Apesar de ser uma das bebidas mais populares do mundo – e, entre as alcoólicas, a mais consumida – a cerveja nem sempre reúne consenso. Há os que a amam e os que a odeiam, os que só gostam da loira e o que se deliciam só com a preta. E podíamos identificar mais personas que, como estas, servem só para desbloquear conversas, porém, o universo da famosa bebida é amplo e há lugar para o “meio termo” – constatamos na Gulden Draak.

Diga-me quais são os seus sabores favoritos, dir-lhe-ei que cerveja beber

Este podia ser o slogan da Gulden Draak, que fica em frente ao metro de Picoas, fora do hub turístico da capital. Situado na rua Andrade Corvo, é o primeiro espaço na capital dedicado a esta mítica cerveja belga.

Mal entramos, ficamos surpreendidos pelo tamanho do espaço: 450 metros quadrados. À medida que avançamos, percebemos que este é um mundo paralelo: o da cerveja. Não percebemos imediatamente quantas são, mas percebemos que existem muitas torneiras de cervejas (e nenhuma é Sagres ou Super Bock).

Gulden Draak em Lisboa
O bar tem um dos balcões mais impressionantes da cidade, a começar no número de torneiras que ostenta. créditos: Pedro Neves

Como então saberemos qual escolher – especialmente se não somos grandes apreciadores de cerveja?

Para nos ajudar nesta tarefa, sentamo-nos à mesa com Verônica Fernandes, que em conjunto com o marido, Neko Pedrosa, gere o espaço. Por conhecermos já a história do casal, que se mudou do Brasil (onde trabalhavam como produtores culturais) para Portugal em 2016, não resistimos em perguntar o porquê de terem decidido apostar no mundo da cerveja.

Natural do Rio de Janeiro, Verônica partilha que a paixão nasce com o marido, que é de Belo Horizonte onde, diz a brincar, “não tem mar, tem bar”. Ao lado do marido, a sócia da Gulden Draak foi-se interessando e descobrindo o mundo da cerveja.

Já em Portugal, decidiram trazer para a capital a filial do icónico bar de cervejas belgas Delirium Café que acabou por ser inaugurado, em 2017, no Chiado. O sucesso desta casa levou-os a decidir criar mais um espaço. Conta-nos Verónica que a Gulden Draak era para ter nascido em 2020, porém, a pandemia forçou-os a adiar o projeto, mas nunca a desistir.

Dos tempos de pandemia, recorda-se dos desafios, do silêncio da cidade, da ausência dos turistas, mas não esquece quem marcou presença no Delirium. “Nós vivemos a pandemia com eles (os residentes de Lisboa). Muitos não conheciam muitas cervejas, mas cresceram connosco. Eram eles que estavam sempre na abertura. Fizemos entregas…", recorda com emoção (e algumas lágrimas).

Então, não é de espantar que a segunda casa do casal tenha sido inaugurada nesta área mais empresarial e menos turística.

“Queríamo-nos aproximar mais dos portugueses”, comenta Verônica.

Nesta casa, a Gulden Draak, existem 50 torneiras com cervejas de diferentes países, incluindo da marca que lhe dá nome. E como se não bastasse a variedade de cervejas, “cada cerveja tem um copo diferente”.

Percebemos que há mais ciência para degustar uma cerveja do que aquela que imaginávamos, mas não faz mal, a equipa da Casa está lá para nos ajudar a escolher uma cerveja que se adeque ao nosso perfil. Conforme nos explica o casal, existem cervejas mais doces, como a de frutos vermelhos, a Fourchette que mistura dois estilos leves e refrescantes e que é ideal para acompanhar uma refeição, como também existem variedades com travo de whiskey ou com rum. A probabilidade de se encontrar uma cerveja que se aprecie é grande.

Um espaço versátil

Em conversa com o casal, percebemos que estão envolvidos em todos o processo da Casa. Provaram todas as cervejas que servem e viajam para selecionar e conhecer novas variedades.

A decoração, que se inspira e procura traduzir o espírito da marca, foi pensada por Verónica. Como ponto de partida, utilizou o copo da Gulden Draak, inspirado no ovo do dragão, para criar uma instalação de luz com 350 luminárias.

As cores do espaço: branco, preto e vermelho, também refletem a marca e desdobram-se em paredes com azulejos, em texturas, e estampas, que formam um grande mosaico. O mobiliário mistura cadeiras de bistrô, sofás de veludo e fotos antigas. Depois, existe um aquário de vidro, que nos permite ver os barris e perceber de onde vêm as cervejas que estamos ou vamos beber.

A iluminação foi outra forte aposta da Casa – o casal queria que existisse dramaticidade. Deste modo, convidou Renato Machado, um premiado iluminador carioca, atualmente a residir em Lisboa e professor da Universidade de Évora.

Gulden Draak em Lisboa
Também há espaço para jogar um pouco de bilhar. créditos: Pedro Neves

Ainda que a cerveja seja a “rainha” da casa há espaço para um jogo de bilhar ou de setas. Conforme Verónica, o casal procurou criar um “espaço versátil” e com um conceito gastronómico “forte”.

Ao comando da cozinha, encontra-se o chef António Alexandre que nos traz à mesa pratos ou petiscos que nos são familiares, tanto portugueses como internacionais, com um toque inovador e por vezes com cerveja na composição. Entre as várias propostas, encontra-se a bruschetta de presunto, polvo assado, hambúrguer de atum ou a barriga de porco.

Entre as sobremesas, pode deliciar-se com um bolo de chocolate, pistachios e creme inglês da Gulden Draak, cheesecake de Baileys e molho de café, Tiramisú de cerveja ou espetada de fruta com leite creme.

Gulden Draak em Lisboa
Mais uma das mensagens que podem brindar os clientes que pedirem Fourchette. créditos: Pedro Neves

“Pense em tudo que pode correr bem”

Na Gulden Draak, não existem biscoitos da sorte mas mensagens inspiradoras nos copos da Fourchette. Dito isto e se ainda tem dúvidas se este é um sítio a colocar ou não no seu radar, foque-se no pode correr bem, independentemente de apreciar ou não cerveja. A garantia é que não vão faltar escolhas (existem ainda cocktails, vinhos e bebidas sem álcool).