Dubrovnik, Zadar e Split são dos destinos mais populares da Croácia. A culpa é do belíssimo Mar Adriático e das mais de mil ilhas que encantam os turistas de todo o mundo. Mesmo que a sua intenção seja umas férias de praia, dedique uns dias a Zagreb. A cidade visita-se muito bem a pé e tem muitas histórias para contar.

Uma origem ancestral

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: Frane Medic/Unsplash

Zagreb está entre as cidades mais antigas da Europa, tendo sido mencionada pela primeira vez em 1094 aquando da fundação da diocese de Zagreb. Reza a lenda que deve o seu nome ao verbo ‘Zagrabite’, que significa ‘recolher’ ou ‘descansar’ e terá sido uma ordem dada pelo vice-rei aos soldados depois de encontrar água na atual Praça Ban Josip Jelačić. Na época da sua fundação, a capital croata era habitada por dois povos em duas colinas vizinhas: Gradec e Kaptol, que formam hoje a Cidade Alta. O crescimento populacional e económico acabou por resultar na unificação e no nascimento de Zagreb em 1850. Trinta anos mais tarde, um terramoto atingiu a cidade, destruindo muitos edifícios históricos, mas segundo alguns foi o grande impulsionador da modernização da capital croata, depois reconstruída de forma mais organizada.

Os ares medievais da Cidade Alta

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: Los Paseos/CC BY-SA 2.0

Qualquer passeio turístico por Zagreb que se preze deve começar na Praça Ban Jelačić. Zona central da cidade, alberga a famosa Fonte Manduševac e a estátua de Josip Jelačić, construída em homenagem ao importante político croata do século XIX responsável pela abolição da servidão e convocação das primeiras eleições parlamentares do país. Na Cidade Alta vale a pena visitar alguns monumentos que conservam ainda alguns traços da Idade Média. É o caso da Igreja de São Marcos. Datado do século XIII, o templo é famoso pelas suas telhas coloridas que surgiram bem depois, já durante as restaurações que ocorreram entre 1876 e 1882 pela mão do arquiteto Friedrich von Schmidt. Em destaque encontram-se ainda os brasões que representam o Reino da Croácia, Eslovénia e Dalmácia e a cidade de Zagreb. Mas nem só de uma arquitetura carismática vive a Igreja de São Marcos. Uma sobrevivente do correr dos séculos, foi palco de grandes acontecimentos como a proclamação da separação da Croácia do Império Austro-Húngaro e a independência da Jugoslávia.

Outro dos pontos turísticos desta zona da cidade é a Porta de Pedra. Kamenita Vrata para os croatas, foi atingida por um grande incêndio em 1731, mas diz a lenda que das chamas escapou uma imagem da Virgem Maria com o menino Jesus. Desde esse dia, a Virgem da Porta de Pedra foi proclamada padroeira da cidade e tem direito a uma capela na passagem de um lado para o outro de Zagreb.

Um mini-funicular, uma torre barulhenta e uma farmácia centenária

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: Antoine Schibler/Unsplash

Os croatas chamam-lhe Zet Unspinjaca e conserva o recorde do funicular mais curto do mundo. Com uns meros 66 metros, este meio de transporte construído em 1890 faz a viagem em apenas 64 segundos. Experimente subir ou descer (ou ambos) e aproveite para fotografar, mas não demore muito, lembre-se que o percurso dura pouco mais de um minuto. Mesmo ao lado está a Torre Lotrščak com o seu emblemático o canhão de Grič, que desde 1877 dispara um tiro diário ao meio-dia. Se estiver por perto a esta hora, tenha em conta que a intensidade sonora é de 130 decibéis, o que pode realmente assustar. Há quem diga que o disparo serve para sincronizar os sinos das igrejas, outros que a tradição remonta à vitória sobre os turcos. A poucos passos vai encontrar a farmácia mais antiga de Zagreb, que não escapa aos roteiros turísticos. Isto porque data de, pelo menos, 1355, e desde então continua em funcionamento. Como se não bastasse, diz-se que o seu farmacêutico mais famoso foi Niccoló Alighieri, bisneto do autor de 'A Divina Comédia'.

