"Estão a ver esta colina? Acabaram com ela. A cerca de 50 metros da toca", disse o porta-voz da Greenpeace, Marek Jozefiak, no município de Zatwarnica.
Na Polónia, restam apenas 150 animais plantígrados e é necessário preservar o seu habitat, diz Jozefiak, que denuncia a má preservação das florestas dos Cárpatos, uma cordilheira "sagrada" que se estende por 1.500 quilómetros entre oito países da Europa Central.
Esta vegetação, alguma com mais de 150 anos ou até ainda virgem (nunca alteradas pela atividade humana), é um dos últimos refúgios da biodiversidade do continente.
Lar de centenas de espécies de plantas, bisões, linces, lobos, gatos selvagens e pássaros, estas florestas desempenham um papel fundamental na luta contra as alterações climáticas.
De acordo com um relatório de novembro de 2022, a Greenpeace observou que "em média, mais de cinco campos de futebol na floresta desaparecem a cada hora" nos Cárpatos.
Embora o número provoque uma indiferença relativa na Polónia, na Roménia já está a provocar agitação, segundo jornalistas da AFP.
Exploração lucrativa
A Roménia abriga mais de metade das montanhas dos Cárpatos, que também atravessam a Eslováquia, a Polónia, a Ucrânia e, em menor escala, Hungria, Sérvia, República Checa e Áustria.
Embora seja, teoricamente, "uma das regiões mais protegidas da União Europeia", de acordo com a Greenpeace, apenas uma fração de 1 a 3% dos terrenos florestais está "estritamente" protegido na Polónia, acrescenta a ONG.
A agência florestal do país, responsável pela preservação e exploração destas áreas, aumentou a receita em 50%, em comparação a 2022, 90% provenientes da venda de madeira.
As árvores derrubadas são utilizadas para lenha, principalmente em áreas rurais, ou são destinadas ao mercado internacional de móveis.
Em 2018, a Polónia foi condenada pelos tribunais europeus pela desflorestação da floresta virgem de Bialowieza (leste), a maior da Europa, classificada como Património Mundial da UNESCO.
Perante as críticas, as autoridades prometeram plantar novas árvores. Mas ativistas ambientais garantem que esta solução não compensa os danos causados.
Os Cárpatos "tornaram-se uma espécie de terras agrícolas, subordinadas à exploração madeireira. Acho difícil aceitar que as florestas estão a desaparecer aos poucos", afirma Andrzej Zbrozek, um professor de Biologia que vive na região.
Perante a má gestão na proteção ambiental da Polónia, a Greenpeace instou a UE a desenvolver e a financiar um plano para "proteger" os Cárpatos "como um património natural fundamental".
Aplicações e câmaras de vigilância
Cerca de 80 milhões de metros cúbicos de madeira foram extraídos de modo ilegal dos Cárpatos entre 1990 e 2011, de acordo com uma estimativa do Tribunal de Contas da Roménia em 2013.
Embora seja difícil obter números exatos, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) estima - com base em atividades específicas de vigilância - que um terço da produção é ilegal.
Para melhorar o rastreamento, desde 2014 foi modernizado o "Sumal", uma ferramenta digital capaz de rastrear camiões. Neste sistema, os motoristas devem enviar fotos que mostrem a quantidade de madeira que sai da floresta para uma aplicação de forma a comparar com a que chega aos armazéns.
Embora o então ministro do Meio Ambiente, Barna Tanczos, tenha elogiado este "sistema de controlo mais sofisticado da Europa" em janeiro, grupos criminosos conseguem burlar a fiscalização ao organizarem vários transportes com uma única autorização.
O governo então decidiu ir além e, em junho, o Parlamento aprovou uma lei para tornar obrigatória a presença de câmaras nas rotas florestais.
Sem esperar medidas das autoridades, Gabriel Oltean instalou algumas câmaras na área de Ghimes desde 2021, para que pudesse fazer a própria supervisão.
Como outros denunciantes, Oltean conseguiu identificar vários camiões suspeitos, casos que posteriormente levaram a investigações e apreensões de madeira.
Mas, para que prisões e condenações sejam feitas, é necessário um sistema que informe em tempo real, explica Radu Melu, especialista do WWF na Roménia.
O governo pretende implementar um sofisticado sistema de vigilância com imagens de satélite, drones e aviões que sobrevoem as áreas, um investimento de mais de 50 milhões financiado por fundos europeus.
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