Confesso que, no México, a primeira palavra a aparecer na minha mente foi bem diferente e soava algo como ‘tacos, tortilhas e picante’. Apesar disso, todos sabemos que o México tem uma costa gigante tanto do lado do Oceano Pacífico como do lado do Oceano Atlântico e, isso, levou-me a pensar que existem praias dignas de serem visitadas.

Não era de todo o que mais procurava experienciar estando no México, mas não consegui planear uma viagem ao país dos ‘tacos’ e das ‘tortilhas’ sem ver as suas praias por muito que estas não sejam o ‘diamante mexicano’.

Sem mais demoras, apresento um conjunto de três localidades, bem perto umas das outras, onde é possível sentir ‘vibes’ completamente distintas aquando da sua visita. São elas Puerto Escondido (surf a toda a hora), Chacahua (longe de tudo e todos) e Mazunte (ecoturismo e banhos de sol).

Puerto Escondido, Chacahua e  Mazunte encontram-se na costa do Oceano Pacífico pelo que quem visita o México vindo da capital, Cidade do México, será mais fácil o acesso e menor o tempo de viagem para chegar a estes destinos de sonho.

Inicialmente, a ideia seria apenas visitar a localidade mais famosa destas três, Puerto Escondido, mas como é obvio quando se viaja por algum tempo sem bilhete de volta, os planos mudam. E ainda bem que mudaram, porque as três merecem uma visita por terem tanto de espetacular como de diferente umas das outras.

Do México à Patagónia: Puerto Escondido, Mazunte e Chacahua
Puerto Escondido. Foto: Miguel Marques

Puerto Escondido, o local perfeito para os amantes de surf

Infelizmente, na minha juventude nunca tive a oportunidade de praticar surf com a regularidade que este desporto exige para que me considere um surfista, mas se surf é o que se procura, Puerto Escondido é o local. As ondas da praia principal de Puerto Escondido, Zicatela,  estão entre as melhores do mundo para a prática da modalidade e até mesmo para aqueles que só querem assistir é quase certo que o show irá ser de qualidade. Zicatela tem uma extensão de aproximadamente três quilómetros e todos os anos é palco de competições de surf a nível mundial existindo surfistas que voam de propósito para a prática de surf quando a previsão das ondas assim o justifica, tal é a qualidade das mesmas! No entanto, existem também locais e ondas mais aconselhadas para os amadores e até para queles que nunca fizeram surf e querem aprender.  A praia Zicatela não é o local ideal para ir a banhos uma vez que quase sempre a bandeira está vermelha, mas, no lado oposto a Puerto Escondido, encontra-se uma zona da praia chamada de ‘La Punta’, onde as ondas são consideravelmente menores e os iniciantes se juntam todos os dias às dezenas para apanhar as famosas ondas. Aqui é possível dar uns mergulhos ainda que com algum cuidado. La Punta é também a zona mais turística da praia Zicatela onde a vibe surfista é sentida em todo o lado. Pessoas de chinelo no dedo caminham nas ruas por entre os mais variados restaurantes, hosteis e hotéis ao som de música de todos os tipos e usufruem do ambiente que Zicatela tem para oferecer, quer seja durante o dia, quer seja durante a noite. Sim, porque assim que sol se põe, existe todo um menu de festas dos mais variados tipos a acontecer diariamente. Se por outro lado a ideia for iniciar a prática de surf, as praias localizadas por entre as falésias da pequena cidade de Puerto Escondido são as melhores. Destaco a praia ‘Carrizalillo’. Uma praia ao estilo das praias portuguesas em Lagos, Carrizalillo é uma pequena praia que se encontra numa falésia e é normal que se a chegada a este local for feita já durante a tarde, seja difícil encontrar um espaço para esticar a toalha. Ainda assim, quem vai para aprender a surfar não vai para se deitar ao sol e assim sendo isso não será um problema. No final, em Puerto Escondido, o que interessa é ter permanentemente a palavra ‘surf’ na nossa mente, a prancha debaixo do braço, e a coragem para nos aventurarmos neste fantástico desporto.

Do México à Patagónia: Puerto Escondido, Mazunte e Chacahua
Chacahua. Foto: Miguel Marques

Chacahua, o lugar ideal para nos desligarmos do mundo

Depois de ter passado quatro noites em Puerto Escondido, aconselhado por uma viajante, decidi visitar a pequena localidade de ‘Chacahua’. Nunca tinha ouvido falar do local, mas as palavras ‘hippie’ e ‘remoto’ estavam associadas a esta experiência e isso despertava o meu interesse. Para se chegar a Chacahua, de Puerto Escondido, são necessários apanhar quatro meios de transporte sendo eles dois coletivos (pequenas carrinhas de transporte), um táxi, e uma pequena lancha. Localizada no ‘Parque Nacional das Lagoas de Chacahua’, a aldeia é procurada principalmente por um público mais ao estilo hippie e por surfistas (mais uma vez). No entanto, as lagoas do parque nacional são visitadas diariamente por dezenas de pessoas que realizam tours para observar toda a fauna e flora que por lá se encontram e, a título de curiosidade, este parque nacional foi a primeira área protegida com ecossistemas tropicais decretada no México ainda no ano de 1937! Considero a minha estadia em Chacahua, no mínimo, interessante. O meu objetivo não era explorar o parque nacional, mas sim a pequena aldeia de Chacahua e sentir na pele a sua energia hippie. Existem aspectos que, na minha opinião, definem a sua diferença com qualquer outro destino de praia que visitei no México.

