“A partir do dia em que foi substituída pela ponte S. João, a Ponte D. Maria Pia ficou esquecida”, afirmou à Lusa José Manuel Pavão, presidente da Liga dos Amigos da Ponte D. Maria Pia, criada há mais de 20 anos em defesa da reutilização daquela infraestrutura.
Para o responsável, “uma das formas de reutilizar a ponte era usá-la como circuito pedonal”, promovendo “um circuito turístico desde a Alfândega do Porto até Gaia”.
“Era uma proposta bonita e um grande contributo para a dinamização do turismo na cidade do Porto”, defendeu o presidente da Liga que um dia gostaria de ver a Ponte D. Maria Pia “reintegrada no circuito citadino e urbano”.
Só existem mais duas pontes iguais a esta
Inaugurada em 1877 pela rainha que lhe deu o nome, a Ponte Maria Pia é considerada a primeira grande obra do "mago" Gustavo Eiffel, tendo obtido um prémio internacional de engenharia.
Com 1.600 toneladas de ferro, foi laboratório de soluções técnicas inovadoras para a época, como a conceção de um tabuleiro de 54 metros sobre um arco único de 160 metros de corda. Na sua construção, ao longo de ano e meio, estiveram envolvidas cerca de 150 pessoas.
Só há duas pontes iguais, uma em França e outra na Alemanha, ambas construídas posteriormente à estrutura que liga as duas margens do Douro.
Depois de desativada, vários destinos foram apontados à Ponte Maria Pia, para além do seu desmantelamento, sem nenhum ter chegado a avançar.
Em 2004 foi mesmo assinado um protocolo com as câmaras do Porto e Gaia para a transformação da antiga ponte ferroviária em ciclovia, o que representaria um investimento de 1,5 milhões de euros, ainda sem ser cumprido.
Em 2007 a Refer assinalou os 130 anos da Ponte Maria Pia com o anúncio de um investimento de dois milhões de euros na pintura da estrutura.
Três anos depois, em 2010, uma empresa de atividades ao ar livre tentou, em vão, obter autorização para realizar saltos de bungee jumping daquela ponte sobre o Douro.
Já em 2013, e no âmbito do Concurso Internacional de Ideias Norte 41, dois arquitetos propuseram a relocalização da Ponte Maria Pia no interior do quarteirão da Companhia Aurifícia.
Travessia pedonal
A Câmara de Gaia tem a expectativa de que o projeto de reutilizar a ponte D. Maria como travessia pedonal possa avançar.
“Num momento em que as câmaras de Gaia e do Porto voltaram a trabalhar em conjunto, este é um projeto que esperamos que venha finalmente a sair do papel a breve trecho, sendo para tal fundamentais o empenho da Infraestruturas de Portugal e a disponibilização de verbas comunitárias”, refere o município.
A autarquia lembra que “existe, há vários anos, um projeto para a reutilização da ponte D. Maria Pia, que visa, nomeadamente, a sua travessia pedonal e o seu enquadramento numa zona que terá, assim, ainda mais a oferecer em termos turísticos”.
De acordo com a Câmara de Gaia, “a ponte D. Maria Pia é um monumento único, um pedaço de história das cidades de Gaia e do Porto que, infelizmente, foi durante anos votado ao abandono”.
“Desativada desde 1991, esta ponte foi mais uma das vítimas do desentendimento entre os líderes das duas cidades e do desinteresse do próprio Estado central, um pouco à semelhança do que acabou por acontecer no caso da ponte do Infante e da sua manutenção”, relembra o município gaiense.
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