A Páscoa em Espanha é, tal como em Portugal, uma época muito importante e rica em tradições. É uma das maiores celebrações religiosas do país, senão a maior, e promete dias inesquecíveis. Durante a Semana Santa podemos assistir a eventos religiosos extraordinários, nos quais se destacam as procissões de diferentes cofradías (irmandades). É uma experiência única, que vale a pena viver pelo menos uma vez na vida!
Páscoa em Sevilha
As procissões sagradas em Sevilha são de longe as mais famosas, e por uma boa razão. A Semana Santa nesta cidade é um dos eventos mais importantes do ano, e os locais, que participam das festividades, passam o ano todo a preparar-se.
É uma comemoração antiga, com raízes no século XVI (embora pareça ser bem anterior a essa data) e reúne peregrinos de todos os cantos do mundo para testemunhar os pasos extravagantes da cidade. Um paso é um andor adornado com figuras de madeira, em tamanho real, de personagens bíblicas. Em Sevilha, estes são consideradas verdadeiras obras-primas e cada paso pertence a uma irmandade, ou cofradia (há mais de 50 em Sevilha), e tem características próprias. Uma característica comum porém, é a equipa de costaleros que carregam os pasos pelas ruas.
O ponto alto da Semana Santa em Sevilha é a noite de La Madrugá — a noite entre Quinta-feira Santa e Sexta-feira Santa, quando todas as procissões começam a sua marcha até à Catedral e é revisitado o julgamento e todos os eventos que levaram à crucificação e morte de Jesus Cristo.
Esta atmosfera tensa e solene muda drasticamente no Domingo de Páscoa — Domingo de Resurrección, quando a notícia da Ressurreição de Cristo traz muita alegria e emoção e as dramáticas procissões são substituídas por desfiles animados e coloridos; os andores são enfeitados com flores; o silêncio pesado é afastado pela música exultante; e as pessoas deliciam-se com todo o tipo de doçaria e pastelaria tradicional como as torrijas (fatias de pão embebidas em leite e ovos e fritas em azeite) e os pestiños (bolos andaluzes de mel, fritos em azeite).
Tenham em mente que durante a Semana Santa alguns restaurantes, bares e museus de Sevilha estão fechados e é muito difícil entrar na Catedral ou no Palácio Alcazar, pois toda esta área é o ponto principal das festividades e os lugares em volta são os melhores para observar as procissões.
Se o dinheiro não for problema, podem comprar bilhetes para as arquibancadas que são instaladas pelas ruas (embora às vezes eles esgotem com meses de antecedência), em alternativa, arranjem um lugar ao longo da margem do rio perto da Puente de Isabel II, que liga Sevilha a Triana. Muitas das cofradías atravessam esta ponte a caminho da Catedral.
Páscoa em Málaga
Em Málaga, as procissões começam sete dias antes da Páscoa com centenas de cofradías a ocupar as ruas da cidade. A característica mais marcante da Páscoa em Málaga, são os notáveis Tronos que retratam cenas da Paixão e são escoltados por grupos de penitentes vestidos com longos mantos roxos e por mulheres vestidas de preto, segurando velas acesas. De vez em quando, o silêncio é interrompido por saetas espontâneas – música típica com influências flamencas, geralmente executadas de uma varanda durante uma grande procissão pública.
Para conseguir ver bem as procissões, podem reservar um lugar na primeira fila, bem ao lado das ruas por onde passam os desfiles, mas há uma área livre onde as pessoas podem assistir gratuitamente às procissões sentadas nas escadas, chamada Tribuna de los Pobres (Tribuna dos Pobres), que fica na Calle Carreteria, mas atenção, é preciso chegar cedo para conseguir um lugar.
Outra tradição interessante da Páscoa em Málaga é a tradição de libertar um prisioneiro. Diz-se que este costume nasceu há séculos, quando um grupo de prisioneiros escapou e carregou uma figura de Jesus pelas ruas durante uma procissão de Páscoa. Depois voltou voluntariamente para as suas celas e o rei Carlos III ficou tão impressionado que decidiu libertar um deles – uma tradição que permanece até hoje e acontece na quarta-feira de Páscoa.
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Páscoa em Toledo
Se algo se destaca na Semana Santa de Toledo, é o cenário maravilhoso em que ela acontece. Um cenário onde temos uma colina acima do rio Tejo, uma impressionante catedral e ruas estreitas por onde passam as procissões. No Sábado Santo, à 01h00, apagada a iluminação do centro histórico, os confrades aguardam, à noite, iluminados pela ténue luz das suas lanternas, a saída da imagem do Cristo da Boa Morte. Mas este é apenas um exemplo das dezanove procissões que, da Sexta feira Santa ao Domingo de Páscoa, percorrem as ruas estreitas e sinuosas, numa demonstração de habilidade, esforço e devoção.