Em Chacahua não existe rede móvel e o wifi é de muita má qualidade (o pior que apanhei em toda a minha vida), e os locais onde é possível ficar a dormir são na sua grande maioria cabanas, tendas e camas de rede ao longo da praia. Os preços da dormida variam entre os 2.5€ (!) por noite para as camas de rede até 100€ nas cabanas mais luxuosas ao longo da praia (aquando da escrita deste texto).

Se a ideia for dormir em qualquer uma das tendas, camas de rede ou cabanas (das mais baratas), é muito difícil encontrar informação online para reservar um destes locais. Mas não é preciso entrar em pânico, chegado ao local e depois de percorrer a praia por umas dezenas de metros, perguntando em todos os sítios que possuem estas opções, é extremamente fácil encontrar algo disponível. É necessário ter em conta que, devido à natureza do espaço e à qualidade de construção das opções mais baratas, é possível que se durma juntamente com uma ou outra barata a caminhar pelo quarto e um ou outro lagarto colado na parede do mesmo. Mas não há mal, afinal de contas, dormir em sintonia com a natureza é das melhores coisas da vida e, tudo isto, faz parte da experiência que é possível viver em Chacahua. A aldeia é extremamente pequena, com uma mão cheia de opções no que diz respeito a restaurantes e com meia dúzia de pequenos mini-mercados onde é possível comprar o essencial. Os turistas são poucos e isso faz com que a aldeia permaneça intacta desde há muitos anos no que diz respeito a turismo. Tive a oportunidade de conhecer uma pessoa que lá vive há cerca de 7 anos, mas que visitou Chacahua pela primeira vez há cerca de 20 anos atrás e, segundo ela, as mudanças são poucas. Como disse anteriormente, não pratico surf. Assim, os meus dias em Chacahua foram passados entre as camas de rede, banhos de sol e mergulhos no mar. Chacahua é o lugar ideal para nos desligarmos do mundo.

Do México à Patagónia: Puerto Escondido, Mazunte e Chacahua
Mazunte. Foto: Miguel Marques

Mazunte, um "pueblo mágico"

Depois de quatro dias em Chacahua, era tempo de voltar a realidade e seguir viagem para o próximo destino de praia, Mazunte. Considerado um dos ‘Pueblos Magicos’ do México, por manter a sua arquitetura, história, tradição e cultura, este é um lugar onde é fácil encontrar pessoas que decidiram um dia visitar esta aldeia e por lá ficaram até aos dias de hoje. Após ter sido considerado um dos ‘Pueblos Magicos’ do Mexico em 2015, aquele que era um destino considerado secundário a nível de turismo, está hoje em dia ao nível de lugares mais conhecidos como Cancun ou Tulum.

Se a ideia for fugir das grandes zonas turísticas desta área costeira do México, mas ao mesmo tempo conseguir usufruir de um bom hotel ou Airbnb extremamente perto da praia, Mazunte é o lugar ideal. A vibração espiritual e hippie é ainda forte neste lugar e isso é evidente nos retiros de Yoga e meditação de Mazunte, bem como na indústria de ecoturismo e nos produtos de beleza natural feitos localmente. Mazunte é considerado como que um refúgio que tem estado debaixo do olho de muita gente que procura este tipo de férias.

A parte gastronómica é algo que também não fica atrás em termos de qualidade, uma vez que é possível encontrar os mais variados tipos de cozinha por entre as pacatas ruas de Mazunte.

Do México à Patagónia: Puerto Escondido, Mazunte e Chacahua
Chacahua. Foto: Miguel Marques

Onde se encontra a melhor praia?

Entre as três localidades, a minha praia favorita é a da pacata aldeia de Chacahua. Puerto Escondido e Mazunte são praias demasiado frequentadas por turistas e estes lugares são algo que não procuro durante a minha viagem até à Patagónia. Ainda assim, estes dois pequenos ‘diamantes’ merecem destaque pelas suas qualidades e beleza natural e tenho a certeza que farão muitos turistas sentirem-se em casa. Especialmente, aqueles que não se sentem confortáveis a aventurar-se em áreas menos conhecidas e frequentadas como Chacahua. Eu, como sou uma pessoa que gosta de ter o seu sossego e procura encontrar sítios e locais mais remotos, não consigo deixar de ter Chacahua como um dos meus lugares favoritos por onde passei no México.

Para além de que, devido a esta pequena aldeia, voltei a ter uma experiência que já há muito tempo eu não tinha na vida. Passei quatro dias sem mexer no meu telemóvel e isso fez-me realmente apreciar o lugar de uma maneira completamente diferente até então e creio que esta mudança veio para ficar. Tenho estado consideravelmente mais desconectado do mundo virtual e quase que só o uso para partilhar com regularidade esta experiência que estou a ter de viajar até à Patagónia com os meus seguidores. No início desta viagem prometi que iria fazer quem me seguisse viajar e é isso que tenho feito desde que comecei esta aventura.

Sobre Miguel Marques

Miguel Marques está desde junho a descobrir o México, o primeiro destino de uma viagem pela América Latina que terminará na Patagónia. De mochila às costas e sem intenção de gastar muito dinheiro, o viajante quer evitar lugares e atrações populares.  Será que vai conseguir? Acompanhe as aventuras no SAPO Viagens.

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