Por Patrícia Campos, líder de viagens na The Wanderlust e autora do blog Looking Around

A maioria dos viajantes começa em Uyuni, na Bolívia, uma pequena povoação nas imediações do deserto. Este é o ponto de partida, aqui preparam-se os jipes, compram-se os últimos petiscos para levar na bagagem, os mais despassarados adquirem à última hora agasalhos para o frio que se adivinha e despedimo-nos da civilização. Os próximos dias são de imersão na Natureza.

Deserto de sal

Sob o céu arqueado do altiplano boliviano, a mais de 3.600 m de altitude, encontra-se o Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo. Um tapete branco, riquíssimo em lítio, numa área de mais de 12.000 quilómetros quadrados.

Deserto de sal
Deserto de sal créditos: Patrícia Campos

Na época seca, o céu brilha com tanta força que quase estala os hexágonos de sal; na época das chuvas, o deserto transforma-se num gigante espelho de água. Não há paisagem mais bela que esta! Percorremos quilómetros e quilómetros observando na linha do horizonte alguns jipes minúsculos, uma linha branca que parece não ter fim.

É possível visitar a Isla Incahuasi, marcada por cactos bem altos, de onde é possível ter uma visão panorâmica de 360 graus sobre o deserto. Sentimo-nos pequenos na imensidão!

Com o anoitecer, aproxima-se um dos momentos mais especiais de viajar pelo Deserto de Uyuni: observar um dos pôres-do-sol mais magníficos do mundo, seguido da noite pontilhada por milhões de estrelas incandescentes.

Lagoas multicolores

O segundo dia é provavelmente um dos pontos mais altos para os aventureiros que se juntam a esta expedição.

A viagem começa bem cedo, percorrendo desertos áridos, entre caminhos que não estão marcados, num silêncio apenas interrompido pelos ventos agrestes. A paisagem surpreende em cada abrir de montanhas. Avistam-se lagoas, vulcões, vicunhas, raposas e milhares de flamingos.

Lagoas multicolores
Lagoas multicolores créditos: Patrícia Campos

A Lagoa Colorada é provavelmente uma das paragens mais indescritíveis. Uma lagoa rosada, localizada na grande área protegida da Reserva Florestal de Fauna Andina Eduardo Avaroa, com 7150 km² de extensão. Uma das áreas de maior biodiversidade do mundo. Noutro ponto, avistam-se os géisers de Sol da la Mañana. As fumarolas alcançam uma altura acima dos 10 metros e estão a altas temperaturas, levando a imaginação para o centro da terra.

As viagens são feitas ao som e ritmo da música andina, escolhida pelas mãos dos guias que acompanham a expedição. Nas águas termais de Polques, é tempo de relaxar, e uma vez mais o coração rende-se a este cenário. No alto, o universo, que aqui parece caber todo dentro do nosso olhar: contam-se as estrelas cadentes até esgotar todos os sonhos.

San Pedro Atacama

A mais de cinco mil metros de altitude, a expedição segue até ao Deserto de Salvador Dalí. Não se sabe exatamente quando o artista terá passado por aqui, mas sabe-se que a visão das rochas emergindo das areias terá sido tão surreal que se tornou numa inspiração para as suas pinturas.

San Pedro Atacama
San Pedro Atacama créditos: Patrícia Campos

Ao cruzar a fronteira, começa a descida para a povoação de San Pedro de Atacama, no Chile. Situada a 2400 metros de altitude, é o epicentro do mais seco, vasto e misterioso deserto de Atacama. A aventura termina aqui, de onde se segue para novas paragens.

No coração deste périplo pelo altiplano boliviano está a proximidade única com a Terra, a desolação soprada pelo vento e horizontes que parecem derreter nas linhas do esquecimento. É uma viagem que nos leva ao encontro com a Natureza, que nos leva à valorização da simplicidade, que nos faz esquecer os telefones e os problemas, e desejar passar ali uma eternidade.