Buenos Aires é uma cidade onde facilmente se descobre a vida dos portenhos.
Há uma grande diferença entre ricos e pobres, há o stress do formigueiro como em qualquer centro urbano... mas também há cor, música, arquitetura, gastronomia e... futebol, claro.
Um dos percursos favoritos é cumprir o ritual dos cafés e esplanadas. Em Buenos Aires foi um prazer. Alguns deles têm história, arquitetura, ambiente acolhedor ... e café.
Um dos mais notáveis é o café Tortoni. Fica na Avenida de Mayo e é muito fácil de encontrar. Vale a pena a visita e merece a fama devido ao esforço de preservar a história e um ambiente de época e não afastar quem lá vai tomar um simples café.
Todas as noites na La Bodega há um espetáculo de tango.
Em outras ruas na zona histórica é frequente encontrar cafés com as mesmas caraterísticas e os clientes são quase exclusivamente portenhos.
Com as noites quentes é também vulgar ver casais a passear e as paragens das caminhadas são em alguns destes cafés.
Outro ponto de encontro é o restaurante ou a cervejaria. Se há futebol é obrigatório.
Há muitas e famosas pizzerias com uma grande procura para take-away, mas a maioria dos portenhos (com alguma capacidade financeira) gosta de improvisar uma ceia com um chopp e empanadas. A gastronomia argentina é bem conhecida pela parrilla e também pelos vinhos. A oferta é tão vasta que é difícil escolher.
Quem queira rapidez ou refeições mais económicas (além das empanadas) tem ainda vários restaurantes e pontos de venda de fast food.
Na proximidade do Obelisco encontram-de edifícios de vários andares com fast food. Esta é uma das zonas mais procuradas por turistas e locais. É um ponto de passagem e também de encontro.
Ao anoitecer há muita gente a conversar, a passear ou nos cafés e os enormes placards publicitários dão colorido e brilho ao monumento.
O Obelisco é uma excelente referência geográfica para orientação e tem algumas zonas verdes e várias avenidas com interesse comercial, gastronómico e turístico.
Por exemplo, a Avenida Corrientes possui numerosos espaços culturais, em particular teatros e cinemas. Tem ainda uma oferta muito variada de restaurantes.
De noite, os edifícios estão decorados com néon. Da Corrientes pode-se passar para a Florida, uma avenida pedestre e destinada a compras com enfoque nos turistas.
Muita gente a circular, espaços de restauração, comerciais, vendedores ambulantes e angariadores a proporem câmbio de dinheiro. Na interseção da Florida com a Córdoba estão as Galerias Pacífico.
Um edifício esplêndido e com duas particularidades: a sua arquitetura e as pinturas na cúpula central (é considerada património histórico nacional) e uma área dedicada a Jorge Luis Borges que residiu na parte norte da Av. Florida.
A área dedicada ao escritor argentino tinha várias galerias com trabalhos de jovens artistas plásticos, evocações de J. L. Borges com citações escritas nas paredes e livraria.
Seguindo a Florida, vamos dar à Av. Pres. Roque Saenz, mais conhecida pela designação de Diagonal Norte devido ao seu posicionamento, que rompe com as linhas cruzadas das avenidas.
A Diagonal Norte é uma área mais financeira e muito movimentada. Vai desembocar na Catedral Metropolitana , onde o Papa Francisco foi arcebispo, um dos maiores templos católicos de Buenos Aires.
A Catedral tem uma arquitetura clássica, a frontaria é imponente mas é o interior que mais deslumbra.
O túmulo de José San Martin introduz um elemento raro, o de um templo religioso homenagear um militar e político. Dois militares na entrada da ala onde está a estátua ainda torna mais ambíguo o carácter religioso do espaço.
A Catedral é uma das vias de entrada na Plaza Mayo, a maior praça de Buenos Aires e o centro político da Argentina. Desde a fundação do país até aos dias de hoje.
Nos edifícios públicos, nos monumentos, nas ruas que albergaram contestatários, presidentes, militares e revolucionários.
Mesmo em frente, temos a Casa Rosada, a sede do poder político com o gabinete do Presidente da República.
