
A igreja em si é de desenho simples, apresentando uma planta longitudinal irregular, com nave única, três capelas na cabeceira, sacristia e torre sineira. No interior, o destaque vai para os azulejos do século XVII, o coro alto em madeira e o púlpito em cantaria, mas a surpresa é realmente a anta neolítica.
Na verdade nada prepara o visitante, que nunca ali entrou, para o momento em que atravessa o arco abobadado que liga a nave da igreja à antiga anta. O contraste é marcante: da sobriedade da arquitetura cristã, com os seus azulejos do século XVII e linhas discretas, passa-se subitamente para o interior de um monumento megalítico com mais de cinco mil anos!
A transição é feita por um arco revestido de azulejos, quase como um portal no tempo, que conduz a uma câmara de grandes esteios graníticos, agora transformada em capela dedicada a Santa Maria Madalena. É um instante de espanto e reverência, em que o sagrado ancestral e o sagrado cristão se fundem num mesmo espaço.
Datada do final do Neolítico, a anta é composta por uma câmara poligonal formada por sete esteios de pedra granítica e um corredor de acesso parcialmente preservado. Originalmente utilizada para rituais funerários, esta estrutura foi integrada na igreja no século XVI, quando a ermida foi elevada a sede paroquial por carta do Cardeal de São Brás, então arcebispo de Lisboa. A partir do século XVII, a orientação do templo foi alterada, e a anta deixou de funcionar como capela-mor, passando a ser uma capela lateral.
A Anta-Capela de Alcobertas foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1957, reconhecimento que sublinha a sua relevância patrimonial. A coexistência de um monumento megalítico com um templo cristão é rara na Europa, e este caso em particular destaca-se pela preservação e integração harmoniosa das duas estruturas. A visita ao local permite compreender a forma como diferentes épocas e crenças se sobrepõem e dialogam num mesmo espaço.
Mais do que um monumento religioso, a Anta-Capela de Alcobertas é um lugar de memória e identidade. Representa a capacidade das comunidades de reinterpretar os seus espaços sagrados, mantendo viva a ligação entre passado e presente. É um ponto de encontro entre a arqueologia, a fé e a arquitetura, que continua a inspirar quem o visita.
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