Quem é que tem prazer em olhar para torres de aço inoxidável enquanto um guia explica o processo de fermentação pela décima vez no mesmo dia? Aqui, o enfâse vai para as experiências fora da caixa que algumas das quintas oferecem e que são muito mais interessantes e compensadoras.
Vintage Tour na Quinta das Carvalhas
O Vintage Tour na Quinta das Carvalhas é, certamente, a melhor experiência vinícola do Vale do Douro! Sei que pode parecer uma afirmação exagerada, mas não há nada igual, acreditem. A ideia nasceu da cabeça de Álvaro Martinho, engenheiro agrícola e chefe de operações da Quinta das Carvalhas, a maior quinta do Douro, com 600 hectares. Descontente com a forma como as quintas negligenciavam os seus visitantes, Álvaro encontrou uma maneira de mostrar aos viajantes o âmago do Vale do Douro.
Álvaro Martinho, cuja conversa serviu de inspiração para este artigo de contexto sobre o Douro, é um homem muito interessante que sente a terra, o solo, as vinhas e o tempo como se fossem partes integrantes dele próprio. É através da sua perspectiva pessoal que ficámos a saber como o Vale do Douro se formou e como as uvas têm esculpido o terreno, mas também as vidas das pessoas que optaram por fazer do vinho a sua vida.
Álvaro conhece todas as castas que são plantadas na Quinta das Carvalhas e conta-nos a história de como as vinhas são semelhantes a um condomínio de vizinhos bem comportados, que vivem harmoniosamente em conjunto, permitindo que cada vinha produza as melhores uvas que puder. Além disso, o entusiasmo com que conta as suas histórias é emoldurado por uma das encostas mais belas do Douro, o que torna a experiência ainda mais especial.
No fim da visita, vai compreender que quando bebe um Douro DOC ou um vinho do Porto produzido na Quinta das Carvalhas não só está a apreciar um bom vinho, mas também está a provar uma amostra desta realidade.
Enólogo por um dia na Quinta Nova
Sónia Pereira é a enóloga residente da Quinta Nova e a responsável pelo primeiro vinho tinto DOC 2015 do Carvalheiro – vinho que misturei sob sua supervisão. Adorei e recomendo fortemente esta experiência, pois em vez de apenas provar e comparar vários vinhos, pude fazer a minha própria mistura de um vinho DOC.
A enóloga retirou três amostras de três vinhos tintos em diferentes fases de maturação. O primeiro foi uma colheita de 2012, sem amadurecimento em carvalho e feito com quatro castas de uva diferentes. O segundo foi uma colheita de 2011 com um ano de maturação em carvalho com sete castas diferentes. A última garrafa foi de uma colheita de 2010 com, aproximadamente, 14,2% de álcool com apenas duas castas diferentes.
Sónia explicou-me, de forma simplificada, o processo de cada vinho e aquilo que devo encontrar quando cheiro e provo cada um deles. A seguir, fez três misturas distintas para obter um vinho tinto equilibrado com aproximadamente 13,5% de álcool, com taninos acentuados e sabor prolongado, que lhe tinha pedido. O resultado deu numa mistura de 50% do primeiro vinho e de 25% em partes iguais do segundo e do terceiro. Não sou nenhum entendido, por isso não foi muito difícil agradar-me.
A experiência de enólogo por um dia também inclui uma visita à adega e às vinhas. No entanto, recomendo que chegue mais ou menos uma hora antes, para poder explorar os vários trilhos pedestres que cortam as vinhas. Se tiver a mesma sorte do que eu, encontrará alguns trabalhadores a podar as vinhas, ou até a fazer a vindima (de setembro a outubro) e, assim, vai aprender um pouco mais sobre a vida do outro lado da garrafa.
Cruzeiro vinícola ao pôr do sol
Este foi, de longe, um dos momentos mais agradáveis da minha estadia no Douro. O terreno montanhoso e a inexistência de pontes (e ainda bem) fazem com que seja cansativo andar de quinta em quinta pelo Douro fora. Felizmente, a natureza encarregou-se de colocar tudo no sítio certo e, agora, posso dizer que a melhor forma de apreciar o Douro é de barco.
Trata-se de puro relaxamento. Apenas o skipper Jorge Silva, um vinho branco fresco, a água e o entorno paisagístico único do Vale de Douro. Embarquei no Pipadouro II, um iate de 10 metros, suficientemente confortável para um casal ou um pequeno grupo de amigos. Devido ao sistema de barragens que foi construído no vale principal do rio, o Douro pode ser comparado quase a uma série de lagos, onde a corrente é quase inexistente, por isso não tem de preocupar-se com águas mais agitadas.
Pedi ao skipper para navegar rio acima até ao Tua, para chegar à parte menos turística do Douro. A viagem demora duas horas (uma hora de ida e uma hora de volta), e daqui pode ver todas as vinhas, propriedades e quintas que não estão abertas ao público em geral. Algumas das mais impressionantes são a Quinta da Romaneira (um antigo hotel de luxo comprado por um banqueiro brasileiro por 32 milhões de euros), a Quinta do Pessegueiro, a Quinta de Roriz, a Quinta da Vila Velha e a Quinta dos Malvedos (onde foi filmado "A Gaiola Dourada"). A minha recomendação pessoal é que deixe esta experiência para o último dia da sua estadia no Douro.
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