Mesmo com o cozinheiro ausente, os empregados cabo-verdianos da Casa Café Mindelo garantem já conhecer “os temperos portugueses e a forma de preparar os pratos da casa”, como a cataplana à algarvia.
À noite, há música de Cabo Verde, ao vivo, enquanto à mesa é servida a culinária portuguesa.
Este é um dos estabelecimentos abertos na Baía do Porto Grande, coração da cidade do Mindelo, mesmo ao lado do mural de Cesária Évora, esculpido pelo português Vhils.
Uma das dificuldades dos restaurantes da ilha é encontrar todos os ingredientes, diz o gerente da Pastelaria Morabeza.
“Há muita falta de matéria-prima, que acho que é o ponto crítico”, conta Júlio Costa à Lusa, explicando que procura importar o que faz falta para os clientes saborearem pastéis de nata, bolas de berlim ou outros produtos, como em Portugal.
A pastelaria até fica situada numa das casas comerciais com história na ilha, a antiga e famosa Casa Miranda, o que, segundo o gerente, é uma mais-valia do espaço.
“A casa em si já tem história, é muito conhecida e tudo ajuda no negócio”, sublinha.
A Casa Miranda foi uma das grandes mercearias onde se encontrava tudo em termos de produtos alimentares, propriedade do antigo professor de desenho Rui Miranda.
José Leão, luso-caboverdiano, antigo cliente da Casa Miranda e agora freguês da Pastelaria Morabeza, relembra com nostalgia a antiga loja.
Hoje, quando quer matar as saudades de Portugal, é na Morabeza que encontra a sua favorita francesinha à moda do Porto.
Adepto da cozinha portuguesa, costuma fazer um roteiro pelas casas portuguesas no Mindelo e quando quer comer o bacalhau à lagareiro, ou uma sardinha assada, vai ao Crazy Chicken, propriedade de pai e filho portugueses e de um cabo-verdiano.
A viagem pela gastronomia portuguesa é conduzida também por cozinheiros cabo-verdianos, como Cecílio Gomes, ex-emigrante que trabalhou em restaurantes de meio mundo e encontrou em Portugal a cozinha com que mais se identifica.
“Aqui faço mais pratos portugueses do que de outros países. Portugal foi o meu centro, onde aprendi tudo o que sei e hoje, se sou cozinheiro, é graças a Portugal”, conta à Lusa.
Já reformado, com quase 40 anos de experiência, 17 dos quais a trabalhar em cozinhas portuguesas, abriu o seu próprio restaurante na principal rua de Monte Sossego, uma das zonas mais populosas da ilha de São Vicente.
Em quase dois anos de portas abertas, diz já ter clientes fiéis, alguns dos quais portugueses, que Cecílio acredita encontrarem nos seus pratos uma forma de voltar a casa durante os momentos de uma refeição. Frango na brasa, costeleta de porco, arroz de marisco são alguns dos cartões de visita.
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