A expressão "caçar gambozinos" ganha uma dimensão diferente quando conhecemos este casal. Andreia e Eneas estão a explorar o mundo em conjunto desde 2015, mas foi em 2022 que decidiram que estava na altura de mudar de vida. Deixaram para trás os empregos estáveis e a vida confortável que tinham em Amesterdão para se dedicarem às viagens. Foram "caçar gambozinos" e o resultado deste percurso vão publicando numa comunidade online de viajantes, onde, além de nos inspirarem através de belos conteúdos no Instagram, também nos fazem rir com alguns dos vídeos que partilham e (não menos importante) dão uma ajuda preciosa para quem quer planear uma viagem.

Como/quando começou o “bichinho” das viagens?

Nenhum de nós vem de famílias particularmente aventureiras ou amantes de grandes viagens. Eu (Andreia) de pequena esperava ansiosa que o meu pai, na altura camionista internacional, voltasse de viagem para me contar as suas peripécias, as pessoas de outros países que havia conhecido e que prato típico novo tinha provado. Não eram histórias de viagens de lazer, mas ele contava com tamanho entusiasmo que não podia evitar sonhar com elas.

Os anos passaram e a experiência profissional de ambos passou, felizmente, por viajar bastante e ter momentos fantásticos em outros países. Eu a treinar equipas em aberturas de restaurantes além mar, o Eneas a lutar wrestling em representação da escola que havia fundado em Barcelona.

Quando nos conhecemos foi juntar a fome à vontade de comer. Tudo o que queríamos fazer com o nosso tempo livre era conhecer o mundo e estamos a fazê-lo juntos desde 2015.

Como foi o processo de se transformarem em viajantes a tempo inteiro?

Os dois já vivemos fora dos nossos países há bastantes anos, em janeiro de 2022, quando tudo começou, estávamos em Amesterdão, o último sítio a que chamámos casa. Tínhamos uma casa linda alugada no centro da cidade, boa vida social e trabalhos estáveis. Até digo mais, eu tinha alcançado o posto com que sempre tinha sonhado.

Tínhamos oficialmente 33 anos e uma vida confortável. Mas o confortável começa a soar desconfortável quanto mais se pensa nele. Vimos como era normal para jovens holandeses tirarem um ano sabático para descobrir o que “queriam ser quando fossem grandes”, enquanto nós já éramos “grandes”, mas nunca tínhamos tido tempo para parar e pensar. Culturas diferentes e estilos de vida diferentes, lá está. Mas a ideia não nos abandonou.

Tínhamos poupado dinheiro a trabalhar tantos anos na esperança de algum dia poder comprar algo que fosse nosso, quiçá uma casa. Mas em setembro de 2022 compramos com esse dinheiro (que certamente não daria para uma casa nos dias de hoje) a nossa liberdade. Vendemos tudo o que tínhamos, dissemos adeus ao nosso apartamento e só guardamos o que nos cabia nas mochilas.

O que começou como a aventura das nossas vidas, deu origem a uma comunidade de viajantes, a um desejo de partilhar informação atualizada com aqueles que estão a ponto de explorar o mundo e imagens de sítios de sonho com aqueles que viajam dos seus sofás. Impulsionado pelas dicas que partilhávamos e perguntas que nos faziam no Instagram @chasinggambozinos , nasceu o nosso website de viagens https://www.chasinggambozinos.com/pt.

De que forma tentam inspirar os seus seguidores no Instagram?

Tentamos inspirar os seguidores do Chasing Gambozinos a sair da sua zona de conforto e explorar, seja outro continente ou a cidade em que nasceram.

Focamo-nos em proporcionar o máximo de informação possível sobre cada sítio que visitamos, seja esta positiva ou negativa, com a intenção de incentivar a conversa e que as pessoas pensem se tal experiência é para si ou não.

As viagens são o que fazemos delas e duas pessoas podem ter duas experiências completamente opostas numa mesma cidade. O Instagram por vezes pode ser uma plataforma traiçoeira nesse aspecto, pois as fotografias por vezes criam expectativas desmedidas. Sim, adoramos fotografia e esforçamo-nos por fazer fotografias das quais temos orgulho, mas isso não invalida que todos os sítios têm uma história por contar e é nisso que nos focamos.

Gostamos de partilhar curiosidades, lendas e histórias, bem como informação útil ou as nossas experiências num determinado lugar. Nas publicações do Instagram partilhamos as fotografias/vídeos e curiosidades, nas stories as nossas peripécias diárias e no blogue os guias detalhados por detrás de cada aventura, para facilitar a aventura de outros.

