“O que esperam ver hoje?” A pergunta da bióloga Raquel Barata, à entrada do Jardim Botânico de Lisboa, já sugeria alguma expetativa em relação ao que estava para vir nesta visita noturna a um dos espaços verdes mais especiais da cidade.

Durante o dia, o Jardim Botânico parece estar a um mundo de distância do bulício urbano à sua volta. À noite, sem o canto dos pássaros ou uma brisa para agitar as árvores, essa tranquilidade ganha a aparência de um sono profundo. Os sons que chegam da rua reforçam a ideia de um mundo adormecido entre muros, onde entramos na ponta dos pés, quais hóspedes a fazer check-in tardio. Na ausência de qualquer iluminação, artificial ou natural (noite de lua nova), é um cuidado que se impõe ao nosso grupo de 10 visitantes.

Não damos mais do que vinte passos quando tropeçamos na maior surpresa da noite: dois pequeníssimos pontos de luz a piscarem entre a vegetação rasteira. São pirilampos e a descoberta, no meio da cidade e às primeiras horas da primavera, parece espantar todos, a começar pela nossa guia. A presença destes insetos cintilantes ali, explica-nos, é sempre uma possibilidade, mas nunca garantida. A realização da visita na escuridão favorece a sua visibilidade, assim como a falta de aviso propicia o efeito surpresa e encanto.

O tremeluzir dos pirilampos irá acompanhar-nos ao longo da hora que dura o passeio por uma pequena parte do Jardim Botânico. Enquanto levantamos o olhar à procura dos morcegos (praticamente ausentes nesta noite), somos convidados a reparar em algumas das árvores que mais facilmente se recortam contra o breu alaranjado (da iluminação das ruas) do céu noturno. É o caso dos exuberantes dragoeiros, cuja seiva fica da cor do sangue quando exposta ao ar, e das várias espécies de palmeiras que ali crescem e constituem uma das mais importantes coleções da Europa.

Quando a visão começa a adaptar-se à escuridão, é hora de regressar ao mundo exterior. Com 4 hectares e um conjunto botânico formado por mais de 1300 espécies, algumas delas ameaçadas de extinção, o Jardim Botânico é um espaço vivo no coração de Lisboa que não se dá a conhecer numa única visita. A oportunidade para percorrer o seu lado habitualmente oculto ao público confirma que há muito para aprender, até mesmo no escuro.

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência promove regularmente visitas noturnas ao Jardim Botânico de Lisboa. Para mais datas, podem acompanhar a sua agenda de atividades.

O mundo inteiro no seu email!

Subscreva a newsletter do SAPO Viagens.

Viaje sem sair do lugar.

Ative as notificações do SAPO Viagens.

Todas as viagens, sem falhar uma estação.

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOviagens nas suas publicações.