O Núcleo Regional do Megalitismo de Mora, no distrito de Évora, é uma iniciativa da câmara municipal, com comparticipação a 85% de fundos comunitários.
O projeto envolveu a recuperação da antiga estação de caminho-de-ferro da vila, que se encontrava desativada, e a construção de dois outros edifícios.
“Eu costumo dizer que a gente já não vê passar aqui o comboio há mais de 20 anos” e, como “tínhamos a antiga estação da CP a degradar-se, foi pegar em dois edifícios e recuperá-los, embora mantendo toda a traça inicial”, explica à agência Lusa o presidente da câmara, Luís Simão.
Além do museu que tem entradas gratuitas para os habitantes locais durante uma semana, o equipamento a inaugurar na quinta-feira inclui também uma sala de atividades para as crianças, Espaço Internet, Biblioteca e uma cafetaria.
Mora, realça o autarca, “é um concelho que está um pouco na moda”, graças ao Fluviário, museu dedicado aos rios ibéricos e aberto desde 2007, e, com o museu do megalitismo, o município quer que “fique ainda mais na moda e que as pessoas permaneçam mais tempo” na zona.
“Queremos ter mais coisas para lhes oferecer. É importante que as pessoas fiquem aqui porque criam riqueza, deixam mais algum dinheiro, vão a um restaurante, mexem um pouco mais com a nossa economia”, diz Luís Simão.
O espólio do novo museu “representa os períodos mais antigos do Neolítico, ou seja, há cerca de 6.500 anos, quando as primeiras comunidades de agricultores se estavam a desenvolver e a estabelecer no interior alentejano, até ao período visigótico”, refere.
As mais de 100 peças arqueológicas expostas foram recolhidas no concelho, um dos mais ricos do Alentejo em vestígios megalíticos, mas também em Sesimbra e Alter do Chão - cedidas pelas respetivas autarquias -, para mostrar que, no litoral como no interior, as práticas funerárias do período megalítico eram semelhantes.
“Quisemos representar, sobretudo, o período megalítico no concelho de Mora, mas chegámos um pouco mais à frente” e, no futuro, “vamos ter peças de mais sítios arqueológicos do Alentejo”, admite Luís Simão.
A interatividade é a grande aposta do espaço. Um filme em três dimensões recebe os visitantes, que, depois, “serpenteiam” por entre gigantescas estruturas de madeira que se assemelham a relevos do terreno, onde se “escondem” vitrinas interativas, com peças arqueológicas, ou maquetas de uma anta ou de antigos povoados pré-históricos.
“Tentámos que este museu seja, por um lado, moderno, utilizando já estas novas tecnologias, e, por outro lado, um museu muito virado para o público em geral e não para o público especialista”, ou seja, com “um discurso simples para que toda a gente perceba”, explica à Lusa a coordenadora científica do núcleo, a arqueóloga Leonor Rocha.
Para a arqueóloga, que tem desenvolvido escavações neste concelho, Mora “já merecia um museu destes”, devido ao seu “longo historial de investigação arqueológica” e à “grande diversidade” de monumentos megalíticos do concelho.
“Mora foi o primeiro concelho do Alentejo que teve uma escavação programada”, com uma campanha arqueológica entre 1914 e 1918, por Vergílio Correia, e outra entre 1933 e 1938, por Manuel Heleno, sendo que “99% desse espólio se encontra no Museu Nacional de Arqueologia (MNA)”, diz.
“Aquilo que fizemos foi negociar um protocolo com o MNA para trazer para cá uma parte dessas peças. A ideia é, ciclicamente, irmos mudando as peças para mostrar o vastíssimo espólio do concelho”, explica.
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