Histórias de amor num museu e uma visita ao mercado

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: LBM1948/CC BY-SA 4.0

Se aprecia museus fora da caixa, Zagreb apresenta-lhe um que vai decerto conquistar: o das Relações Quebradas. Sim, neste espaço vai encontrar peças que contam a história de relacionamentos amorosos, familiares ou de amizade que não terminaram da melhor maneira. Criado por dois artistas locais que ao se separarem não sabiam o que fazer com tudo o que haviam acumulado ao longo da relação, o museu recebe doações de todo o mundo e foi já considerado o mais inovador do Velho Continente. O sucesso é tanto que conta com uma filial em Los Angeles e organiza mostras itinerantes ao redor do Globo. Depois de conhecer este espaço bem peculiar, prepare-se para o burburinho e colorido do Dolac, o mais famoso mercado de rua da cidade. Com quase cem anos de existência, realiza-se todos os dias – menos aos feriados – e oferece produtos típicos, frescos e caseiros. Não deixe de reparar na estátua da mulher com a cesta na cabeça, que representa as vendedoras tradicionais do mercado de nome kumica.

De um monumento sagrado a uma rua de má fama

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: Bodro777/CC BY-SA 4.0

A passagem pela Cidade Alta não pode deixar de incluir a Catedral de Zagreb, a maior construção sacra da Croácia. Com torres que chegam aos 108 metros de altura, o templo começou a ser edificado em 1093, mas teve de ser reconstruído diversas vezes desde o século XIII, o que resultou no seu atual estilo neogótico. Depois de visitar a igreja, dê um passeio entre as muralhas renascentistas e dê especial atenção ao relógio preso à parede, que deixou de funcionar aquando do grande terramoto que assolou a cidade. Muito menos sagrada, mas igualmente indispensável durante uma viagem a Zagreb, é a Rua Tkalčićeva. Bares e restaurantes fazem as delícias dos turistas tanto de dia quanto de noite, mas nem só desta animação vive a zona. A história também aqui marca presença, porque o riacho que separava as antigas colinas ainda corre debaixo desta rua. Mais curioso ainda é que apesar de batizada em homenagem a um padre, esta foi em tempo uma zona de prostíbulos.

A modernidade histórica da Cidade Baixa

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: Maja Vujic/Unsplash

Agora que já conhece um pouco do centro histórico de Zagreb, rume à sua zona mais moderna e cosmopolita. Para além de lojas, restauração e galerias, a Cidade Alta oferece muitos atrativos aos amantes da natureza. Falamos da Ferradura Verde ou de Lenuci, um complexo de áreas verdes, que engloba sete praças e o Jardim Botânico.

Palácios, museus e ministérios encontram-se nesta área com especial destaque para o Pavilhão de Arte de Zagreb. Junto à Estação Central, este imponente edifício inaugurado em 1898 tem o título de mais antiga galeria do Sudeste Europeu e é ainda o único construído especificamente para albergar exposições de grande escala. A saber, a área da galeria tem algo como 600 metros quadrados e em vez de uma mostra permanente dedica-se a exposições temporárias de artistas croatas e estrangeiros.

Passe depois pelo Cemitério de Mirogoj, que deslumbra com os seus arcos renascentistas com quase 500 metros de comprimento. Monumento à tolerância religiosa, é a morada final de cristãos, ortodoxos, judeus, muçulmanos ou protestantes, sendo mesmo proibida a construção de cercas. A visita vale ainda a pena pelo imenso parque de esculturas e outras obras de arte.

Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme
Zagreb: uma capital esquecida, mas recheada de charme créditos: Tom Wheatley/Unsplash

Não deixe Zagreb sem passar por um dos seus famosos túneis: o Túnel Grič, interliga as ruas Mesnička e Radićeva, com saídas para as ruas Ilica e Tomićeva. Construídas durante a Segunda Guerra Mundial, estas passagens servirem de abrigo aquando dos ataques aéreos e foram mais tarde, entre 1991 e 1995, usados com o mesmo propósito durante a Guerra da Pátria. Entretanto abandonados, servem agora de palco a raves e festas de música eletrónica e também como ponto de passagem para quem quer evitar as multidões nas ruas.

Coloque alguns agasalhos na mala e viaje até Zagreb com a TAP. Dos monumentos medievais às ruas mais cosmopolitas, esta capital tantas vezes colocada em segundo plano tem tudo para uma escapadinha inesquecível.