Decidir deixar tudo (casa, empregos, estabilidade emocional e financeira) em prol de uma aventura de 8 meses não é uma decisão que se tome de ânimo leve. Não é pêra doce. E para explicar este fenómeno talvez seja importante começarmos pela questão mais básica de todas (e talvez a mais difícil de responder). Mas, afinal, porquê que viajamos?
A viagem tem um efeito terapêutico em nós. Um efeito transformador, nos momentos bons e nos momentos maus. Tudo faz parte do processo: um processo intenso de autoconhecimento. É em viagem que nos sentimos mais conectados com o mundo à nossa volta, e com o mundo dentro de nós.
A sensação é indescritível: perceber a dimensão absurda do planeta Terra produz um sentimento de sufoco, porque o mundo é realmente demasiado massivo, complexo e rico para que o possamos absorver na sua plenitude. Mas perceber que cabemos todos nesta esfera flutuante traz um certo conforto e paz às nossas mentes inquietas.
Como disse alguém um dia: “Travel is not reward for working, travel is education for living”. Ou seja, a viagem não é uma recompensa pelo trabalho, a viagem é educação para viver. Porque todas as ideias preconcebidas que herdaste de um qualquer familiar, de um qualquer jornal ou programa da manhã vão ser confrontadas com a realidade. Subitamente, vais ter um mundo inteiro aos teus pés, e vais perceber que as mais pequenas e subtis semelhanças entre humanos de diferentes nações, cores, formatos e regiões são bem mais importantes do que as diferenças que nos separam. No fim de contas, parece que sorrimos todos da mesma forma.
Não é possível transmitir de outra maneira o sentimento de transcendência que nos percorre quando nos encontramos em terras distantes. Os olhos parecem ver melhor: encontram beleza com tanta facilidade, e as cores parecem mais fortes, os detalhes mais vincados. Os cheiros são diferentes, transportam-nos a sensações desconhecidas, mas trazem-nos para o momento, puxam-nos para aquele instante. Os sabores estão mais ricos, à espera de serem descobertos e descodificados. O som do vento nas árvores é mais intenso. O som dos pássaros à distância é detetável. A sensação quente do sol na pele é mais perceptível.
É como se os 5 sentidos despertassem por completo, e corpo e mente se fundissem. Por momentos, sabemos o quão pequenos somos num mundo absolutamente gigante, mas essa pequenez vem carregada de coragem - e por momentos, ainda que breves - sabemos qual é a nossa razão de ser, qual é a nossa razão para existir. Queremos que todos saibam como este Planeta Azul é maravilhoso, e como todos os seus humanos, com todos os defeitos que acarretam, são parte integrante de uma natureza imparável, inegável, incontestavelmente perfeita.
Talvez por visitarmos os museus mais interessantes do mundo tenhamos mais curiosidade sobre História. Talvez por visitarmos comunidades com costumes diferentes dos nossos tenhamos mais curiosidade sobre Sociologia. Talvez por nos cruzarmos com tantas pessoas diferentes, locais que nos são estranhos e com comportamentos que não entendemos bem, tenhamos mais interesse por compreender Psicologia. As noções de estereótipo e generalização passam a ser parte integrante do nosso vocabulário comum. Por mais coisas que aprendamos, parece sempre que há muitas mais que não sabemos. E assim a viagem alimenta o nosso conhecimento sobre nós mesmos e sobre o mundo, mantendo sempre bem claro o sentimento irrefutável de que só sabemos que nada sabemos, e temos tanto para aprender.
Anthony Bourdain descreveu muito bem tudo isto num simples parágrafo: “Travel isn’t always pretty. It isn’t always comfortable. Sometimes it hurts, it even breaks your heart. But that’s okay. The journey changes you; it should change you. It leaves marks on your memory, on your consciousness, on your heart, and on your body. You take something with you. Hopefully, you leave something good behind.”
Então, quando nos perguntam uma e outra vez, a temida questão essencial: Mas afinal, porquê que viajam?
Resta-nos responder que a viagem nos torna pessoas melhores. Seres humanos mais compassivos, mais generosos, mais mente-aberta, mais compreensivos, mais conhecedores.
Largar tudo para viajar durante vários meses é aquilo que pode ser descrito como um sonho, para nós. Sonho: aquela palavra distante e bonita que usamos para descrever coisas que dizemos a nós mesmos que não podemos fazer.
Em conversas de café, com amigos próximos, já comentámos várias vezes como a sociedade parece ser, por vezes, castradora de sonhos e da busca por realização pessoal. Desde cedo, na escola, incentivamos as crianças a escolher profissões de status social elevado, e raras vezes lhes questionamos que sonhos gostariam de realizar. Que sonhos vão realizar. Empurramos os miúdos para a mesma roldana que nos foi imposta a nós, e o ciclo continua. Até quando? Até quando continuaremos a deixar os sonhos de fora da conversa?
As gerações mais jovens são descritas pelo The Economist como as gerações mais ansiosas, deprimidas e nervosas de que há memória. Obcecadas com exames escolares, avaliações, notas, desempenho académico, futuro profissional. Pressionados por todas as gerações anteriores para dar seguimento àquilo que é considerado importante e normal: estudo, trabalho, casamento, filhos. Até quando? Até quando continuaremos a deixar os sonhos de parte? Até quando continuaremos a deixar que a procura por felicidade plena seja deixada de fora da lista de coisas importantes a fazer na vida?
As questões continuam: Porquê que vocês vão abdicar dos vossos empregos? Porquê que vocês vão deixar a vossa casa arrendada? Porquê que vocês vão gastar as vossas poupanças? Porquê que vocês vão arriscar tudo, desta forma?
Somos jovens e estamos vivos. A pergunta que nós fazemos é: se é em prol da realização de um sonho, se é em prol da felicidade, porquê que não havíamos de o fazer?
A viagem começa já no dia 29/02.
Queremos partilhar contigo o nosso dia-a-dia em viagem: o que vemos, o que sentimos, o que aprendemos.
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