Ao contrário do que tem vindo a acontecer nos últimos anos, desta vez as novidades no Vitra Campus, em Weil am Rhein, Alemanha, nada têm a ver com edifícios, mas com plantas: o Oudolf Garten.
Criado pelo designer holandês Piet Oudolf, cujo trabalho nas últimas décadas ajudou a definir uma nova abordagem naturalista ao desenho de jardins, a mais recente intervenção site specific no Vitra Campus começou a ser plantada em maio de 2020, percorreu o ciclo completo das estações, para agora florescer em todo o seu esplendor.
A abertura ao público aconteceu no dia 30 de junho de 2021.
Fotos: @Julien Lanoo
Localizado entre a VitraHaus de Herzog & de Meuron (2010) e o edifício fabril desenhado por Álvaro Siza Vieira em 1994, o jardim desenhado por Oudolf ocupa uma área total de 4.000m2, tendo sido utilizadas mais de 30.000 plantas, de 124 espécies diferentes, na sua criação.
Piet Oudolf, considerado pioneiro para uma geração de designers de jardins que no final dos anos 1980 começa a questionar as práticas convencionais, a considerar os jardins de então excessivamente decorativos, com trabalho intensivo e a consumir demasiados recursos.
Em vez disso, recorreram a plantas perenes, muitas vezes auto-regeneráveis, arbustos, gramíneas, arbustos e flores silvestres, há muito ignoradas como opção para jardins, criando um layout igualmente não convencional das plantações. Oudolf não se vê como fundador de um movimento.
“Deixo para os outros dizerem o que eu sou. Para algumas pessoas, sou um simples jardineiro”, diz com naturalidade. Um jardineiro, no entanto, a quem foi confiado, nas últimas décadas, o design de diversos jardins públicos mundo fora, dos quais se destacam as intervenções na Hauser & Wirth Somerset, as Serpentine Galleries, a Bienal de Veneza e o High Line em Nova Iorque, projeto que deu início a um novo discurso sobre a jardinagem na cidade.
“Nas primeiras décadas de desenvolvimento do Vitra Campus, o desenho paisagístico não era uma questão. Foi somente quando os projetos de Álvaro Siza Vieira (Siza Promenade) e Günter Vogt foram comissionados, e houve necessidade de conectar as áreas norte e sul do Campus, que as intervenções na paisagem foram implementadas pela primeira vez. O jardim de Oudolf adicionou uma refrescante dimensão ao Campus, abrindo assim uma nova — e em constante mudança — experiência para os visitantes”, explica Rolf Fehlbaum, Chairman Emeritus da Vitra.
Os projetos de Piet Oudolf têm em comum a ideia de uma paisagem aparentemente selvagem, pouco trabalhada, mas que não poderia existir desta forma sem um planeamento meticuloso. Projetos que brincam com certas noções preconcebidas de paisagem selvagem.
“Estou unicamente a tornar as fantasias das pessoas em realidade”, diz Oudolf. Contudo, os seus jardins não são de todo bravios. Pelo contrário, Piet luta para atingir uma composição equilibrada, ou ‘comunidade’, como ele a define, de plantas com diferentes forças e fraquezas, períodos de florescimento e ciclos de vida distintos, de forma que os seus jardins transportem uma experiência sensual durante todo o ano, acentuando tanto as fases decadentes como as épocas altas de florescimento.
Tais objetivos só serão atingidos com uma organização meticulosa, um cronograma preciso e uma busca intensiva e criteriosa pelas plantas certas e um esquema de plantio que, no caso de Piet Oudolf, se assemelha por si só a uma obra de arte.
O mesmo pode ser dito sobre o desenho base do projeto que Oudolf criou para o Vitra Campus. Foram usadas cerca de 30.000 plantas diferentes, incluindo espécies com nomes tão misteriosos como Persicaria amplexicaule ‘Alba’, Echinacea pallida ‘Hula Dancer’ ou Molinia purple moor grass ‘Moorhexe’. São elas que estruturam o jardim, que dispensa amplamente elementos construídos e que ao mesmo tempo recusa servir de mera decoração para a arquitetura envolvente.
Pelo contrário, a paisagem complementa os edifícios, conferindo-lhes novas perspectivas. O Oudolf Garten pretende redirecionar a atenção do visitante dos edifícios para o solo, criando desta forma um estado de desorientação inspiradora. O observador caminha entre as plantas ao longo de caminhos sinuosos, procurando, em vão, por uma geometria rigorosa com linhas retas e um ponto focal definido.
“Quero que as pessoas se percam no jardim em vez de somente passarem por ele”, refere Piet Oudolf, assegurando que quem visita os seus jardins tem a mesma experiência que o próprio, nomeadamente o encontro entre o estético e o emocional.
O Oudolf Garten, como não poderia deixar de ser, é o habitat perfeito para as abelhas. Neste momento, seis colónias de abelhas são mantidas por dois membros da equipa da Vitra, formados em apicultura, de acordo com um método de nidificação combinado, que permite às abelhas construir favos de mel natural na base da colmeia. Estas, foram pintadas com cores fortes, recorrendo a tintas naturais e amigas do ambiente.
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