidade do produto. Para Maria do Céu, a certificação não é o mais importante, mas reconheceu que “é a única saída que resta para provar que o produto é artesanal”.
Mas a certificação “é cara” e a associação não tem verba para concluir o processo.
“São necessários quase 30 mil euros e depois temos de pagar mais 4.500 euros por ano para usar o selo. É preciso um apoio para se poder fazer isto”, admitiu a artesã.
O cobertor de papa é feito artesanalmente numa antiga fábrica que reabriu por causa da associação. As peças são feitas com o voluntariado de quatro artesãos. “Basta que algum deles não queira fazer mais e acabou o cobertor de papa”, avisou Maria do Céu Reis.
A associação gostaria que cada pessoa com tear em Maçainhas “abrisse uma unidade produtiva” e depois “viesse à fábrica fazer o acabamento”.
“Era o que gostávamos que acontecesse e seria interessante. Faz parte da identidade de Maçainhas. Hoje, com tantos meios, podíamos fazer coisas incríveis, desde que todos quiséssemos”.
No país há “seis ou sete locais” onde se pode comprar o cobertor de papa e tem havido muita procura por estrangeiros, o que cria alguma apreensão à associação que receia não conseguir satisfazer as encomendas.
O Festival de Cultura Popular do fim de semana integra um ciclo promovido pela Câmara Municipal da Guarda em várias freguesias.
O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, disse à Lusa que a Câmara decidiu integrar o cobertor nos festivais de cultura popular “para que, pelo menos, uma vez por um ano, as pessoas se apercebam da sua existência”.
Sobre o futuro, o autarca explicou que “há um processo em curso que é a Carta da Paisagem que abrange todos os produtos endógenos do concelho”.
“Queremos que o cobertor se continue a afirmar no contexto nacional. É um caminho que nunca ficará concluído”, realçou.
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