A praça mais conhecida de Malaca destaca-se pela Igreja Christ, o Stadthuys e um vivo tom de tijolo vermelho.
É o ex-libris da cidade e tem a marca da colonização holandesa.
A igreja, com a cruz branca e a torre do sino, é uma edificações mais bonitas de Malaca.
Foi construída em 1753 para celebrar o centenário da ocupação holandesa.
O interior não é muito grande, ainda se encontram muitos materiais originais, alusivos ao cristianismo e placas evocativas de figuras relevantes da sociedade de Malaca.
Ao lado da igreja há uma rua comercial. Com muitas tendas que vendem comida e roupa.
Do outro lado da rua fica o Stadthuys, que também tem a cor de tijolo vermelho.
Foi construído antes da igreja, em 1660, a partir das ruínas de um forte de portugueses, que estiveram aqui entre 1511 e 1641.
É um dos edifícios mais antigos do império holandês na Ásia, foi o principal centro administrativo e, a partir de 1982, passou a museu.
Evoca os principais períodos da história recente, desde o sultanato malaio à colonização portuguesa, holandesa, britânica, até aos tempos de hoje.
A arquitectura é tipicamente colonial, com janelas amplas e portados grandes de madeira.
Uma escadaria leva-nos até um jardim, onde há um miradouro e vários objectos antigos, designadamente um carro de bombeiros. A escadaria costuma ser um ponto de encontro e de descanso, com muita gente a aproveitar a sombra.
Do lado contrário da praça, há um centro de informações turísticas (temos de descalçar-nos para entrar) e, do outro lado, passando a ponte, entramos na Jonker Street. Uma das ruas mais conhecidas e também das mais frequentadas.
Os guias turísticos dizem que é um local de antiquários e compras baratas. Na verdade, é mais marketing. A rua está repleta de restaurantes, lojas de souvenirs, venda de artesanato e, sim, também há antiquários.
A história de Malaca é de confluência de culturas.
Por um lado, esta zona fazia parte de uma chinatown, os prédios e o templo budista atestam essa presença.
Numa rua paralela, vulgarmente designada com a Rua da Harmonia, está uma mesquita antiga, a Hulu, é a mais antiga em Malaca, foi construída em 1720 e é muito bonita. Tem traços que misturam a arquitectura árabe, chinesa e malaia. O minarete é em formato de pagode, uma torre com múltiplas beiradas. A mesquita mantém muitas das características originais.
No interior, um imenso tapete azul, teto de madeira, com numerosas ventoinhas e vários candeeiros.
Nesta rua encontram-se ainda mais dois templos: Sri Payyatha Viyanagar Moorthi (é muito bonito mas estava fechado) e Cheng Hoon.
Ao contrário dos portugueses, que tentaram eliminar lugares de culto não cristãos, os holandeses foram tolerantes e permitiram a construção de templos e o culto de várias religiões.
Noutra rua encontramos o museu e algumas habitações que replicam as delicadas e requintadas casas dos Baba-Nyonya, os descendentes dos emigrantes chineses, que há vários séculos vieram para a Malásia e criaram uma cultura muito própria: comida, roupa, habitação, língua...
Um dos locais da cultura Baba-Nyonya, cuja visita é obrigatória, é a Cheng Ho Tea House.
Um salão tipicamente chinês, com um jardim interior. Sublime, calmo e muito bem decorado, onde se pode saborear um chá e/ou aprender um pouco mais da cultura do chá e da forma como é apreciada pelos chineses. Fica na Jalan Tulang Besi.
Nesta zona, do outro lado do rio, o que me pareceu mais interessante foi a arquitectura. Uma aguarela chinesa, com pormenores coloniais holandeses.
Casas de dois pisos, muito coloridas, o piso térreo dedicado ao comércio e poucas habitadas.
Alguns destes imóveis foram recuperados. É o caso do Geographer Cafe, fica numa esquina e pretenderam manter a traça original, tipicamente colonial.
Os passeios, no meio do casario, reforçam a ideia de fusão de culturas, frequentados por locais e turistas asiáticos e ocidentais.
Esta mistura é também ambulante e os riquexós são os instrumentos dessa fusão.
Invulgares e muito procurados por turistas das mais variadas proveniências, em especial pelos asiáticos.
Além da diversidade de utilizadores, a fusão nota-se igualmente nos motivos decorativos e na música.
