Chegamos a Moledo num fim de tarde quente de setembro e estacionamos o carro mesmo em frente a um mural grande de arte urbana que retratava um jovem casal enamorado. Observamos a obra de arte e reparamos que noutra parede daquele largo há mais um mural.
Envolvidos em arte, começamos a visita guiada pela aldeia na companhia de João Leirão, responsável pelo Moledo Acontece, artista e uma das pessoas ligadas à génese deste projeto de “reabilitação do espaço urbano e recuperação da identidade”.
Diz a história que Inês de Castro residiu no Paço real de Moledo durante sete anos e que D. Pedro, que passava muito tempo no Paço da Serra d’El Rei, escapava-se às escondidas para ir ao encontro da sua amada que ali teve três filhos.
Do Paço já só existem memórias, bem como de outros episódios desta história de amor eterno envolta em lendas. Uma das intervenções artísticas, de Constança Clara, usa pedras da região, muitas oferecidas por pessoas da aldeia, para erguer um Paço diferente.
“Pedro e Inês foi o mote para que arte viesse desenvolver a aldeia”, refere João Leirão. Este romance que perdurou nos séculos foi a inspiração para o projeto artístico que, há 11 anos, começou a entrar na aldeia e, de forma integrada na comunidade, foi deixando o seu contributo que ainda hoje pode ser visto. E que tem trazido mais visitantes, existindo já uma oferta interessante de alojamento local.
O MAP de Moledo surgiu através da “parceria entre a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e a autarquia local, que ao longo de quatro anos trouxe até à aldeia de Moledo vários discentes do Mestrado de Escultura Pública para desenvolverem peças alusivas à temática Inesiana”, pode ser lido no site do projeto.
Durante o nosso percurso pela aldeia, observamos algumas das primeiras esculturas que foram implementadas, bem como trabalhos recentes. Em vários recantos, somos surpreendidos com uma intervenção, desde pequenos azulejos dispostos numa ruela, a uma grande escultura a destacar-se numa esquina.
Para cada nova escultura implementada, há sempre o trabalho de reabilitação do espaço, mesmo que feito com os mínimos recursos. Assim, durante os anos, vários lugares da aldeia ganharam uma nova vida através da arte.
As marcas no chão, a retratar um jogo do galo em que as bolas e as cruzes foram substituídas por coroas e corações, "mas onde os corações vencem sempre", ajudam-nos a descobrir o percurso artístico.
O exemplo mais recente é um parque que está a ser desenvolvido numa zona mais elevada da aldeia que conserva alguns moinhos. “Moledo já teve onze moinhos”, recorda João. Um deles foi intervencionado pelo artista Pantónio, destacando-se na paisagem.
É com estes moinhos no horizonte que nos despedimos de Moledo, sabendo que há sempre motivos para regressar. Ao longo do ano, vão sendo organizados eventos culturais, como concertos, sessões de cinema e exposições.
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