É o embaixador do Barroso e, ele próprio, tornou-se num dos maiores polos de atração turística desta região. António Lourenço Fontes é padre, escritor, hoteleiro, é um homem solidário e estudioso das plantas e ervas, emprestou o nome ao Ecomuseu e o seu nome também já é marca de vinho e de um licor com ouro.

"A junção do sagrado e do profano protagonizado por um padre deu mais-valia e chamariz ao congresso. Foi como que a arte de sacralizar o profano e profanar o sagrado", afirma o sacerdote que nasceu em Cambezes do Rio, em 1940.

Em Vilar de Perdizes, o padre construiu um palco ao qual todos são convidados a subir e onde, anualmente, se reúnem cientistas e investigadores, curandeiros, bruxos, videntes, médiuns, astrólogos, tarólogos, massagistas e ervanários, curiosos e turistas.

A primeira edição do evento realizou-se em 1983, numa altura em que as tradições e a medicina popular antiga estavam a cair em desuso devido à concorrência ou oposição da medicina química ou moderna.

Esta era uma terra isolada, onde faltavam os médicos convencionais e, por isso, a população tinha de recorrer à medicina popular para curar as suas doenças. E esta é também uma terra onde tudo parece estar ligado à superstição, à religiosidade e ao paganismo.

“O primeiro abrir e rasgar das nossas fronteiras foi feito pelo Congresso de Medicina Popular e o sentido de oportunidade do padre Fontes”, salienta o presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves.

Ecomuseu do Barroso
Ecomuseu do Barroso créditos: Lusa

O autarca classifica ainda este congresso como o “pai e a mãe das sextas-feiras 13”, evento que atrai milhares de pessoas ao concelho.

Orlando Alves diz que Montalegre soube aproveitar “esta âncora” e implementou outras iniciativas como a Feira do Fumeiro, que hoje tem uma grande projeção mediática e ajuda a revitalizar o tecido económico”.

“Estamos a falar de três pilares em que assenta o desenvolvimento turístico da região: o congresso, a sexta-feira 13 e a feira do fumeiro. É à volta destes três vetores que toda a dinamização económica e turística do concelho se acomoda”, frisa o presidente da autarquia.

Orlando Alves refere que, nas últimas décadas, abriram restaurantes, hotéis e unidades de alojamento rural. Atualmente há 400 camas espalhadas pelo concelho e há novos projetos em curso.

No entanto, num concelho com área idêntica à da ilha da Madeira, a agricultura continua a ser “a atividade económica preferencial dos barrosões”.

Segundo o presidente da Câmara, há jovens agricultores a instalarem-se, por exemplo, na área da pecuária, com destaque para a criação de gado barrosão e de cabrito.

Para ajudar o setor primário, o município inscreve todos os anos cerca de dois milhões de euros no seu orçamento. “É para nós reconfortante ver que este apoio está a ser aproveitado sobretudo por parte dos jovens que se instalam e nos dão garantias de futuro”, sublinha.

Orlando Alves refere, também, que o concelho soube aproveitar os fundos comunitários e frisa que, atualmente, as 135 aldeias do concelho estão “devidamente infraestruturadas”. “Temos 98% da população com água ao domicílio e 80% da população está servida com redes de saneamento”, destaca.

A grande batalha deste território, muito afetado pelo envelhecimento, é o combate ao despovoamento.

Para ajudar nesta luta, Montalegre quer ser um “santuário dos desportos de natureza”, uma estratégia que cruza o desporto e a cultura e une a tradição à modernidade e que tem como objetivo atrair mais visitantes e ajudar a fixar os mais novos.

O palco para estas iniciativas estende-se desde a serra do Larouco, na fronteira com Espanha, segue o curso do rio Cávado até ao Parque Nacional da Peneda-Gerês e, entre os diversos eventos, destacam-se as caminhadas, observação de aves, parapente, ultramaratonas, campeonatos de pesca ou troféus de BTT.

A “destoar um pouco” está o mundial de rali-crosse, mas esta é, segundo o vice-presidente do município, David Teixeira, a iniciativa que promove a internacionalização deste concelho, já que atrai milhares de galegos aficionados pelos desportos automóveis.