Têm um chapéu para protecção do sol e estão todos decorados com cores garridas, muitas flores e desenhos. Outra particularidade: alguns têm sistemas de amplificação de som que costumam ecoar no volume máximo. Despercebidos não passam.
O local onde se encontram em maior número é na praça onde está a igreja e o Stadthuys.
O percurso mais frequente é até ao largo, onde está a Porta De Santiago, a entrada para a fortaleza Famosa. Uma das mais antigas estruturas defensivas europeias na Ásia.
É obra de portugueses (e de mais 1500 escravos), após a conquista desta posição por Afonso de Albuquerque ao sultão malaio.
O objectivo foi edificar uma fortaleza na colina próxima do rio, com capacidade para retaliar qualquer ofensiva. O monumento teve vários pontos de observação, quatro torres, peças de fogo, habitações para militares, um hospital, várias igrejas entre as quais, na parte alta, a St. Paul’s Church.
Esta posição foi conquistada pelos holandeses em 1641 e a entrada, a Porta de Santiago, foi renovada em 1670, a data que se encontra inscrita, bem como o selo da Companhia Holandesa das Índias.
No séc. XIX a fortaleza mudou de mãos, passou provisoriamente para os britânicos (para evitar o avanço de forças napoleónicas) mas, quando chegou a vez de devolver o teritório aos holandeses, tentaram destruir a fortaleza e desalojar muitos dos locais desta zona. Só em parte conseguiram.
Na verdade, hoje, pouco mais há do que ruínas.
O primeiro sinal de degradação surge logo na porta de Santiago, em que o ar de alguma modernidade é dado apenas por dois músicos a tocar viola e uns canhões ao lado da entrada, virados para o rio e entretanto restaurados.
A entrada encontra-se muito degradada, com paredes cheias de humidade.
De seguida há uma escadaria em direcção à St. Paul’s Church. Parece curta e de subida rápida. Puro engano. A rampa é longa e íngreme. Como é habitual, faz calor e há muita humidade, o que dificulta a caminhada.
A igreja foi construída em 1521 e também está em ruínas.
Tem várias portas, que servem de moldura para fotos em direcção à cidade. No interior, são visíveis algumas inscrições e peças de pedra, tumbas, onde são feitas evocações aos descobridores e ocupantes portugueses.
Num dos extremos, uma zona tapada, que serviu de cama a um gato que dormia sobre a história.
A igreja, inicialmente dedicada a N. S. da Anunciada, foi mandada construir pelo nobre Duarte Coelho, em sinal gratidão por ter-se salvo de uma tempestade no mar do sul da China. Depois mudaram o nome e passou a ser um dos símbolos dos jesuítas, ao construírem em volta do recinto a primeira escola na Malásia. S. Francisco Xavier chegou a Malaca em 1545 e utilizou, por cinco vezes, Malaca como base para as suas incursões missionárias na China e no Japão e os seus restos mortais estiveram aqui temporariamente – entre Março e Dezembro de 1553.
Com a administração holandesa, a igreja passou a templo protestante e foi designada de St. Paul’s Church, como também a encosta.
Depois da construção da Igreja Christ, a St. Paul’s Church perdeu relevância.
Com a saída dos holandeses, os jesuítas tiveram de deixar a cidade e a igreja entrou num processo acelerado de degradação, como quase toda esta zona fortificada.
Ficou praticamente abandonada e, só no início do séc. XX começaram trabalhos arqueológicos – onde se descobriram as tumbas – e de restauro das paredes da igreja.
Em 1952 foi colocada uma estátua de mármore de S. Francisco Xavier, ao lado da igreja, mas no dia seguinte caiu uma árvore e partiu parte do braço.
Ainda hoje está assim.
A estátua está situada numa das zonas com melhor vista para a cidade e o porto, que fica a cerca de 1 km.
É um dos locais preferidos para as fotografias e o santo serve de companheiro. Daqui temos uma melhor percepção da amplitude da cidade. Da extensão do rio, que faz a ligação da parte nova à parte antiga e classificada como Património Mundial pela UNESCO.
O porto de Malaca teve uma fase de algum desenvolvimento mas, nunca chegou a ter um papel fundamental, por razões comerciais. Os portugueses e os holandeses queriam ter o monopólio do comércio e não permitiam o comércio livre. Por outro lado, os britânicos deram preferência a Singapura.
Os jesuitas e S. Francisco Xavier são uma referência histórica e religiosa na cidade.
A comunidade jesuita regressou em meados do séc. XX , expulsa da China. Constitui uma forte comunidade católica em Malaca e um dos sinais dessa vitalidade foi a construção da igreja de S. Francisco Xavier.
