Chegou o dia, somos já essa casa, de seis pernas e braços, de que vos falámos.
E este dia: é passado, é presente e futuro, em nós. Neste dia: somos passado - com tudo o que já vivemos; somos presente - porque todas essas histórias já vividas nos trouxeram até aqui, até este dia, até este acreditar que os sonhos são para serem vividos; e somos futuro por adivinhar - porque no dia em que decidimos dar este passo, largar empregos, largar as ruas pelas quais passamos todos os dias, deixar o supermercado onde, todas as semanas, fazemos as compras e todas as coisas que damos por certas, dia após dia, nesse mesmo dia soubemos que não mudaríamos apenas o presente mas também o devir.
Vamos encher os olhos de mundo, os corações de histórias de terras que ainda não conhecemos, de pessoas que ainda não têm nome em nós; de momentos que a nossa memória vai guardar para deles construir memórias para o futuro.
Nesse balão entraremos pelo mundo adentro, e dentro dele vamos nós: com pouco do que temos (são 20 kg de coisas), mas com tudo o que somos e isso não se mede em quilos, nem litros, nem cifrões: somos família, somos amor, somos três corações, somos mil vontades, somos um sonho a formar-se, somos esperança, somos tudo. Dizem que tudo o que temos nos possui, nos limita ou delimita, acredito que sim, por isso, para levantarmos voo precisámos (simbólica e economicamente) de nos ir libertando de coisas que possuíamos; precisávamos de ‘deitar para fora’ da cesta tudo o que não fosse essencial. Sabíamos desses vinte quilos - era a dose certa -, nem mais, nem menos e transformamos uma casa em 20 kg, fomo-nos desapegando de tudo o que nos impedisse de (sub)ir. Passámos a ter menos, mas, tenho a certeza, passaremos a ter-nos mais.
E hoje já estamos a subir, dentro e alto, como o sonho que levamos connosco. Porque ninguém, que não nós mesmos, nos tratará dos sonhos.
Chegámos a Paris, aqui nos despediremos da Europa.
Artigo originalmente publicado no blog Menina Mundo
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