Francisco Borges deixou Moncorvo numa expedição militar para defender Colónia del Sacramento. É uma bonita cidade que hoje pertence ao Uruguai e que permite o controlo da foz do Rio da Prata. Do outro lado da foz encontra-se Buenos Aires.
Colónia del Sacramento foi fundada pelos portugueses em 1608. Por sete vezes trocou de administração entre portugueses e espanhóis e ainda fez parte do Brasil. Foi aqui que começou um enigma que levou vários anos a descobrir.
O genial escritor argentino falava na sua antecedência portuguesa, os Borges de Moncorvo mas, como salienta o historiador Nelson Rebanda, por vezes era difícil separar a ficção da realidade na vida e obra de Jorge Luís Borges.
“Ele lembrou-se de dizer isso já numa fase avançada da sua vida. Até dedicou um poema aos seus antepassados, os Borges. Foi mais ou menos nos anos 70”. Ele esteve para vir a Moncorvo por volta de 1985 mas essa visita não se chegou a concretizar. Havia quem colocasse em dúvida esta referência de Jorge Luís Borges, “que fosse mais um dos jogos borgianos”.
É mais ou menos nesta altura, na década de 80, quando Jorge Luís Borges criou a expectativa de visitar Torre de Moncorvo, que Nelson Rebanda começou a investigar a origem do escritor em Portugal. Conjuntamente com outras investigações em vários arquivos chegaram ao rasto do bisavô, aos Borges de Moncorvo.
Segundo Nelson Rebanda, havia várias famílias com o nome de Borges. Uma delas, que será a do bisavô de Jorge Luís Borges, eram os Borges de Castro. Tinham vários terrenos e casas e até eram proprietários da aldeia Peredo dos Castelhanos. Na investigação efetuada descobriu-se que o bisavô saiu de Moncorvo no final do século XVIII, início do século XIX, numa expedição militar para a Foz do Rio Prata, ainda antes da independência do Brasil.
“Hoje não há margem para dúvidas, para afirmar que Jorge Luis Borges tinha raízes aqui”.
Segundo a memória da família, o bisavô chegou ao Rio da Prata em 1817. 12 anos depois casou em Montevideu com uma argentina. Tiveram um filho, Francisco Borges Lafinur que casou com uma inglesa e também foi militar.
Jorge Luís Borges dedica-lhe um poema – Alusão à morte do coronel Francisco Borges.
Na altura em que o bisavô de Jorge Luís Borges partiu para a expedição militar Torre de Moncorvo tinha grande relevância política e económica em Trás-os-Montes.
Dos Borges de Castro já não há memória em Torre de Moncorvo. O bisneto tem o nome numa avenida e um companheiro de armas do bisavô dá o nome a um largo.
O General Claudino Pimentel partiu na mesma expedição para defender Colónia del Sacramento. O largo fica mesmo em frente da lindíssima e enorme igreja Matriz ou da Nossa Senhora da Assunção.
Já estava construída quando da expedição militar. O órgão da igreja é que é mais ou menos da mesma época.
A igreja e o órgão merecem outra visita mais detalhada, como também o Museu do Ferro onde se guardam outras memórias desta região associada à extração mineira.
Uma visita a Torre de Moncorvo tem de passar obrigatoriamente pela rua dos Sapateiros, a judiaria e o chamado castelo, uma fortificação medieval.
Obrigatório é também saborear um doce de castanha antes de passear pelas ruas do núcleo medieval e renascentista.
Pequenas casas com varandas e trabalhos decorativos em madeira não ficam aquém, em termos de beleza, de vários solares. Por último, a cordialidade dos anfitriões.
Jorge Luís Borges nasceu em 1899 em Buenos Aires e morreu em 1986 na Suíça, aos 86 anos de idade. É um dos maiores vultos da literatura e poesia sul-americana.
Torre de Moncorvo - a terra do bisavô de Jorge Luís Borges faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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