Dubrovnik, Zadar e Split são dos destinos mais populares da Croácia. A culpa é do belíssimo Mar Adriático e das mais de mil ilhas que encantam os turistas de todo o mundo. Mesmo que a sua intenção seja umas férias de praia, dedique uns dias a Zagreb. A cidade visita-se muito bem a pé e tem muitas histórias para contar.
Uma origem ancestral
Zagreb está entre as cidades mais antigas da Europa, tendo sido mencionada pela primeira vez em 1094 aquando da fundação da diocese de Zagreb. Reza a lenda que deve o seu nome ao verbo ‘Zagrabite’, que significa ‘recolher’ ou ‘descansar’ e terá sido uma ordem dada pelo vice-rei aos soldados depois de encontrar água na atual Praça Ban Josip Jelačić. Na época da sua fundação, a capital croata era habitada por dois povos em duas colinas vizinhas: Gradec e Kaptol, que formam hoje a Cidade Alta. O crescimento populacional e económico acabou por resultar na unificação e no nascimento de Zagreb em 1850. Trinta anos mais tarde, um terramoto atingiu a cidade, destruindo muitos edifícios históricos, mas segundo alguns foi o grande impulsionador da modernização da capital croata, depois reconstruída de forma mais organizada.
Os ares medievais da Cidade Alta
Qualquer passeio turístico por Zagreb que se preze deve começar na Praça Ban Jelačić. Zona central da cidade, alberga a famosa Fonte Manduševac e a estátua de Josip Jelačić, construída em homenagem ao importante político croata do século XIX responsável pela abolição da servidão e convocação das primeiras eleições parlamentares do país. Na Cidade Alta vale a pena visitar alguns monumentos que conservam ainda alguns traços da Idade Média. É o caso da Igreja de São Marcos. Datado do século XIII, o templo é famoso pelas suas telhas coloridas que surgiram bem depois, já durante as restaurações que ocorreram entre 1876 e 1882 pela mão do arquiteto Friedrich von Schmidt. Em destaque encontram-se ainda os brasões que representam o Reino da Croácia, Eslovénia e Dalmácia e a cidade de Zagreb. Mas nem só de uma arquitetura carismática vive a Igreja de São Marcos. Uma sobrevivente do correr dos séculos, foi palco de grandes acontecimentos como a proclamação da separação da Croácia do Império Austro-Húngaro e a independência da Jugoslávia.
Outro dos pontos turísticos desta zona da cidade é a Porta de Pedra. Kamenita Vrata para os croatas, foi atingida por um grande incêndio em 1731, mas diz a lenda que das chamas escapou uma imagem da Virgem Maria com o menino Jesus. Desde esse dia, a Virgem da Porta de Pedra foi proclamada padroeira da cidade e tem direito a uma capela na passagem de um lado para o outro de Zagreb.
Um mini-funicular, uma torre barulhenta e uma farmácia centenária
Os croatas chamam-lhe Zet Unspinjaca e conserva o recorde do funicular mais curto do mundo. Com uns meros 66 metros, este meio de transporte construído em 1890 faz a viagem em apenas 64 segundos. Experimente subir ou descer (ou ambos) e aproveite para fotografar, mas não demore muito, lembre-se que o percurso dura pouco mais de um minuto. Mesmo ao lado está a Torre Lotrščak com o seu emblemático o canhão de Grič, que desde 1877 dispara um tiro diário ao meio-dia. Se estiver por perto a esta hora, tenha em conta que a intensidade sonora é de 130 decibéis, o que pode realmente assustar. Há quem diga que o disparo serve para sincronizar os sinos das igrejas, outros que a tradição remonta à vitória sobre os turcos. A poucos passos vai encontrar a farmácia mais antiga de Zagreb, que não escapa aos roteiros turísticos. Isto porque data de, pelo menos, 1355, e desde então continua em funcionamento. Como se não bastasse, diz-se que o seu farmacêutico mais famoso foi Niccoló Alighieri, bisneto do autor de 'A Divina Comédia'.
