Imagem: TripAdvisor

Nem eu conhecia tal destino, até uma pesquisa por experiências relacionadas com pirilampos me indicar que a Malásia tem uma das maiores colónias de pirilampos do mundo. As fotos da câmaras profissionais parecem incríveis e são o suficiente para me convencer a visitar esta cidade. Era uma das coisas que queria fazer já há algum tempo, ver um local repleto de pirilampos e imaginar o quão incrível deve ser. Acabo por descobrir que Kuala Selangor tem mais para oferecer do que pirilampos: uma paisagem bastante única e mais associada ao deserto do sal na Bolívia.

Para lá chegar, apanho um autocarro local no centro de Kuala Lumpur que levará duas horas a completar a viagem que custará 1,60€. O autocarro é bem velho e vai cheio. Cheio de pessoas a olhar para mim, como eu fosse um "alien". Andar de autocarro local por cá é bem diferente do que no Vietname. Ele pára para deixar as pessoas sair e espera para que saiam em segurança. Já no Vietname, muitas vezes, tem de se saltar do autocarro ainda com ele em andamento, muitas vezes ele não chega a parar por completo, simplesmente abranda.

Um dia chega para explorar Kuala Selangor, onde não se passa muita coisa. Não acho que seja um ótimo destino para viajantes a solo, já que o facto de estar sozinho vai fazer com que a viagem fique mais cara - foi o que me aconteceu.

Não vi nem mais um turista ocidental aqui. Não há hostels, apenas hotéis. Decido ver os pirilampos sozinha, o que acabou por ficar mais caro, pois dividindo um barco seria uma experiência barata, mas, como quando lá fui não havia mais ninguém para partilhar o barco, tive de o pagar todo sozinha. Para além de que o transporte para lá foi feito de Grab, que ficou à minha espera durante a experiência, caso contrário, não teria como voltar à cidade. Se tentasse chamar outro carro naquele lugar, não iria acontecer pois não há serviço Grab lá perto do parque dos pirilampos.

Fui em noite de lua nova, a melhor para observação dos pirilampos, já que não há tanta luz no céu. A experiência consiste em cerca de 30 minutos num barco a remo que me leva junto às margens. São tantos pirilampos, como nunca vi igual, "wow"!

São tal e qual luzinhas de natal nas árvores, com o fascínio de saber que são animais a tentar acasalar emitindo luzes que me deixam fascinada. Juntam-se numa árvore em específico, os mangais. E são tantos mais tantos juntos que me deixam de queixo caído. É fascinante de ver. Os insetos estão pousados nas árvores a cintilar, não voam à minha volta, como se calhar aconteceria numa experiência em terra. Tudo o que se faz nestes minutos de silêncio é admirar o cintilar de milhares de insetos. Não os consigo captar em câmara, nem uma tenho. No entanto, as fotos profissionais que vejo na net conseguem mostrar a dimensão desta colónia de insetos fascinantes.

No dia seguinte de manhã bem cedo, vou em tour ao Sky Mirror. Este local só é acessível através de tour. É uma praia no meio do mar, que só se deixa revelar em certas fazes da lua, portanto tem de se verificar no calendário lunar se é possível visitar ou não. É incrível como no meio do oceano se ergue um monte de areia que fica com um nível de água muito baixo e que provoca este efeito de espelho nas fotografias.

Sky Mirror
Sky Mirror

Basicamente, as pessoas vêm aqui para tirar fotografias e, na realidade, não há mais nada para fazer para além disso, a não ser apreciar os milhares de caranguejos-eremitas que se deslocam nas águas baixas. São tantos! Nunca vi nada igual. Até andam por cima dos meus pés. Confesso que fiquei encantada e passei muito tempo a admirá-los a lutarem entre si pelas melhores conchas, ou seja, a melhor casa.

A tour inclui fotos tiradas pelo guia que exigem toda uma preparação que só ele sabe. Traz vários apetrechos para fazer o melhor "spot" para tirar as tais fotos com uma reflexão a 100%. Todos os guias fazem o mesmo, alisam a areia, empurram água para o local certo e criam uma muralha para os caranguejos-eremitas não entrarem no cenário da foto, pois estragam o efeito. No entanto, vejo o guia por várias vezes a ter de tirar vários caranguejos do "set" fotográfico. Tiramos fotos em grupo e por grupos. Existe um outro guia a dar algumas instruções de poses a fazer. Passam-se aqui cerca de 2 horas e meia e são suficientes. Em volta só se vê água e mais água, mas existe uma ilhota lá ao fundo. As pessoas usam roupas coloridas e acessórios também, para fazerem contraste com o cenário. É um local encantador.

