Nunca tanto se associou direitos humanos ao futebol. A culpa é do Qatar, país onde trabalhadores são escravizados, homossexuais são presos e mulheres podem ser açoitadas ou apedrejadas. E país que se sabe desde 2010 que iria receber o Mundial de Futebol de 2022. Mas, então, se já sabe há tanto tempo porque é que só agora se aponta tanto o dedo?

Não é bem assim, ao longo dos anos, houve quem alertasse para tal cenário e quem criticasse uma escolha já em si envolta em suspeitas de corrupção. Mas nada foi feito para evitar o desfecho que agora vemos. Os cães ladram e a caravana passa.

Infelizmente, assim vai o mundo. Vemos tantos direitos humanos a serem violados todos os dias e assistimos também à inação de quem pode fazer algo para melhorar a situação.

Do Irão que mata as suas meninas, mulheres e outros manifestantes em prol da moral e dos bons costumes ditados por um regime fundamentalista; da Rússia que manda jovens para guerra como se fossem carne para canhão e que, antes disso, também perseguia (e persegue) homossexuais, por exemplo. Se fôssemos falar da violação dos direitos humanos por parte da Rússia, abríamos aqui um novo texto – ah, e a Rússia também recebeu um Mundial não faz assim muito tempo.

Os EUA regrediram anos em alguns estados com as leis antiaborto; os migrantes que são deixados à sua sorte no Mediterrâneo; Israel faz de Gaza uma prisão a céu aberto; no Afeganistão, os talibãs riscaram os direitos humanos da sua forma de governar; a China persegue minorias. Há tanto e tanto para apontar. Tudo bem que estes países não estão agora a receber um evento mundial e, portanto, não estão sob os holofotes dos media.

Mas já que o Mundial trouxe o tema que nunca deveria sair de volta à agenda, é bom que se faça uma reflexão sobre como podemos fazer a nossa parte no que toca à vigilância dos direitos humanos.

Podemos começar por situações que nos são mais próximas. Está comprovado que grandes marcas de fast fashion ou gigantes tecnológicas usam trabalho infantil ou exploram trabalhadores ao ponto de não os deixarem fazer pausas para ir ao WC, por exemplo. E muitos de nós continuamos a comprar roupas nestas mesmas lojas e a aproveitar os saldos da Black Friday sem pensar nas consequências. Pois é, assim torna-se fácil (e até hipócrita) criticar o Mundial do Qatar.

O SAPO está a acompanhar o Mundial mas não esquece as vidas perdidas no Qatar. Apoiamos a campanha da Amnistia Internacional e do MEO pelos direitos humanos. Junte-se também a esta causa.