Carlos Marques, actor, contador de histórias e músico, criou um personagem no livro Levantado do Chão.
Estende o romance de Saramago até aos dias de hoje e dá o nome de Levantei-me do Chão ao espetáculo.
“É um espetáculo concerto. Neste momento tem duas versões. O lado A é a versão integral e teve origem em 2014. Foi durante o surto de migrantes que, na altura, via-os como os novos Mau-Tempo, a família que atravessa o romance de José Saramago.”
A versão integral tem um registo mais cénico. Regista igualmente uma relação umbilical mais forte com o romance, a família dos Mau-Tempo, os trabalhadores agrícolas sem terra que se levantaram do chão.
A versão integral “coloca-me como um dos Mau-Tempo. Filho de Adelaide, a última geração dos Mau-Tempo que assiste à revolução de Abril. O Levantei-me do Chão é também uma resposta individual, minha como criador, para dizer que é possível fazer outras coisas para além do mainstream.”
No teatro ou num pequeno palco, o actor veste a pele de um canto autor, da família dos Mau Tempo, de ontem e de hoje. “Eu imagino-me sempre, sendo um canto autor na altura, com um fardo de palha e um megafone a cantar as músicas que aqui ouvimos.”
Com um megafone ou uma viola, com colagens musicais ou diálogos com a assistência, Carlos Marques quer inquietar o nosso conformismo. Agitar as cadeiras da sala José Saramago, na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa, onde assisti a uma sessão da chamada versão B. O nobel passou aqui muitas horas a ler e a recolher dados para os seus romances.
Num canto da sala, num pequeno palco, o canto autor levanta o nosso olhar e envolve os nossos sentidos numa história que não é apenas a contada por Saramago. “É o ponto de vista do leitor sobre a obra de Saramago. Longe de ser um resumo. É um ponto de vista apaixonado.”
Por outro lado, “há quem diga que é uma obra sobre o Alentejo. Não. É uma obra universal, embora fale dos Mau-Tempo. É sobre a essência do ser humano, tal como toda a obra do Nobel. Ele dizia que no início da carreira escrevia sobre a estátua e depois passou a trabalhar sobre a essência, sobre a pedra.”
O canto autor do Levantei-me do Chão é andarilho. Podemos encontrá-lo num teatro, biblioteca ou numa escola. Este Domingo está no Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo, numa série de espetáculos evocativos do centenário de José Saramago.
Levantei-me do Chão inspirado no romance de José Saramago faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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