Uma história franco-britânica

A França, que decapitou alguns dos seus próprios reis, mantém há algum tempo uma relação estreita com a realeza britânica, a qual recebe em Versalhes nos últimos 170 anos.

Em 1855, o imperador Napoleão III organizou um baile com 1.200 convidados em Versalhes para a visita da rainha Victoria, a primeira viagem a Paris de um monarca britânico em 400 anos.

Quase um século depois, quando a Europa estava à beira da Segunda Guerra Mundial em 1938, o rei George VI e sua esposa, Elizabeth, foram recebidos em Versalhes para um almoço.

A sua filha, a rainha Elizabeth II, realizou, menos de duas décadas depois, a sua primeira visita oficial à França ao lado do seu esposo, Philip.

Após uma noite na ópera de Paris, aquela que se tornaria a monarca mais longeva do Reino Unido, almoçou na grande joia de Versalhes, a deslumbrante Galeria dos Espelhos.

No final, o "foie gras"

Como se o ouro e os espelhos não fossem suficientes, a França sempre tentou conquistar os seus convidados pelo estômago.

No entanto, Victoria, conhecida pelo seu apetite voraz, escreveu em 1855 que "ainda que a ave e o caldo estivessem bastante deliciosos", a cozinha francesa tinha "menos variedade" do que a britânica.

Em 1903, o seu filho, Edward VII, foi recebido com um banquete de 16 pratos, uma quantidade reduzida a quatro ou cinco nos tempos de Elizabeth II, embora com uma iguaria recorrente: o "foie gras".

É pouco provável que este controverso patê, obtido por meio da alimentação forçada de patos e gansos, esteja no cardápio de Charles III, que o proibiu no seu palácio.

Ao serviço da República

Versalhes também tem sido o local para a recepção de muitos ilustres plebeus.

Nos anos do pós-guerra, o presidente Charles de Gaulle escolheu o palácio para receber John F. Kennedy e Richard Nixon quando eram presidentes dos Estados Unidos.

Em 1973, o seu sucessor, Georges Pompidou, convidou o presidente mexicano, Luis Echeverría, que pôde degustar um jantar em Versalhes, seguido de um espetáculo de ballet.

Os dois mandatários concordaram, então, reforçar "o desenvolvimento da cooperação franco-mexicana", segundo uma reportagem da AFP após a visita.

No entanto, os mandatários franceses Nicolas Sarkozy e François Hollande recorreram poucas vezes a Versalhes, com exceção do ditador líbio, Muammar Kadhafi, morto em 2011, no caso do primeiro, e do presidente chinês, Xi Jinping, no do segundo.

Emmanuel Macron retomou a tradição, recebendo em 2017 o presidente russo, Vladimir Putin, e mais recentemente potenciais investidores, entre eles Elon Musk, fundador da Tesla e proprietário da rede social X (antigo Twitter).