Perante a crise climática, os excessos e abusos do turismo, a opção ética parece só uma: ficar em casa. Que alternativas restam a quem tem 22 dias de férias por ano e pretende formas mais responsáveis de viajar e de contactar com locais e comunidades mais remotas? Foi uma das questões em debate no passado fim-de-semana em Guimarães, durante o Travel Fest, um encontro de viajantes e contadores de histórias interessados em formas mais atentas de conhecer o mundo.

Um dos momentos do festival colocou em diálogo três oradores habituados a trabalharem com comunidades remotas e indígenas, a quem a moderadora, a jornalista Luísa Pinto, acabou por colocar a pergunta acima.

Cris Marques, guia de turismo e produtora de conteúdo de viagens, que veio do Brasil para falar sobre o turismo de base comunitária, enfatizou as escolhas que é sempre possível fazer, mesmo em viagens de pequena duração, e que pode passar por algo tão simples quanto uma conversa: "Converse com as pessoas locais. Saia da bolha turística. Viaje de coração aberto sem preconceitos e se permita a conhecer aquilo que está fora da sua zona de conforto", propôs.

Cris Marques
Cris Marques Cris Marques no Travel Fest créditos: Travel Fest/Marília Maia e Moura

“A partir do momento do momento em que você viaja, não só para tirar foto e fazer selfie, como muitos hoje fazem, e sim para entender a história, escutar e observar as pessoas, isso vai-te transformar, mesmo que de modo inconsciente”, defendeu.

Shivya Nath, uma escritora de viagens e empreendedora de impacto social oriunda da Índia, respondeu à pergunta com uma recomendação, sob a forma da “ferramenta mais acessível” ao dispor do viajante: o Google. Pesquisar por pessoas e organizações de base comunitária pode ser a melhor forma de abordar  algumas comunidades mais isoladas, "para não sermos nós a ir e tentar identificar a comunidade e o que podemos fazer por ela", explicou.

Se é para ir, que seja “com o coração puro”, resumiu Vítor da Silva, etnógrafo e o mais enigmático do painel de dez oradores deste ano do Travel Fest, muito graças ao seu invulgar percurso de vida, que o levou de Guimarães a passar algum tempo junto de comunidades remotas na Amazónia e nos Himalaias, onde vive atualmente.

Em resposta a uma pergunta da plateia, o orador vimaranense voltou a sublinhar a importância de viajar de espírito aberto e a enfrentar o medo pelo desconhecido. "É importante entender que se vais numa jornada sem medo, não é uma jornada", disse a um elemento do público que pedira ao painel sugestões de sítios remotos relativamente seguros para um nómada digital.

Vítor da Silva
Vítor da Silva Vítor da Silva no Travel Fest 2024 créditos: Travel Fest/Marília Maia e Moura

Sublinhando que é preciso arriscar, o etnopoeta, que é também a sua alcunha no Instagram, recomenda ainda procurar destinos que comuniquem com os interesses de cada um. "Mais do que dizermos um lugar perfeito [para viajares], se pensares bem, se meditares nisso, vais encontrar um lugar que te vai chamar", concluiu.

"Coloca o medo na mochila e vai", rematou Cris Marques, em resposta ao elemento do público.

SAPO Viagens esteve no Travel Fest 2024 a convite da ABVP, tendo ficado alojado no hotel Fundador. Fotografias gentilmente cedidas por Marília Maia e Moura.