Mais de um milhão de pessoas morreram no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau construído pela Alemanha nazi quando ocupou a Polónia na Segunda Guerra Mundial. A maioria dos que ali perderam a vida eram judeus, mas também polacos não judeus, ciganos e soldados soviéticos.

Cerca de 850 pessoas trabalham no museu para preservar a memória deste lugar trágico, um trabalho das nove às cinco com mais bagagem emocional do que o habitual.

"Dizem que quando alguém começa a trabalhar aqui, ou sai muito rápido porque a história pesa demais, ou fica por muito tempo", diz Pawel Sawicki, vice-porta-voz do museu de Auschwitz e responsável pelas redes sociais do museu, onde trabalha há 17 anos.

"Ajuda, se encontrarmos algum significado para a nossa missão", afirma.

Pawel Sawicki, vice-porta-voz do museu de Auschwitz e responsável pelas redes sociais do museu
Pawel Sawicki, vice-porta-voz do museu de Auschwitz e responsável pelas redes sociais do museu Pawel Sawicki, vice-porta-voz do museu de Auschwitz e responsável pelas redes sociais do museu créditos: AFP

O escritório de Sawicki está localizado dentro de um antigo hospital da SS, a polícia nazi. Atrás do prédio, há uma antiga câmara de gás e, mais adiante, fica o portão com a frase que ficou para a história "Arbeit Macht Frei" (O trabalho liberta).

Para lidar com o pesado custo emocional de trabalhar em Auschwitz, Sawicki explica que colocou "uma espécie de barreira profissional" que o mantém são, mesmo que, de vez em quando, seja difícil.

Visitas guiadas

Museu de Auschwitz
Museu de Auschwitz Memorial e Museu de Auschwitz créditos: AFP

Jacek Paluch, um guia turístico de longa data de Auschwitz, sublinha que faz questão de deixar o "trabalho no trabalho" para evitar enlouquecer.

"Mas é um trabalho especial e um lugar especial. É impossível deixar toda a história para trás e não levá-la para casa", reconhece.

O guia lidera até 400 grupos de visitantes, todos os anos, que querem conhecer a antiga "fábrica da morte".

Mais de 1,8 milhões de pessoas visitaram Auschwitz no ano passado.

O museu oferece visitas pelo local em mais de 20 idiomas, lideradas por cerca de 350 guias.

Jacek Paluch
Jacek Paluch Jacek Paluch, guia de Auschwitz créditos: AFP

Os momentos mais difíceis e emocionais, para Paluch, são os encontros com ex-prisioneiros.

Um dia, Paluch encontrou um homem sentado em silêncio - e sem responder a perguntas - num banco, com o braço tatuado com o número de ex-prisioneiro.

"Durante a sua vida, nunca falou uma palavra com a família sobre o que havia acontecido aqui. Então, de repente, num pequeno-almoço de domingo, começou a falar", disse Paluch.

"A família trouxe-o até aqui para que pudesse contar a história onde ela havia acontecido". "Porém, quando atravessou o portão 'Arbeit Macht Frei', as memórias voltaram. Ficou quieto novamente e não quis falar mais sobre o assunto".

Museu de Auschwitz
Museu de Auschwitz Memorial e Museu de Auschwitz créditos: AFP

Evidências dos crimes cometidos

Wanda Witek-Malicka, historiadora do centro de investigação do museu, focou o seu trabalho, durante anos, nas crianças presas de Auschwitz. Mas teve de abandonar o tema quando se tornou mãe.

"Naquele momento, este aspeto particular da história de Auschwitz - crianças, mulheres grávidas, recém-nascidos - eu não estava em condições de lidar com isso", reconhece. "O peso emocional do local e da história foram demais para mim".

Wanda Witek-Malicka
Wanda Witek-Malicka Wanda Witek-Malicka, historiadora do centro de pesquisa do museu créditos: AFP

Se a equipa do museu refletisse sobre a história do local o tempo todo, "provavelmente não conseguiríamos fazer nenhum trabalho".

Noutra sala, o especialista em conservação Andrzej Jastrzebiowski examina alguns recipientes de metal que já foram preenchidos com Zyklon B, o gás venenoso usado para matar pessoas em Auschwitz.

Andrzej Jastrzebiowski
Andrzej Jastrzebiowski Andrzej Jastrzebiowski, especialista em conservação créditos: AFP

O profissional lembra-se que sentiu raiva no início, quando começou a trabalhar no museu há 17 anos e teve de conservar objetos que pertenciam aos nazis.

"Mais tarde, percebi que estes objetos tinham importância como evidência dos crimes cometidos aqui, e mantê-los também faz parte da nossa missão", afirma.

Dar voz aos objetos

Jastrzebiowski e os colegas do departamento de conservação de alta tecnologia são responsáveis por preservar centenas de milhares de objetos, incluindo sapatos, malas, potes de metal, escovas de dente, cartas e documentos.

A maioria dos itens pertencia aos prisioneiros antes de serem confiscados à chegada.

Os conservadores também são responsáveis por preservar o quartel, o arame farpado e os restos dos crematórios, câmaras de gás e outras ruínas do campo de concentração.

Museu de Auschwitz
Museu de Auschwitz Um dos milhares sapatos que pertencem ao Museu de Auschwitz créditos: AFP

É um trabalho de extrema importância, especialmente no momento em que o número de antigos prisioneiros vivos está a diminuir rapidamente.

"Em breve, não haverá mais testemunhas diretas e tudo o que restará serão estes objetos, e eles terão de contar a história", indica Jastrzebiowski.

"O nosso trabalho é dar-lhes voz".

Quando trabalha num objeto, tenta descobrir as suas peculiaridades para evitar que o trabalho se torne numa rotina irracional. "Isso ajuda-me a pensar nos donos dos objetos, nas suas histórias", conta.

"Acima de tudo, é o oposto do que os nazis queriam - que a sua memória desaparecesse, que desaparecessem para sempre."

A 27 de janeiro assinala-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.