Depois de uma viagem pelo Parque Natural da Arrábida, encontrámos o Hotel Casa Palmela e bastou passar pelo portão para perceber que chegamos a um refúgio perfeito para desfrutar da tranquilidade que a região oferece. A Casa Principal está repleta de charme e romantismo, naquele que foi o primeiro hotel de cinco estrelas em Setúbal. Rodeada pela natureza deslumbrante da Serra da Arrábida, a casa senhorial tem um passado único e está repleta de histórias a cada canto.

A propriedade, com cerca de 70 hectares, pertence há mais de 200 anos à família Palmela e abriu portas ao público em agosto de 2016. Assim que passamos pela porta encontramos vários painéis da azulejos a forrarem as paredes. O objetivo do hotel é fazer com que os hóspedes se sintam em casa e é assim que somos recebidos, convidados a sentar e a tomar uma bebida enquanto fazemos o check-in. 

Master Suite
Master Suite créditos: Susana Sousa Ribeiro

Fomos conduzidos ao nosso quarto, a Master Suite que parece saída de um conto de fadas. É o quarto mais emblemático e amplo da casa, com zona de estar interna separada do quarto e com varanda. Este quarto foi o quarto dos donos da casa e, como tal, é o quarto mais nobre. A vista da varanda é encantadora, o quarto muito confortável (e bonito) e a casa de banho enorme tem uma banheira azul perfeita para relaxar ao fim do dia. Os quartos estão decorados em tons leves, como azul claro, verde água e rosa pálido e estão divididos entre o edifício principal e a casa do jardim, sendo que o espaço também dispõe de casas familiares e de hóspedes e espaço para eventos.

A casa senhorial está repleta de história e recordações de família. Cada quarto conta uma história única e tem o seu encanto particular. A antiga biblioteca é agora um quarto deluxe, o único quarto sem mesinha de cabeceira, uma vez que foram aproveitadas partes das estantes da biblioteca. As lareira, existentes em alguns dos quartos, foram feitas com mármore da Serra da Arrábida, cuja exploração, atualmente, é proibida.

Lavatório onde Amália Rodrigues lavava o cabelo Susana Sousa Ribeiro

Na casa de banho de um dos quartos é possível encontrar um lavatório peculiar: trata-se do lavatório onde Amália Rodrigues lavou o cabelo. A peça foi colocada à venda pelo cabeleireiro que a fadista frequentava e adquirida para ser usada num dos quartos.

Por todo o espaço existem recordações de família que contam a história de casa, existem fotografias, livros de estudo, móveis originais, conjuntos de chá entre muitas outras peças. À entrada, encontrámos duas esculturas da autoria de Maria Luísa de Sousa Holstein, a terceira Duquesa de Palmela, conhecida como sendo a fundadora das Cozinhas Económicas, que serviam refeições por uma módica quantia.

"Casa de Banho do Papa" Susana Sousa Ribeiro

Na casa, que foi um antigo colégio jesuíta, é possível visitar a capela e uma casa de banho de - conhecida como casa de banho do Papa, por ser ao lado da capela - que tem a particularidade de ser revestida de azulejos do chão ao teto, um recanto de beleza única.

Jantar e Pequeno-almoço

Tivemos oportunidade de jantar no Hotel Casa Palmela, numa experiência intimista e acolhedora. Os funcionários são simpáticos e atenciosos, fazem recomendações aos mais indecisos, sempre muito prestáveis. O pão chegou quentinho perfeito para a manteiga e azeite, tudo feito na quinta. O jantar foi muito agradável, com vários produtos da horta biológica e  a sobremesa estava especialmente deliciosa.

