Localizada no município de O Grove, província de Pontevedra, chegamos à ilha de La Toja, ou A Toxa (em galego), depois de atravessar uma ponte sobre a Ria de Arousa, a mais extensa das rias da Galiza.

Somos transportados para um ambiente calmo, com pinheiros junto ao areal. De relance, vemos burros a pastar um pouco mais acima. E, se todos os lugares guardam histórias, a lenda mais conhecida de La Toja começou com um destes animais.

“Um burro manchado, tão pelado e tão coberto de feridas e chagas que dava horror”, escreveu a escritora galega Emilia Pardo Bazán, num livro publicado em 1899. A lenda conta que o dono, sem saber o que fazer ao animal doente, deixou-o à sua sorte na ilha. Contudo, após um tempo, encontrou o burro “saudável, gordo e sem marcas”, continua a descrição.

O motivo da cura: as águas termais ricas em sais minerais que brotam na ilha. O burro esfregava-se nas lamas onde nasciam as águas termais, curando as doenças de pele. Assim começava outra história, a do turismo termal, que é indissociável ao Gran Hotel La Toja.

A lenda do burro, hoje contada através de uma escultura no jardim central de La Toja, fez sucesso e serviu de rampa de lançamento para uma nova fase da ilha que, até então, permanecia praticamente deserta.

Um hotel histórico

Quando cruzamos a porta giratória do Eurostars Gran Hotel La Toja somos remetidos para o glamour do início do século XX que ainda se mantém na decoração clássica e requintada dos espaços.

Obra do arquiteto galego Daniel Vázquez Gulías, o hotel foi inaugurado em 1907 com o objetivo de afirmar-se como um polo de turismo termal de elite na Galiza e atrair visitantes nacionais e internacionais. Com mais de 100 anos de história, o hotel foi-se modificando – da primeira fachada de estilo romântico hoje já só restam fotografias – e adaptando-se às diferentes épocas que atravessou.

Atualmente, é um dos hotéis com maior capacidade de alojamento da Galiza e um balneário termal de cinco estrelas com vários tratamentos indicados para problemas de pele, articulações, respiração e, até, stress e insónia.

Nestes dias longos de verão, é possível aproveitar com calma todos os espaços do hotel. A começar pelo luminoso terraço onde é servido o pequeno-almoço buffet. A primeira refeição do dia tem todas as indulgências que desejamos num pequeno-almoço de hotel, sem esquecer iguarias espanholas, como os churros, as tortillas e uma mesa dedicada exclusivamente a delícias galegas, como os enchidos, os queijos ou a famosa tarte de Santiago.

Eurostars Gran Hotel La Toja
Pequeno-almoço com vista créditos: DR

O spa conta com uma oferta variada de tratamentos e bastante espaço, o que confere exclusividade e privacidade. Um dos nossos recantos favoritos durante a estadia foi a grande piscina exterior, “paredes-meias” com a ria, com espreguiçadeiras e guarda-sóis amarelos.

Ficar alojado num dos 199 quartos do Gran Hotel La Toja é ter uma experiência de luxo, mas, ao mesmo tempo, sentir-se num ambiente familiar e descontraído. “Temos clientes habituais cujos avós já se hospedavam aqui”, conta Mayte Bravo, responsável pela organização de eventos no hotel.

O nosso quarto, com vista para o belo jardim, era muito espaçoso e confortável. Um pormenor (importante) que nos conquistou: o silêncio durante a noite que nos embalou num sono reparador.

Experiência gastronómica

Hoje, mais do que nunca, quando se procura um hotel cinco estrelas, busca-se também por uma experiência gastronómica à altura e o Gran Hotel La Toja consegue cumprir.

Assim, durante a estadia, é possível provar o marisco de excelência que é produzido ali mesmo, na ria que envolve a ilha de La Toja. Não é à toa que o marisco das Rias Baixas é considerado um dos melhores do mundo.

Ameijoas, polvo, navalhas, vieiras e uma fantástica paella de lagosta foram algumas das iguarias que provamos, finamente preparadas pelo chefe Enrique Martínez. Sem esquecer o acompanhamento dos deliciosos vinhos da Galiza.

Para completar a experiência, embarcamos num passeio de barco pela Ria de Arousa. A bordo, somos recebidos com a boa disposição da tripulação que põe logo em cima da mesa uma bandeja de mexilhão e uma garrafa de vinho alvarinho. Começamos bem, mas o melhor ainda estava por vir.