Ao longo da semana, a cidade fica impregnada de uma atmosfera muito especial, principalmente à noite, quando o silêncio toma conta das ruas. Mas se há um protagonista nesta cidade, esse é o centro histórico, um dos mais belos de Espanha. Durante as celebrações religiosas, esta zona de Toledo é toda devoção e magia, sentimentos aumentados pela semelhança do centro histórico de Toledo com o de Jerusalém, que de certa forma transporta os frequentadores para o cenário original, há dois mil anos.
As vinte irmandades da cidade não só organizam e realizam as procissões, como são um verdadeiro reflexo da história e da cultura de Toledo. Ao contrário de outras Semanas Santas que se celebram em Espanha, a de Toledo caracteriza-se por uma marcada sobriedade e austeridade, preservando fielmente a essência da tradição cristã. Aqui, o espírito de recolhimento e devoção reflete-se tanto nas procissões quanto no sentimento com que o povo de Toledo vive esta data.
Sexta-feira Santa é o dia em que a maioria das procissões são realizadas. Uma das que chama mais a atenção é a que sai de Santas Justa y Rufina. É um marcha processional em que a Virgen de la Soledad é escoltada, ao som de trombetas, por 27 homens vestidos com armaduras do século XVII.
A abertura dos conventos ao público durante estes dias é também motivo de atração e a ocasião perfeita para provar os requintados doces que as freiras preparam. O doce mais conhecido dos conventos de Toledo é o maçapão, mas os pestiños, buñuelos quaresmais, las flores e las torrijas tradicionais também fazem sucesso entre os visitantes.
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Páscoa em Montserrat
Montserrat, perto de Barcelona, pode não ter grandes procissões, mas é um lugar fabuloso para visitar durante o feriado da Páscoa. Todos os anos milhares de peregrinos vão até este local sagrado para rezar e admirar o maravilhoso cenário natural que enquadra o Mosteiro de Montserrat.
Há um ar festivo em todo o Santuário no fim de semana da Páscoa e o coro do mosteiro apresenta-se por duas vezes na Basílica. Visitar o local nestes dias é uma excelente oportunidade de ver e ouvir, ao vivo, estes cantores de renome internacional.
Páscoa em Tenerife
Na celebração da Semana Santa é evidente o enorme fervor dos ilhéus. Muitos municípios de Tenerife celebram a Páscoa com atos que marcam a tradição eclesiástica. La Orotava, Puerto de la Cruz, Icod de los Vinos, Santa Cruz, Adeje, Arona e especialmente La Laguna organizam grandes procissões. Além disso, a Via Crucis (Via Sacra) é encenada nos municípios de Candelária, Güímar e Adeje.
Nas procissões, tal como noutros locais de Espanha, há figuras como os Penitentes que usam capas longas com capuzes pontiagudos que cobrem totalmente os seus rostos e revelam apenas os seus olhos, e os Nazarenos que normalmente caminham descalços e carregam correntes ou grandes cruzes de madeira.
A celebração mais famosa é a Processão del Silencio de San Cristóbal de la Laguna, centro religioso de Tenerife e Património Mundial da UNESCO.
A cidade fica completamente silenciosa, as luzes são apagadas e a cidade é iluminada apenas por velas. A procissão parte por volta das 21h30 da Igreja de la Concepción. O ritmo lento é definido por um tambor que cria uma atmosfera comovente e um pouco inquietante. Quem assiste nunca esquece…
O Domingo de Páscoa traz a alegria da Ressurreição e muita comida. As famílias comemoram com delícias locais como o sancocho (peixe servido com batatas), o gofio (farinha de grão) e o mojo rojo (molho típico canário).
Páscoa em Salamanca
Na Páscoa, Salamanca assume um significado mais espiritual e histórico. A Semana Santa salmantina possui um prestígio merecido, fruto do trabalho de confrarias, instituições e dos próprios salmantinos que, ano após ano, esperam com fé a sua celebração. Não é à toa que, desde 2003, a cidade possui o título de Semana Santa de Interesse Turístico Internacional.
O cenário que é criado pelos seus edifícios centenários brilha com mais força durante estas noites especiais. As silhuetas das duas Catedrais, a Universidade, os elementos barrocos da Plaza Mayor, o convento de San Esteban e a milenar Ponte Romana, tudo parece ainda mais bonito e até um pouco mágico…
Entre as diversas procissões que decorrem durante o período da Paixão a que, talvez, tenha maior destaque é a Procissão do Cristo da Boa Morte, na igreja de San Esteban.
A Descida de Cristo e a celebração dos Ofícios na capela da antiga Universidade são igualmente imperdíveis. Os Ofícios são uma mistura de ato litúrgico e académico onde participam todos os docentes que, para esta ocasião, se vestem a rigor. Realiza-se na Quinta-Feira Santa e quando termina são distribuídos chocolates e doces tradicionais.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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