A distância é consideravelmente curta (dois voos, no meu caso: Lisboa-Frankfurt-Tunis) e o espanto foi a minha reação a cada passo e a cada miragem. E miragem associa-se muito à palavra “oásis”. Até o oásis está incluído se quiser viajar até à Tunísia. Sobre isso e choques culturais falo-vos em próximos artigos.
Vamos abrir a cortina do turismo tunisino e perceber o amor por Portugal? E dicas para viajar neste outono?
Mal chego ao aeroporto Tunis-Carthage entro numa aventura totalmente em português pois quem nos recebe (da agência Tacapes) é o Hakim que nos acena desde cedo em português europeu. A horas bem tardias, enquanto nos acompanha no transfer, Hakim (Joaquim, translineado do árabe para português) conta-nos o lado bem claro do turismo ‘perdido’ na Tunísia e do amor deste país pelo nosso. Por causa dos atentados há uns anos, simultaneamente com os atentados no Egito e em alguns países europeus, um dos principais museus da Tunísia ficou literalmente ‘rebentado’ e isso intimidou o turista recorrente.
Enquanto ia ouvindo, percebi que não há motivo para que o turismo seja menor aqui. Se assim fosse, então o Egito e Israel não tinham continuado a receber turismo em massa, muito menos Paris e Londres. Quando refiro menor turismo, quero dizer, milhares de pessoas a chegarem por semana e, às vezes, por dia. Hakim frisou os cruzeiros que deixaram de existir na mesma escala.
Sempre de sorriso natural, contava como eram as suas horas de luz: totalmente dedicadas ao turista curioso sobre as terras tunisinas. E sublinhou Portugal: “povo muito amoroso”. Sim, ele caraterizou-nos desta forma. E também nos agradeceu por sermos um povo que reconhece o que as outras culturas têm para oferecer. Afinal, fiquei a saber que os portugueses são aqui conhecidos, não só pelo Cristiano Ronaldo (é a febre: nós dizemos “Portugal”, todos aqui respondem em hino: “Cristiano Ronaldo”), mas também por serem bons cuidadores da cultura tunisina.
Perguntámos ao Hakim se tinha família (pensando eu que estava a fazer uma conversa de rotina) e ele respondeu: “Não, sempre vivi para o turismo e o tempo foi passando. Sobretudo desde 1995”. Senti-me responsável, neste artigo, por dar mais sentido à vida de um tunisino que tem agora apenas um ou dois nomes portugueses numa placa, a aguardar à porta do aeroporto para o transfer.
Lembrei-me do orgulho de ser portuguesa que esta pandemia parecia ter atenuado. É que a crise sanitária devastou a identidade de qualquer nação a partir do momento que deixámos quase totalmente de poder levar a nossa voz, a nossa cultura até outros povos. E, agora, de vacinas em riste, parece que voltámos à época dos Descobrimentos e entrego-me a uma navegação pelo Mundo Novo. Com novos povos… ou são os mesmos, mas com novas consciências. Vasco da Gama estará feliz por nós a esta data, depois do pior da pandemia (esperemos que assim seja) ter passado.
Já não havendo desculpas para não se viajar, todavia tem de ter em atenção que é obrigatório ainda fazer o PCR para entrar na Tunísia, mas pode ir de férias descansado pois não precisa de outro PCR no regresso a Portugal. É tudo seguro e só tem de saber algumas coisas que farão da Tunísia o seu sonho. Vá antes que se esqueça. Eu quase a esqueci na minha exploração viajante.
Dicas importantes, independentemente do destino, no momento de abandonar os países externos à União Europeia:
- Leve os seus certificados digitais de vacinação impressos (os aeroportos preferem, garanto-vos) pois nem sempre o wifi ajuda em certos aeroportos;
- No caso da Tunísia, leve impresso o documento sanitário (uma coisa muito simples) e assine.
- Quando estiver a regressar, por favor, antes do check-in, deve preencher um breve questionário português (para as autoridades de saúde portuguesas), mas tem de saber que há ‘mistério’. Faço aqui uma pausa pois vi isto a acontecer a quase todos os passageiros, nestas últimas viagens (e a mim também, pois até a ansiedade disparou em pleno check-in): o voo que é pedido para introduzir no formulário é o voo referente ao último que está na sua escala antes de entrar em terra lusa. Isto aplica-se a voos não diretos. Ou seja: no meu caso o voo não era o voo da Tunísia- Frankfurt, mas sim o de Frankfurt-Lisboa. E o número do assento… esqueça. Pode inventar um, só saberá o seu lugar efetivo quando despachar a bagagem. Se continuar com dúvidas e não se lembrar desta minha ajudinha, basta clicar em ‘English’, no formulário de Portugal que vem num link (deve pedir à sua agência de viagens ou embaixada e assegurar-se que o tem consigo no email), e solicitar auxílio no check-in (para poderem ler tudo em inglês e ajudam a completar os dados).
- Escolha ficar nos resorts de Hammamet, pois são económicos face aos preços exorbitantes de luxo noutros destinos de praia no mundo. Diria que me senti perto de um preço asiático, mas nem tanto. Não fique em Djerba ou Tunis.
- Perceba quanto tempo quer descansar no resort (fiquei no Iberostar) e não perca tempo nas redondezas, planeie todos os dias muito bem pois eu sei que vai querer viajar até ao Deserto.
- Se usufruiu de um resort ao início, recomendo que fora da zona urbana procure acampar no deserto. Alojamento simples, mas vai ter de respirar fundo quando perceber que a cada momento vão ter uma surpresa para si. Refiro o plural pois há uma equipa toda preparada para nos receber. Deixo as surpresas para a próxima, mas fica mais uma dica: contrate uma tour privada e vai ter momentos não planeados, os melhores.
Por exemplo, com a @tunisia_private_tours consegui captar imagens dignas de galeria do National Geographic enquanto atravessava a Tunísia inteira. Valores agradáveis e com tudo incluído. Tive tudo, desde um abraço com chá na casa de uma linda berbere numa das casas onde foram filmados episódios do Star Wars até uma corrida livre no deserto com animais selvagens. Sem donos, sem amarras.
Quero que saibam agora o que me está aqui a acontecer, por isso: na fronteira com a Argélia, vejo vários dromedários "à solta". Não suporto a ideia de não pedir para o guia parar o carro. Os travões "gritam", a areia levanta-se e eu saio com o coração a tremer. Atiro literalmente os sapatos para o alcatrão e entro no deserto. Vejo os dromedários mais perto e sigo-os. Somos todos iguais agora. Sinto-o. Com muita força, com a ansiedade de vida que me carateriza, agarrei mais o vestido e corri juntamente eles. O meu verde do vestido alarmou-os (usar cores terra nestes locais caso queiram uma foto próxima).
Sensação? Liberdade e encontro ancestral. Não podem adiar a Tunísa, isto para quem ainda não foi.
Obrigada, Hakim e Nabil.
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