Em São Pedro, naquela ilha do barlavento de Cabo Verde, arquipélago cujo Produto Interno Bruto depende em 25% do turismo, a realidade da ocupação dos 104 quartos do Hotel Foya Branca tem sido “preocupante”, admite o gestor.
“A época está a decorrer bastante mal, não há turistas e sendo um país que vende turismo internacional e com os principais mercados fechados, as nossas expectativas não podem ser altas”, lamenta, em conversa com a Lusa, o gestor do hotel, Cadima Ribeiro.
Acrescenta que têm optado por outra dinâmica comercial, a preparar as épocas futuras e apostando no turismo voltado para os clientes nacionais, mas que são ainda residuais.
“O hotel tem feito vários esforços, mas cada vez está mais difícil manter as portas abertas nestas condições. Temos uma taxa de ocupação que ronda os 2%, temos estado em regime de ‘lay-off’, a tentar a todo o custo não dispensar ninguém, mas num futuro muito próximo, se mantivermos assim, vamos ser obrigados a despedir trabalhadores”, admite.
Acrescenta que foi dos poucos hotéis que na segunda ilha mais importante de Cabo Verde não fechou portas durante o primeiro período da pandemia, em 2020, e que tentaram salvaguardar os postos de trabalho até ao momento.
Contudo, pede mais medidas para que os investidores possam continuar a acreditar no mercado nacional: “Apesar de compreender que o Governo está a fazer aquilo que é possível, deveria haver alguns apoios financeiros, sobretudo a empresas como a nossa, que estão a tentar não despedir ninguém e manter as portas abertas”.
No final de 2019, imediatamente antes do período da crise provocada pela pandemia, funcionavam em São Vicente 49 unidades de alojamento, o segundo maior registo do país, representando 6,1% do total de camas disponíveis no arquipélago, e empregando diretamente 549 trabalhadores locais, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. A ilha de São Vicente representou ainda cerca de 6% dos mais de 819 mil turistas que Cabo Verde recebeu em 2019, mercado largamente concentrado no 'sol e praia' das ilhas do Sal e da Boa Vista.
No Blue Marlin, que funciona no Mindelo, centro da ilha de São Vicente, desde março de 2018, com 21 quartos e um apartamento, a gestora do hotel conta que a época até tem corrido bem e que a pandemia não “espantou” a clientela.
“Não tenho tido problemas nesta época, a minha taxa de ocupação ronda os 80%. Nunca fechei, mesmo com a pandemia, trabalho com o público nacional e o internacional, inclusive de São Vicente e sou muito procurada por passageiros que desembarcam no Porto Grande”, garante Vitoria Rosário.
Neste momento dispõe apenas de 14 funcionários, mas antes da pandemia eram mais.
“Março, abril e maio do ano passado foram os três meses mais difíceis. Tivemos uma queda, tive medo e resolvi dispensar funcionários. Depois resolvi recontratar alguns”, recordou, admitindo que teve de recorrer ao ‘lay-off’ para ultrapassar as dificuldades.
Já no Hotel Casa Tambor, igualmente em São Vicente, a estratégia, de acordo com a gestora Elisabete Rodrigues, passou pelo corte para metade dos preços de dormida, acrescentando “pacotes atraentes” para o público nacional, em especial o local.
Explicou que comprou o hotel em 2019 e que no início os clientes reservavam quartos eram geralmente estrangeiros, mas que a nova realidade obrigou à aposta no nacional.
“Recebíamos mais holandeses, que procuravam a tranquilidade do nosso espaço, mas com a pandemia, optamos por atrair o público daqui, que se surpreendeu com o conceito do local. Aos finais de semana costumamos estar mais cheios do que nos outros dias e tem compensado”, contou, recordando que, além de dormida, passou a incluir pacotes para o restaurante, acesso à piscina do hotel e disponibilizando o espaço para eventos.
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