Mas Kuala Selangor ainda tem mais para oferecer. Numa colina bem perto de onde fiquei hospedada - Bukit Melawati - encontram-se famílias e famílias de macacos. Não costumo ser fã de macacos, mas destes que se encontram aqui gosto e muito. São os macacos folha prateada e adoro-os. Ao contrário dos seus "compinchas" macacos de cauda longa, estes são amáveis, adoráveis, dóceis e tão fofos! Vi inclusive pessoas a fazerem festinhas e os macacos na sua como se nada fosse. Andam perto dos meus pés e não se perturbam com os meus movimentos. Não armam confusão, nem parece que vão morder ninguém, ao contrário dos seus primos. Mais encantador ainda é o facto de que as suas crias nascem com pêlo cor de laranja que muda de cor depois de algumas semanas. São tão queridinhos e sobressaem-se obviamente no colo das progenitoras. Têm um olhar carinhoso! Gostei muito de ver estes macaquinhos que se encontram num cenário também encantador com uma vista sobre a floresta de mangais que se espalha pela zona.

Sabia que um dos melhores locais para observar pirilampos fica na Malásia? Descubra os encantos de Kuala Selangor
Sabia que um dos melhores locais para observar pirilampos fica na Malásia? Descubra os encantos de Kuala Selangor créditos: While You Stay Home

E é nessa mesma floresta que me aventuro mais uma vez sozinha. Incrivelmente, existem mais algumas pessoas a andar por aqui. A floresta não é tão remota e em pouco mais de 1 hora de caminhada se consegue fazer o trajeto. Fui lentamente e demorei mais tempo e, para não variar, começou a chover. Ao menos desta vez foi pouco e não me deixou encharcada como é costume…

Nesta floresta existem alguns pontos de observação e um trilho que atravessa a floresta de mangais. Vejo peixes do lodo bem grandes a rastejar e saltar de um lado para o outro. Vejo vários caranguejos e inúmeros buracos de outros tantos que não se deixam ver. Existem macacos a vaguear e até vejo uma águia de grande porte a descansar numa árvore. Caminhar entre os mangais é um passeio giro e relaxante, já que o silêncio reina. Qualquer barulho que se faz ouvir é de folhas a cair das árvores ou de peixes do lodo que se escondem assim que me veem.

Em Kuala Selangor também é possível visitar as "blue tears" que são algas luminescentes que emitem uma tonalidade azul quando agitadas. Era uma das coisas que tinha programado fazer mas que infelizmente não aconteceu.

É uma cidade que vale a pena a visita já que tem coisas para oferecer bem distintas de outros destinos. No entanto, não se passa muito aqui. É um sítio muito calmo e parece tão seguro.

Infelizmente, por vezes, sítios tão parados são um problema para turistas pois faltam alguns serviços. Ao contrário do Vietname que as 7 da manhã já vibra com milhares de motas para trás e para a frente, às 7 da manhã em Kuala Selangor não se passa nada! Não há Grabs a trabalhar, não há táxis. E agora? Como faço eu para ir para a estação de autocarros? Depois de demasiados minutos à espera que um carro aceite o meu pedido na aplicação, decido pedir ajuda na receção, mas nem é possível ligar a um táxi para me vir buscar. Começo a stressar bastante porque tenho de apanhar este autocarro, já que tenho um voo que não quero perder.

Por obra e graça do Universo, apareceu um outro hospede na receção. Um senhor da Malásia que, ao ouvir a situação e depois de eu perguntar se havia alguém que me pudesse levar à estação, se ofereceu para o fazer. Desculpou-se por o carro ser velho e eu pensei: "até de burro ia neste momento, quero lá saber se o carro é velho, o meu carro em Portugal até era mais velho do que o dele". Lá me levou à estação, tentei pagar mas não aceitou. Agradeci muito pois sem ele não chegaria a tempo. O autocarro que na viagem de ida levou 2h, para voltar demorou 3h. O trânsito em Kuala Lumpur é horrível. Tive de ir para o aeroporto no comboio expresso que demora 30 minutos para lá chegar e lá chegada tenho o meu voo atrasado 2h. Tanta correria para nada porque afinal cheguei lá a tempo mesmo se o voo não tivesse atrasado.