Enquadrada entre as montanhas e o rio Zêzere, a aldeia de Janeiro de Cima, concelho do Fundão, recebe-nos num fim da tarde de sol, com o brilho do xisto e dos seixos que compõem parte das casas do centro da povoação.
A última parte da viagem foi feita a percorrer estradas sinuosas entre serras, com o rio a serpentear aqui e além, criando um cenário fora de série. Assim, ao chegar na aldeia há a sensação de que estamos num lugar recôndito, mas não sentimos isolamento, uma vez que vamos sendo recebidos por alguns habitantes que aproveitam o final de tarde à porta de casa.
Dá-se aquela troca de “boa tarde” já tão fora de uso nas cidades, mas que sabe tão bem. E, finalmente, chegamos à Casa da Eira. Esperam-nos os anfitriões Paulo e Catarina Gama, donos deste projeto de alojamento.
A casa pertence à família de Paulo desde os trisavós que se estabeleceram ali naquela aldeia em busca de terras mais férteis, tendo sido convertida numa unidade alojamento cheia de charme e de espaço.
São cinco quartos, todos com casa de banho privativa, uma cozinha muito bem equipada (onde encontramos alguns “miminhos” como pão fresco, compotas, queijos e vinhos da região), uma sala com lareira, espaço exterior com churrasqueira, forno de lenha e uma grande piscina com vista para a aldeia.
Dá para levar toda a família e é o que tem acontecido desde que o espaço inaugurou em dezembro de 2020. Neste momento, a casa pode ser apenas reservada por completo, sendo, por isso, ideal para grupos numerosos de até dez pessoas.
Todas as instalações apresentam o máximo do conforto, com vários detalhes de uma encantadora casa de campo, incluindo um sótão que faz as delícias dos hóspedes mais jovens.
Janeiro de Cima, uma aldeia com vida
No início de setembro, quando visitamos a aldeia, a calma e o silêncio já tinham tomado conta das ruas estreitas de Janeiro de Cima, mas no mês de agosto a situação havia sido bem diferente. Emigrantes, saudosos da terra natal, e outros visitantes deixaram as ruas cheias, num ambiente de festa.
Mas não é só em agosto que a aldeia tem movimento. Paulo e Catarina contam-nos que Janeiro de Cima tem uma comunidade de moradores forte, que se mantém unida e organiza vários eventos ao longo do ano. Há caminhadas, provas de BTT ou passeios de motas. Há ainda concertos de música e um festival que já faz parte dos roteiros da arte e cultura tradicional, o Festival Raiz d’Aldeia que se realiza junto à praia fluvial de Janeiro de Cima.
Quem quiser estacionar o carro e não voltar a pegar nele até ao final da estadia pode fazê-lo, uma vez que a aldeia está bem servida de mercados, cafés e restaurantes, sendo possível percorrer tudo a pé.
Vale mesmo a pena calcorrear as ruas de Janeiro de Cima, atravessando os quelhos, nome dado às ruelas mais estreitas.
No centro da aldeia, a maioria das casas exibe o xisto característico das construções antigas, mas nem sempre assim foi. Houve uma fase em que cobrir as pedras das casas era sinal de riqueza e muitas famílias acabaram por rebocar as paredes. Atualmente, com a valorização deste património, há uma tendência contrária.
Onde também se valoriza tradições de antigamente é na Casa das Tecedeiras que tem as suas portas abertas para quem conhecer mais sobre o ciclo do linho e outros processos têxteis artesanais.
Outra paragem obrigatória de Janeiro de Cima é a praia fluvial, que nos acolhe na margem esquerda do Zêzere. O espelho de águas calmas convida a um mergulho ou a um passeio de barca, se for possível. As barcas relembram outros tempos – o tempo em que os habitantes locais utilizavam este meio de transporte para cruzar o rio e quebrar o isolamento.
Ao atravessar para a margem direita do rio, por cima de uma pequena queda de água, há um caminho para um miradouro de onde a vista consegue abarcar a aldeia toda.
Onde comer
Durante a nossa estadia, fomos conhecer o Bar Passadiço, que apresenta uma agradável esplanada suspensa numa passagem que liga duas casas. O bar serve refeições ligeiras e é um espaço onde somos recebidos com simpatia e onde podemos ficar a conhecer mais sobre a história de Janeiro de Cima.
Para refeições mais completas, sugerimos de olhos fechados o Fiado Restaurante, onde é possível experimentar várias iguarias da gastronomia regional e não só. Logo nas entradas somos surpreendidos com vários petiscos e os pratos principais são deliciosos, confecionados com equilíbrio.
O que visitar
Para quem fica apenas um fim de semana, deixamos três sugestões de lugares a conhecer.
Janeiro de Baixo, a aldeia vizinha na outra margem do Zêzere, que também conta com uma bela praia fluvial.
Os Passadiços do Orvalho, com destaque para os miradouros e para a bonita Cascata da Fraga de Água d’Alta.
Finalmente, a Barragem de Santa Luzia que possibilita vistas vertiginosas para as formações rochosas características desta região, as cristas quartzíticas da Beira Baixa, e que também tem uma praia fluvial.
Para quem tiver mais tempo, deixamos aqui uma sugestão de roteiro pelas Aldeias do Xisto do Zêzere.
O SAPO Viagens visitou a região a convite da Casa da Eira
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