Pequeno Almoço Susana Sousa Ribeiro

No mesmo espaço, é servido o pequeno almoço, até às 10h30. Tem uma grande variedade de pães, croissants folhados, pastéis de natal, folhados de maçã, sumo de laranja natural (muito, muito bom), fruta fresca, queijos e fiambre e várias compotas. Como o hotel não estava cheio quando o visitámos, o pequeno almoço foi servido à mesa, ao contrário do que acontece quando tem muitos hóspedes, em que funciona como buffet. Cereais, iogurtes e ovos podiam ser pedidos, assim como o café. Os funcionários estavam sempre disponíveis para nos servir qualquer outra opção. Como o tempo não estava convidativo, fizemos a refeição no interior, mas nos meses de verão pode ser servido no exterior, com a vista deslumbrante para as vinhas e a serra.

 Experiências e Actividades

Para quem quer desfrutar da quinta e da região ao máximo existe várias actividades disponíveis, quer seja organizadas no local ou com vários parceiros da região. Os hóspedes podem desfrutar de massagens, fazer passeios a cavalo, percursos pedestres na serra de São Luís, passeios de barco, piqueniques além de actividades de enoturismo. Outra das opções é uma visita à casa museu e caves José Maria da Fonseca, empresa que explora as vinhas da Casa Palmela. Como o espaço está inserido na Serra da Arrábida, recebe muitos hóspedes que têm como objetivo explorar a zona para atividades específicas como birdwatching (observação de aves).

Cavalos após passeio Susana Sousa Ribeiro

A história de Amor: A menina que desafiou o Marquês de Pombal

Em tempos, a casa funcionava como um colégio de jesuítas, uma espécie de casa de férias onde poderiam descansar. Sempre que ganhavam uma parcela em Setúbal, os jesuítas vendiam para que pudessem comprar mais uma parcela da Quinta do Esteval – que era mais extensa do que atualmente. A casa passou de geração em geração até chegar às mãos de Vicente José Roque de Sousa Coutinho Monteiro Paim, que tinha uma filha, Isabel Juliana.

Isabel cresceu ao lado de Alexandre Holstein Beck, que vivia na Quinta de Calhariz, a poucos quilómetros dali. O casal acabou por se apaixonar e fazer promessas de casamento. No entanto, Isabel foi forçada a casar pelo conde de Oeiras - ainda à espera de ser marquês - mas já um homem poderoso a quem dificilmente se dizia não.

Sebastião José de Carvalho e Melo sabia que Isabel era herdeira de uma grande fortuna e de um honroso nome de família e tratou de combinar o casamento da menina de 14 anos com o seu segundo filho, José Francisco. A família de Isabel concordou com o enlace, mas Isabel – apaixonada por Alexandre – era de outra opinião.

Isabel foi obrigada a subir ao altar, ao lado de José Francisco de Carvalho Daun, todavia, o casamento não foi consumado, devido à resistência de Isabel Juliana, que ficou conhecida pelo cognome de “Bichinho de Conta”, pois cosia os lençóis e inventava outras barreiras para que nada se passasse no leito conjugal. Com toda Lisboa a saber do escândalo, o Marquês pediu a anulação do casamento ao Vaticano, em 1771 e enviou Isabel para o convento de Santa Joana, onde a abadessa era a irmã do Marquês. Isabel foi, depois, desterrada para o Convento do Calvário, em Évora, onde era absolutamente proibido contactar fosse com quem fosse.

Quando o rei D. José I morreu em 1777, a rainha D. Maria I demitiu o ministro de seu pai, o marquês de Pombal e Isabel vê-se finalmente livre. Alexandre ainda solteiro, herdeiro de uma fortuna e de um título, corre para os braços da sua amada, que ainda vai visitar atrás das grades do convento de Évora. Casam em julho de 1779, abençoados pela rainha Maria I, que será madrinha do seu filho e futuro primeiro duque de Palmela, Pedro de Sousa Holstein, nascido dois anos depois, em Turim.

A Casa Palmela pertenceu, então, a Pedro de Sousa Holstein, tendo depois passado para o seu filho, mantendo-se nessa família até aos dias de hoje