Além de viajar, gostam muito de…

Comer! Ai gostamos TANTO de comer! É cliché? Se calhar. É uma necessidade básica e portanto uma resposta duvidosa? Pois, provavelmente. Mas é que está ali-ali com o nosso amor por viajar.

Para além de adorarmos experimentar comida nova, recuperámos nos últimos anos duas paixões que tínhamos deixado adormecidas há muito tempo: fotografia e escrita. Tudo bons parceiros de viagem, diga-se de passagem.

Viagens mais marcantes e porquê?

A viagem sem regresso na qual estamos até ao dia de hoje. Não há como bater esta experiência. É um privilégio poder viajar e aprender sobre outras culturas, porém, no processo acabámos por aprender mais de nós. Saímos em busca de uma aventura e hoje podemos dizer que é um estilo de vida. Passado alguns meses a viajar saímos do registo “férias” e entrámos em modo “como podemos fazer isto durar” e tem sido uma roda viva desde então a sair cada vez mais da zona de conforto e a tentarmos aprender sobre áreas diversas que nos permitam a longo prazo poder continuar a viajar.

Graças a esta viagem, criámos um website do zero, sem experiência prévia alguma (do qual temos muito orgulho) e tivemos a oportunidade de começar a criar itinerários personalizados para outras pessoas e ajudá-las a explorar o mundo da maneira mais segura e memorável possível.

Esta está a ser, literalmente, a viagem das nossas vidas.

Destino que querem regressar e porquê?

Quase todos os destinos nos marcaram de alguma maneira e fica sempre muito por ver. Sentimos que visitar uma cidade nunca é suficiente para dizermos que visitámos um país e por isso esta pergunta nos é tão difícil de responder. Porém, temos a certeza que vamos regressar ao Japão e ao Sri Lanka.

Maior peripécia, susto ou experiência marcante que já passaram em viagem?

Já tivemos suficientes para escrever uns quantos livros sobre o assunto. Fomos “abandonados” em alto mar na Indonésia pelo nosso barco (sobrevivemos claramente, mas foi assustador); acreditámos ser mais resistentes ao frio do que realmente somos, o que nos fez ir mal preparados para uma aventura na fronteira entre o Vietname e a China (nunca batemos tanto o dente na nossa vida); torci o pé a entrar num ferry em Java no dia antes de subirmos a pé um vulcão ativo, parecia um melão (custou, mas subi!), entre muitas aventuras mais.

Em tantos anos de viagem ter algumas destas histórias é normal e não deixa de ser engraçado. Porém, para que não pareça que só contamos sustos e peripécias, no que toca a experiência mais marcante, vai ser difícil bater termos conduzido o nosso própria tuk tuk Sri Lanka fora. Foi a melhor maneira de explorar o país e estar mais perto das pessoas e cultura local.

O primeiro destino da “bucket list” das próximas viagens.

Temos a síndrome do “bucket” sem fundo! Depois de um par de meses em Portugal com a família, voltamos para a nossa segunda casa, a Ásia. Vamos viajar mais devagar, pois temos que trabalhar em simultâneo, mas um dos destinos que ainda não visitámos e queremos explorar é o Borneo. Queremos muito ver orangotangos no seu habitat natural.

Dica de viagem mais valiosa que podem dar.

As melhores dicas de viagem teriam que ser: viaja com a mente aberta e planeia, mas sê flexível. É importante viajar com o desejo de conhecer mais, de ver mais, de provar mais. Cada vez mais vemos o crescimento do turismo “da foto perfeita” e no processo as pessoas não desfrutam da verdadeira magia de viajar, que é terem o privilégio de desfrutar de uma nova cultura e entorno. Viajar de mente aberta mudou a nossa maneira de estar, tanto em viagem, como em casa.

Planear é muito bonito, mas nem todo o planeamento do mundo vai prevenir imprevistos. É importante aceitar isso como um facto e ser flexível, não entrando em pânico quando o plano saia dos eixos. Às vezes, é assim que nascem as melhores memórias.

Por último, não é tanto uma dica, mas mais um recordatório, de viajarmos para fora com o mesmo respeito que viajamos cá dentro. Viajar para outros países é como ser bem-vindos à casa de um desconhecido. Ter respeito pela sua casa e pela sua família, é fundamental.

Lugar preferido em Portugal.

Podiam ter deixado uma pergunta mais fácil para o final! O meu lugar preferido de Portugal será sempre a Ilha do Farol no Algarve, foi onde passei todos os meus verões de pequena e tenho-lhe um carinho enorme. Porém, para darmos uma resposta em casal, diríamos Lisboa porque sabe a casa (a família é da zona centro e é onde passamos mais tempo) e o Porto por ser o nosso paraíso gastronómico.