Um notável edifício neo-gótico, de cores suaves, com duas enormes torres e a rosa dos ventos no meio. A igreja está numa rua discreta, pouco depois da Igreja Christ, e não é muito frequentada por turistas.
Da igreja de S. Francisco Xavier temos uma vista fantástica para o rio e para uma fila de casas, muito coloridas, quase coladas à água. A melhor forma de descobrir esta zona é num cruzeiro.
O início é num cais a que se acede através de uma rua pedestre. O cruzeiro custa 15 rupias, demora cerca de meia hora e é interessante. Permite uma visão diferente de vários pontos da cidade.
A arquitectura antiga convive com torres modernas. Avista-se uma longa via pedestre ao longo do rio, engalanada com flores.
Em alguns locais as paredes das casas estão pintadas com motivos diversos mas, sempre em tons fortes. Muitas casas de madeira, algumas delas com uma pequena escadaria decorada em frente. Mais para o fim, surge uma urbanização mais moderna, com blocos de escritórios.
Há a manifesta intenção de ter toda a área com charme, limpa (o rio tem água castanha e, aparentemente, não estava poluído) e bem decorada. Pronta para ser um postal ilustrado.
Outra forma de descobrir o rio é através de um passeio a pé.
Percebemos melhor a interacção dos locais com o rio, em particular no trecho de maior pressão turística, um espaço mais dirigido para a restauração.
Sentei-me num café/restaurante com uma esplanada à beira rio. A cozinha era escura e uma mulher confeccionava a comida com artefactos locais e rudimentares. O provável dono estava sentado numa mesa, com mais três comparsas.
Escolhi um sumo de lima mas, depois do que vi na cozinha, estive cinco minutos a olhar para o copo e a reflectir… Numa mesa ao lado, duas alemãs bebiam coca-cola com gelo.
A haver azar, seria colectivo.
Na zona histórica de Malaca é proibido fumar. No entanto, na esplanada, havia cinzeiros e vestígios de cigarros. Pedi permissão ao dono do café, ele fez sinal de concordância e na mesa fizeram um comentário sobre o cigarro, ou seja lá o que tivesse sido. Perguntei a um dos homens se lhes podia tirar uma foto. Ele reagiu com desprezo, mas levou à mesma com o disparo da objectiva…
A cidade está repleta de turistas.
Malaca é um dos principais destinos de turismo desta região.
Proliferam cartazes na Malásia a publicitar a cidade, brochuras de companhias aéreas, panfletos de empresas rodoviárias… Agências de turismo em outros países asiáticos colocam Malaca como um destino de referência.
Os principais pontos de interesse estão cheios de gente e muitos vão por transporte rodoviário.
A viagem para Malaca foi a partir de Kuala Lumpur, do Terminal Bersepadu Selatan (TBS), que fica a 10 km do centro da cidade.
O transporte de táxi não é caro. O empregado do hotel falou em 50 rupias mas o condutor levou 20, sem taxímetro. Foi simpático, fez recomendações e a principal foi para não me esquecer de comprar o bilhete de volta.
Tinha razão. Há muita gente a viajar de autocarro e quase todas as pessoas deixam o regresso para o final do dia.
Meia hora depois de comprar os bilhetes, estava a seguir viagem na Delina.
A viagem dura duas horas e muito deste tempo é despendido na entrada de Malaca, que tem um trânsito insuportável.
Além disso, a estação rodoviária fica distante do centro histórico.
Há uma companhia de transportes urbanos, a Panorama, mas não se percebe nada do circuito.
Optei pelo táxi. 20 rupias e rapidamente estava em frente da Igreja Christ e do Stadthuys.
No regresso, segui o conselho do taxista de Kuala Lumpur e consegui regressar às 18.30h. Consegui, porque outros turistas não sei como o fizeram. Por volta das 17.30h, já estava tudo esgotado.
A viagem de regresso foi num autocarro expresso, custou mais três rupias do que o regular, mas de nada valeu. O trânsito era intenso e só cheguei a Kuala Lumpur às 21h.
Em Selatan fui a pé até ao terminal ferroviário, apanhei o comboio proveniente do aeroporto até à estação Central e, de seguida, o táxi.
Antes da saída da estação tem de se pagar o táxi. O preço varia consoante a área de destino. Para o hotel Invito a tarifa era de 13 rupias.
Fácil e eficaz.
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