Do outro lado da praça encontra-se o Cabildo, que inclui uma varanda de onde se pode ver a Plaza Mayo. O Cabildo é hoje um espaço museológico e retrata bem a vida dos que passaram por aqui, desde os tempos da fundação de Buenos Aires. O próprio edifício teve várias funções, até serviu como prisão. Historicamente está muito associado às assembleias de representantes locais e à declaração da Revolução de Maio, em 1810, o ponto de partida para a independência.
Quando da nossa visita, a praça mantinha o seu estatuto de espaço de intervenção política. Marcavam presença vários partidos e movimentos políticos com faixas, cartazes e pavilhões.
Da Plaza Mayo podemos seguir em frente, através da avenida como mesmo nome.
Não é pedestre mas permite fazer um passeio interessante até ao Congresso, a praça onde funciona o Parlamento e que muitos portenhos tratam por outro nome (são abundantes as desconsiderações pelos dirigentes políticos actuais e antigos, a quem atribuem a responsabilidade pela degradação de um país que lhes merece o maior respeito e orgulho).
A praça do Congresso tem uma zona verde na parte central e é muito frequentada durante a noite. É também habitual encontrar pedintes, pessoas que levam ao colo bebés (parecem ter semanas! com um calor insuportável) e que são usados para sensibilizar o coração e a carteira dos transeuntes.
É na Av. Mayo que está localizado o Café Tortoni e encontramos outros edifícios históricos com traços da arquitetura europeia e que foram pontos de passagem ou de exibição de trabalhos de inúmeras celebridades. Hotéis, teatros, redacções de jornais, palácios, cafés…
De dia, a avenida é muito frequentada, essencialmente nas proximidades da Plaza Mayo, mas, durante a noite, o movimento é mais nas proximidades da Av. 9 de Julho, a principal avenida de Buenos Aires. Num instante regressamos ao Obelisco.
Próximo da praça do Obelisco, podemos aceder a um outro ponto de interesse de Buenos Aires: o teatro Colón. A não perder. É considerada uma das melhores salas de ópera em todo o mundo. Há visitas guiadas que ajudam a perceber o enquadramento histórico, as valências da acústica e o motivo porque foi ponto de passagem das melhores companhias e cantores de ópera. Teve fantásticos momentos de glória e também de decadência, que foram superados em 2010 com a revitalização e reabertura do teatro. Hoje é uma referência da cidade e do país.
O auditório principal tem mais de 2000 lugares sentados, a decoração é elegante e a acústica é surpreendente.
Um outro local obrigatório de Buenos Aires é La Boca e o Caminito. É uma área ambivalente. Localizada próxima do porto, tem uma comunidade e traços associados ao mundo laboral, bairros operários… No entanto, parece apresentar-se como um postal ilustrado para turistas. Ambivalente também na ocupação do território.
Quarteirões industriais são vizinhos de bairros residenciais e pontos turísticos, camiões de transportes de mercadorias cruzam-se com autocarros de operadores de turismo e, no meio do bairro, que os guias consideram inseguro, existe um quarteirão – o Caminito e onde reaparecem as máquinas fotográficas.
É um percurso interessante. Percebe-se que é mais para turista porque a rua é um museu ao ar livre. Permite uma visão mais empírica de um bairro e de uma comunidade com origens europeias. As cores vivas das paredes, os murais, a sátira e o humor, os materiais das casas de dois pisos, as casas de tango e o alinhamento irregular das ruas exprimem uma paixão que é mais contagiante aqui.
O lugar é seguro, há muitos seguranças e também há espaços para compras e restauração. É igualmente interessante sair do “circuito” e calcorrear algumas ruas limítrofes, como é o caso da Garibaldi que está separada por uma linha férrea onde, antigamente, corria um elétrico.
Não está longe o La Bombonera, o mítico estádio do Boca Juniors que tem sempre muitos admiradores de Diego Maradona.
No outro lado está o Rio Matanza que faz aqui uma curva longa e se espraia por dezenas de metros. Este cais começou por se chamar Vuelta de Los Tachos e actualmente é conhecido por Vuelta de Rocha.
Tem uma vista magnífica para a ponte Nicolás Avellaneda, considerada património nacional.