Navegando pela Ria de Arousa e apreciando os recortes da paisagem, somos surpreendidos por um grande banco de bateas (jangadas onde se cultiva o marisco). Este é um dos maiores bancos de marisco do mundo e conta com centenas de bateas. As nossas companheiras de viagem foram as gaivotas que sobrevoavam o barco à espera de um petisco, criando uma imagem digna de um filme.

O barco faz uma paragem junto a uma destas jangadas onde vemos diversas cordas de mariscos: mexilhão, ostras e vieiras. Estas últimas são especiais, a sua concha perfeita é símbolo da Galiza e do Caminho de Santiago.

Passeio de barco pela Ria de Arousa
Passeio de barco pela Ria de Arousa créditos: Alice Barcellos

Capela de vieiras e sabonetes

Já que falamos em vieiras, um dos lugares mais emblemáticos da ilha de La Toja é a Capela de San Caralampio. O edifício do século XIX destaca-se por ter a fachada toda coberta com conchas de vieiras, sendo também chamado de capela das conchas.

A imaginação apressa-se a encontrar explicações para tal obra, mas nenhuma das nossas hipóteses era a certa. Entre os anos 40 e 50 do século XX, o município decidiu cobrir a capela de conchas para resolver o problema da humidade que, todos os invernos, manchava a fachada e afetava o interior do edifício.

Estas e outras curiosidades foram-nos contadas por Francisco Meis, um investigador da história local, que nos acompanhou por uma visita aos locais mais emblemáticos da ilha.

Visita pela ilha de La Toja
Visita pela ilha de La Toja créditos: Alice Barcellos

Depois de observarmos vestígios da primeira estância termal, entramos na loja da fábrica de sabonetes de La Toja, onde somos envolvidos pelo agradável aroma dos produtos de higiene que também se afirmaram como uma marca da localidade.

Antigamente, “a ilha cheirava a sabão”, diz Franciso Meis, evocando as memórias dos mais velhos que ainda se lembram quando a fábrica de sabão operava em La Toja. Hoje em dia, é possível visitar a loja e um pequeno museu que conta a história da marca.  Além de um sabonete, pode levar como souvernir um dos muitos colares e pulseiras de conchas que são vendidos em vários pontos da ilha.

Vinhos alvarinho

Para completar este puzzle galego de aromas, sabores e texturas, ficava a faltar uma visita a uma quinta vinícola. Ao chegar à propriedade da Granbazán, somos surpreendidos pelo distinto edifício coberto com azulejos azuis e um belo espigueiro que nos faz lembrar a proximidade com o Minho (vale a pena recordar que estamos a pouco mais de duas horas de distância do Porto). Mais adiante, estende-se a vinha da casta alvarinho ou albariño – a casta branca mais nobre do noroeste ibérico.

Uma das particularidades da quinta é o facto de a vinha estar toda plantada em ramadas. São 18 hectares e “esta é a única zona no mundo onde se planta uva alvarinho desta forma por causa da humidade”, explica Miriam, que conduziu a visita guiada.

Na sala de provas, vemos uma fotografia aérea que nos mostra como a quinta está mesmo próxima da ria, no Vale de Salnés, de onde chegam as uvas do vinho verde da Granbazán – um néctar com muita frescura e alguma acidez que acompanha muito bem o mexilhão.

Ficamos ainda a conhecer outros vinhos da marca, sendo que um deles, o Limousin, foi um dos pioneiros dos alvarinhos a ser envelhecido em barricas de carvalho francês. Uma experiência muito bem conseguida, como pudemos comprovar.

Trilhos, Hobbits e... burros

De volta à ilha de La Toja, uma curta caminhada a partir do hotel leva-nos às principais atrações. Uma delas é o Parque Florestal onde é possível seguir em alguns trilhos. Ali perto, há também um parque canino e um parque infantil com inspiração na Aldeia dos Hobbits, do Senhor dos Anéis.

Para completar a caminhada, uma paragem junto dos burros fariñeiros que pastam num cercado amplo. Os animais estão integrados num projeto do município para preservar esta raça autóctone que fez parte do dia a dia dos galegos num passado não muito distante. A presença dos burros também mantém viva a lenda que despoletou o turismo termal em La Toja.

Terminamos a visita com vontade de voltar e a dar razão à escritora Emilia Pardo Bazán que, assim, descreveu La Toja: "uma ilha no estuário de Arousa cuja galhardia e beleza se tornaram proverbiais na Espanha".

O SAPO Viagens visitou a região a convite do Eurostars Gran Hotel La Toja