O ponto de encontro é a Tapada de D. Fernando II, próximo do Convento dos Capuchos, onde a Alfarroba, o Alfazema e mais cinco burros estão à nossa espera.
“Cada um tem um nome inspirado na natureza e, por vezes, no feitio de um deles. Temos ainda o Girassol, a Papoila, o Tonecas (já lhe tinham dado esse nome antes de vir para aqui).”
Rute Candeias acrescenta que “alguns conhecem-se pelo nome. Por exemplo, a Alfazema, que é a coqueluche porque é a convidada para fazer as actividade nos workshops, quando vê um grupo a chegar, nós chamamos Alfazema e ela vem a correr, já sabe que é a vez dela.”
Rute Candeias dirige a Associação Reserva de Burros que, em parceria com a Parques de Sintra procuram preservar o burro, promovendo várias actividades, maioritariamente educativas e de sensibilização ambiental. “Para as escolas, com um workshop e interacção com os burros como, por exemplo, escovar e alimentar os animais.
Segue-se um passeio entre 30 a 40 minutos. Outra actividade é dirigida a famílias, com ou sem crianças. O passeio é um pouco mais longo. É uma imersão no Parque Natural na companhia dos burros. Temos ainda um programa para aniversários que, além das outras actividades, permite também lanches e jogos tradicionais para entreter os miúdos.”
É sempre com marcação prévia. Mesmo para quem queira participar nos vários passeios que se realizam ao sábado. “As pessoas inscrevem-se e nós constituímos os grupos. As saídas são às 10h,12h e 15h. Habitualmente vão 10 a 12 pessoas no máximo em cada um desses passeios.”
É promovido o contacto com os animais. Os passeios mais longos demoram cerca de uma hora e a reação é comum. “É fantástica. As pessoas saem daqui maravilhadas. Gostam imenso de ficar, mesmo depois das actividades, porque ganharam uma ligação com o animal com que estiveram a conviver.
Há crianças que voltam com os pais para contactarem de novo com o burro com quem estiveram. Os burros também gostam e um sinal disso foi a reação de estranheza quando do confinamento”.
Também os burros, que não são burros, se apercebem da interacção. “Eles sabem, por exemplo, quando estão presentes crianças, no final, há uma cenoura. Ficam à espera. Outra coisa curiosa é que eles criam relações de amizades entre eles. Há companheirismo e se um fica separado do outro ficam tristes.”
A associação Reserva de Burros já existe há quinze anos e Rute Candeias descobriu ou confirmou outras características. “Um animal extremamente sociável se for tratado com respeito e carinho. Teimoso, nada burro, têm muita personalidade e são todos diferentes uns dos outros.”
Eles gostam de serem acariciados, aproximam-se de nós com curiosidade e não revelam receio com os nossos gestos. Percebe-se que com as crianças a relação é mais paciente e são as únicas que se podem sentar em cima do burro. Em alguns casos também preferem passear ao lado dos burros. “Estamos a fazer uma transição. Para se perceber que é mais importante, o contacto com os burros do que andar em cima dele. É natural que as crianças gostem da experiência e as que têm entre 3 a 12 anos podem fazê-lo, mas temos famílias que só querem passear com o burro.”
De certa forma, a mudança corresponde também à função que os burros exerciam, como por exemplo aqui, na serra da Sintra, que “era fundamental na vida da chamada população saloia. Para transporte de água, hortaliças, quer também no trabalho do campo e mesmo na deslocação das pessoas.”
Porque deixaram de ser úteis e estão dependentes dos humanos registou-se uma quebra gigantesca a nível nacional. “Segundo alguns registos, há uma século haviam 200 mil burros. Agora, se tivermos 20 mil, é muito.”
Aqui têm um hectares para andarem em liberdade e em contacto com a natureza. São alimentados e cuidados e garante-se a sua preservação. “Esta parceria com a Parques de Sintra existe há cerca de seis anos.
A associação Reserva de Burros zela pela valorização e preservação do burro e tem como principal objectivo incentivar o contacto com estes animais, o respeita e a sua preservação para que não desapareça.
Reserva de Burros em Sintra para descobrir a serra na companhia dos animais faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Comentários