Na parte norte da cidade é obrigatório o percurso ao longo da Av. Del Libertador, desde o Retiro até ao Barrio Chino. Não é aconselhável fazer a pé porque é muito extenso e com calor é de derreter. O que vale é que há muitos parques e zonas verde, onde os locais aproveitam para descansar, comer, namorar, correr…
Esta zona tem também museus, universidades, o Planetário e propriedades extensas, da elite, como é o caso do clube de golfe (na parte de trás, junto ao mar, fica o aeroporto Jorge Newbery). Também neste percurso destaca-se a Floralis generica, enorme escultura metálica, uma flor que fecha as pétalas durante a noite.
Parte do percurso passa por zonas residenciais, de classe média/alta, e não são propriamente os lugares mais interessantes para se gastar muito tempo em visitas.
O ponto de partida, a Torre Monumental (ou Torre dos Ingleses) com os seus 60 metros de altura, marca a zona do Retiro e a extensa praça rosada serve de referência para quem percorre este bairro a pé.
De seguida é a Recoleta. Um dos lugares de maior destaque deste bairro é o cemitério. Foi construído na antiga horta dos monges recoletos (que dá origem ao nome do bairro) e sobressai pela arquitetura e pelos mausoléus de figuras argentinas, entre elas, Eva Perón.
Muito próximo do cemitério está a Basílica Nuestra Señora del Pilar. Foi inaugurada em 1732 e é o segundo templo mais antigo de Buenos Aires. Tem um notável altar. Com uma elevada torre, paredes brancas e a sua posição de relevo, no alto da encosta e na enorme e florida praça Intendente Alvear, a igreja contribui decisivamente para a beleza do lugar.
Há muitos candeeiros ao longo da encosta e a luminosidade ao final do dia confere maior destaque à praça. Contíguo à Basílica está o Centro Cultura Recoleta, uma das mais importantes instituições culturais portenhas, com espaços e funções polivalentes - artes plásticas, visuais, teatro, cinema, formação, investigação…
O edifício foi classificado monumento nacional e teve a sua origem como asilo. Das traseiras do Centro Cultural há uma vista interessante para o Museu de Belas Artes e para a Faculdade de Direito.
Neste percurso até ao Bairro Chinês há mais lugares de interesse e dois são obrigatórios: o Jardim Japonês e o MALBA, Museu de Arte Latino Americana de Buenos Aires.
O Jardim Japonês está inserido numa ampla zona verde no bairro de Palermo e inclui o Jardim Botânico e o Ecoparque.
O espaço é muito harmonioso e além do jardim, alberga um edifício com atividades culturais e também um restaurante. O acesso é pago.
Quase ao lado está o MALBA, uma construção moderna, com fachada e linhas geométricas que facilmente se destacam. No interior, a enorme parede de vidro dá profundidade ao espaço.
O MALBA visa divulgar a arte latino-americana e muitas das exposições centram-se em trabalhos e autores modernos. A coleção permanente, de Eduardo F. Costantini, é dedicada às artes plásticas do séc. XX, e espelha as principais correntes, com particular destaque para o modernismo.
Buenos Aires tem um ponto comum com os grandes centros urbanos da América do Sul: a insegurança, o que originou uma das maiores frustrações - não poder andar com a máquina fotográfica.
Nas poucas vezes que andou no meu punho fui avisado de que era desaconselhável, até por seguranças. A estratégia dos longos passeios a pé para fotografar teve de ser complementada com andar de carro para evitar o condicionamento da insegurança.
Uma das opções foi recorrer ao Buenos Aires Bus. O bilhete é de 24h (mais caro para turistas e mais ainda para países fora do Mercosul, esta é uma prática corrente na Argentina e no Chile)
O circuito completo dura mais de duas horas e abrange alguns dos bairros mais interessantes de Buenos Aires. A compra do bilhete foi numa loja perto da Catedral e foi-nos oferecida uma garrafa de vinho, que tivemos a sorte de poder deixar no hotel. Vimos alguns turistas a fazer o percurso com a garrafa e com o sobe e desce não é nada prático.
Também útil para deslocações no interior da cidade é o metro. Com as seis linhas consegue-se facilmente ir a vários locais de interesse e não há grandes enchentes.
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