Histórias de amor num museu e uma visita ao mercado
Se aprecia museus fora da caixa, Zagreb apresenta-lhe um que vai decerto conquistar: o das Relações Quebradas. Sim, neste espaço vai encontrar peças que contam a história de relacionamentos amorosos, familiares ou de amizade que não terminaram da melhor maneira. Criado por dois artistas locais que ao se separarem não sabiam o que fazer com tudo o que haviam acumulado ao longo da relação, o museu recebe doações de todo o mundo e foi já considerado o mais inovador do Velho Continente. O sucesso é tanto que conta com uma filial em Los Angeles e organiza mostras itinerantes ao redor do Globo. Depois de conhecer este espaço bem peculiar, prepare-se para o burburinho e colorido do Dolac, o mais famoso mercado de rua da cidade. Com quase cem anos de existência, realiza-se todos os dias – menos aos feriados – e oferece produtos típicos, frescos e caseiros. Não deixe de reparar na estátua da mulher com a cesta na cabeça, que representa as vendedoras tradicionais do mercado de nome kumica.
De um monumento sagrado a uma rua de má fama
A passagem pela Cidade Alta não pode deixar de incluir a Catedral de Zagreb, a maior construção sacra da Croácia. Com torres que chegam aos 108 metros de altura, o templo começou a ser edificado em 1093, mas teve de ser reconstruído diversas vezes desde o século XIII, o que resultou no seu atual estilo neogótico. Depois de visitar a igreja, dê um passeio entre as muralhas renascentistas e dê especial atenção ao relógio preso à parede, que deixou de funcionar aquando do grande terramoto que assolou a cidade. Muito menos sagrada, mas igualmente indispensável durante uma viagem a Zagreb, é a Rua Tkalčićeva. Bares e restaurantes fazem as delícias dos turistas tanto de dia quanto de noite, mas nem só desta animação vive a zona. A história também aqui marca presença, porque o riacho que separava as antigas colinas ainda corre debaixo desta rua. Mais curioso ainda é que apesar de batizada em homenagem a um padre, esta foi em tempo uma zona de prostíbulos.
A modernidade histórica da Cidade Baixa
Agora que já conhece um pouco do centro histórico de Zagreb, rume à sua zona mais moderna e cosmopolita. Para além de lojas, restauração e galerias, a Cidade Alta oferece muitos atrativos aos amantes da natureza. Falamos da Ferradura Verde ou de Lenuci, um complexo de áreas verdes, que engloba sete praças e o Jardim Botânico.
Palácios, museus e ministérios encontram-se nesta área com especial destaque para o Pavilhão de Arte de Zagreb. Junto à Estação Central, este imponente edifício inaugurado em 1898 tem o título de mais antiga galeria do Sudeste Europeu e é ainda o único construído especificamente para albergar exposições de grande escala. A saber, a área da galeria tem algo como 600 metros quadrados e em vez de uma mostra permanente dedica-se a exposições temporárias de artistas croatas e estrangeiros.
Passe depois pelo Cemitério de Mirogoj, que deslumbra com os seus arcos renascentistas com quase 500 metros de comprimento. Monumento à tolerância religiosa, é a morada final de cristãos, ortodoxos, judeus, muçulmanos ou protestantes, sendo mesmo proibida a construção de cercas. A visita vale ainda a pena pelo imenso parque de esculturas e outras obras de arte.
Não deixe Zagreb sem passar por um dos seus famosos túneis: o Túnel Grič, interliga as ruas Mesnička e Radićeva, com saídas para as ruas Ilica e Tomićeva. Construídas durante a Segunda Guerra Mundial, estas passagens servirem de abrigo aquando dos ataques aéreos e foram mais tarde, entre 1991 e 1995, usados com o mesmo propósito durante a Guerra da Pátria. Entretanto abandonados, servem agora de palco a raves e festas de música eletrónica e também como ponto de passagem para quem quer evitar as multidões nas ruas.
Coloque alguns agasalhos na mala e viaje até Zagreb com a TAP. Dos monumentos medievais às ruas mais cosmopolitas, esta capital tantas vezes colocada em segundo plano tem tudo para uma escapadinha inesquecível.
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